João Anatalino

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LOJAS DE SÃO JOÃO-ESTUDOS MAÇÔNICOS

Lojas de São João


Maçonaria azul é a denominação dada as chamadas Lojas Simbólicas, onde se praticam os três primeiros graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre. O Rito Escocês Antigo e Aceito chama a essas Lojas, Lojas de São João. Não se sabe exatamente qual é o São João que patrocina a Maçonaria. Alguns autores afirmam ser o São João Evangelista, outros dizem ser o Batista. Há os que dizem ser o São João “Esmoler”, fundador da Ordem do Hospital de São João, durante as Cruzadas.
Essa crença foi disseminada principalmente por Ransay, que no seu famoso discurso, afirmou a existência de uma interação entre as Lojas Maçônicas e os cavaleiros membros do Hospital de São João, ocorrida por ocasião da primeira cruzada. “Certo tempo depois, nossa Ordem se uniu com os Cavaleiros de São João de Jerusalém”, diz Ransay. “ Desde então, nossas Lojas todas trouxeram o nome de Lojas de São João. Essa união foi feita a exemplo dos israelitas quando construíram o Segundo Templo. Enquanto manipulavam a trolha e a argamassa com uma mão, traziam na outra o escudo e a espada”.

Quem era esse São João ele não diz, mas não é difícil descobrir, pois quem fundou a Ordem dos Hospitalários foi exatamente o São João “Esmoler”, filho do rei de Rodes, que se deslocou para a Terra Santa junto com a primeira Cruzada para ali servir como monge. A Ordem dos Hospitalários tornou-se uma das mais importantes instituições a serviço dos cristãos na Terra Santa, e depois do término das Cruzadas, esses Irmãos cavaleiros continuaram a servir a humanidade, espalhando pela Europa inteira os seus hospitais. Com a dissolução da Ordem dos Templários, em 1312, muitos dos membros sobreviventes se filiaram aos Hospitalários. Estes não foram incomodados pela Igreja nem pelas autoridades seculares, e na maioria dos países latinos, especialmente Portugal e Espanha, os Hospitalários foram os principais responsáveis pelos serviços de saúde desenvolvidos nesses países. As instituições conhecidas como Santas Casas de Misericórdia são o resultado do trabalho desses antigos Irmãos. Por isso, ainda hoje, nas Lojas Simbólicas se conserva a tradição de manter um Imão Hospitalário pararecolher as contribuições para o “Hospital”.
Quanto ao São João Evangelista, o seu nome como patrocinador da Maçonaria só aparece a partir da introdução dos temas gnósticos em seus ritos, ocorridos a partir do advento da transição do ritual operativo para o especulativo.
São João Evangelista é um santo de grande prestígio entre os esoteristas. Ele é tido como verdadeiro introdutor da Gnose cristã na Bíblia. Seu evangelho é francamente inspirado em temas gnósticos, e a ser verdadeiro que ele também é o autor do Apocalipse, então não há qualquer dúvida que ele foi, realmente, um pensador formado naquela escola.




O Apocalipse é, francamente, um livro de inspiração gnóstica. Os temas cristãos ali tratados são desenvolvidos no estilo daquela escola de pensamento e tem uma forte influência da Cabala. A maioria dos historiadores acredita que o São João Evangelista tenha sido, na verdade, um rabino judeu convertido ao Cristianismo, já que tanto o Evangelho de São João, quanto o Apocalipse apresenta claros traços da filosofia dominante entre os cristãos gnósticos dos primeiro e segundo séculos, época em que predominava o gnosticismo cristão, temperado por uma forte influência cabalística.
Já as alusões a São João Batista, entretanto, já são mais antigas. Elas provém de tradições medievais, nas quais esse santo era homenageado com grandes festas. Na Escócia, segundo informa Jean Palou, a festa de São João Evangelista era celebrada pelos maçons escoceses em 27 de dezembro, época em que se escolhiam o Supervisor (Venerável Mestre), seus diáconos e oficiais para presidirem a Loja. São João Batista também é um personagem muito venerado entre os gnósticos. Para algumas seitas, inclusive, ele seria o verdadeiro Messias, e não Jesus, como pregam os Evangelhos.
Para os discípulos de Hermes, São João Batista é um símbolo de grande significado. Como “precursor” da Grande Obra de redenção universal, realizada por Jesus, ele simboliza o “mediador”, aquele que tem a missão de “abrir” a porta da iniciação, da mesma forma que o vitríolo fiilosófico. Por isso, na iconografia alquímica, esse composto é representado por uma caveira num prato de prata, significando que é preciso o sacrifício dessa matéria para que a bela Salomé (símbolo da natureza), possa apresentar-se ao adepto em toda sua deslumbrante nudez.
Daí o porquê de pensarmos que a escolha de São João Batista para patrocinador das Lojas Simbólicas tem sua fundamentação em temas alquímicos. Esse santo, que provavelmente foi um adepto da seita dos essênios, é considerado pelos esotéricos um mediador das duas estruturas cósmicas, representadas pelas partes, material e espiritual. Ele preside, na tradição romântica dos povos ocidentais, a união dos cônjuges, quando esta se consuma na noite a ele consagrada (24 de junho).
Para a Maçonaria, a tradição de invocar esse santo como patrocinador, teria o condão de despertar a sua mediação para a realização da transmutação do caráter profano do recipiendário, para o estado de consciência superior que caracteriza o iniciado. Essa idéia é interessante porquanto São João Batista é o introdutor do Cristianismo. Foi ele o “Mestre” que iniciou Jesus. Na verdade, foi ele também que rompeu as velhas estruturas do Judaísmo, inaugurando uma nova era teológica, na qual o Verdadeiro Deus, o Deus de Israel, deixava de ser um deus local, confinado á um povo, para ser um Deus universal, pai de toda a criação .
João Batista, com seu batismo em água, antecedeu o batismo em fogo que Jesus traria em seguida. Observe-se que essa simbologia foi apropriada na iniciação maçônica, na qual o recipiendário é purificado primeiro pela água e depois pelo fogo. Nesse simbolismo também se pode identificar o processo alquímico operatório, pois a “matéria prima da obra” não pode ser levada ao fogo antes de ser convenientemente purificada pela água.

Seja qual for o São João o santo protetor da Maçonaria, é evidente que cada um deles, por sua vida, obra e doutrina, tem muito a ver com a tradição maçônica. Seja o ascético João Batista, o filósofo gnóstico João, O Evangelista, ou o filantropo João, O Esmoler, todos eles são lídimos representantes da tradição maçônica.

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1. Jean Palou-A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática, pg. 72
2. A seita dos Mandeanos, que sobrevive em algumas regiões da Pérsia, ainda conservam essa tradição. Embora os Evangelhos sustentem que João Batista reconheceu e indicou Jesus como sendo o Messias que havia de vir, historicamente, porém, registra-se uma certa rivalidade entre os discípulos dele e os cristãos. Essa rivalidade foi referida por Philo de Alexandria e por diversos escritores antigos, como Plínio, o Velho.

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DO LIVRO CONHECENDO A ARTE REAL- MADRAS, SÃO APULO- 2007
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 29/05/2011
Alterado em 24/06/2011


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