João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


A MORTE DO ALQUIMISTA

Os alquimistas eram filósofos naturalistas que passavam a vida estudando os processos pelos quais a natureza produz as suas realidades. Esotéricos, seus métodos de pesquisa e trabalho, não raras vezes, eram comparados a rituais religiosos, dada a profunda espiritualidade que colocavam neles. Por isso, era comum equipará-los aos magos e bruxos, muito comuns na época.
Mas na verdade, os alquimistas eram verdadeiros cientistas e homens de extraordinário gabarito intelectual e elevado senso de moral e humanismo. Personagens como Teofrasto Paracelso, Nicolas Flamel, Basile Valentin, Roger Bacon, Alberto Magno, Jean Baptiste Van Helmont, Johan Valentin Andreas, só para citar alguns, deixaram seus nomes na História com grandes feitos na área da ciência e da filosofia.
A tradição dos alquimistas está ligada à lenda da Pedra Filosofal, composto químico que teria a propriedade de transformar metais comuns em ouro. Assim, toda a ingente labuta dos sábios discípulos de Hermes, trabalhando dia e noite, anos a fio, em seus laboratórios, repetindo milhares de vezes a mesma operação, teria em mira exclusivamente esse objetivo: aprender a fabricar ouro. Mas isso não é verdade. O verdadeiro objetivo do alquimista era, como dizia Nicolas Flamel, talvez mais famoso de todos eles, “apanhar a natureza em pleno delito de criação”. Essa bela e poética metáfora significa simplesmente que o alquimista, na verdade, vivia à procura da única e verdadeira ciência que um ser humano deve aprender, ou seja, o processo pelo qual a natureza trabalha para produzir seus fenômenos. Toda a sua ingente procura, a sua aparente demencial labuta no laboratório para transformar um metal comum em metal nobre não tinha outro objetivo que não descobrir esse segredo que a natureza só revela aos seus “escolhidos”.

Essa alusão a esses antigos e estranhos filósofos naturalistas me veio à baila por ocasião do funeral do meu velho e querido amigo Mauro Ottoni Martins, farmacêutico de profissão, humanista por convicção e filósofo por vocação. Eu brincava com ele, chamando-o de alquimista. E não é a toa. Ele morreu com noventa e um anos, depois de uma longa vida dedicada à sua profissão de farmacêutico e à obras humanísticas realizadas para a comunidade de Mogi das Cruzes. E havia ainda a sua proverbial sabedoria, sempre repassada aos mais jovens, através de ricos e bem fundamentados conselhos. Por isso eu o comparava a esses nossos velhos e sábios filósofos, muitas vezes mal compreendidos, que criaram a ciência moderna.
Mauro era um cavalheiro da velha escola. Gentil, simpático e afável. Com um sorriso nos lábios e uma frase de efeito positivo para temperar com molhos de otimismo qualquer situação que se afigurasse mais complicada, ele sempre acrescentava algo de útil e agradável nos ambientes que freqüentava.
Noventa e um anos, aliás, é idade de alquimista. E Mauro era um farmacêutico à antiga, que por tradição, sabia e atuava tanto quanto um médico, aplicando na sua arte uma dose tão grande de humanismo, que sua farmácia, em tempos idos, era mais procurada que os raros postos de saúde da região.
Uma das lendas que envolvem a prática da alquimia é a de que o operador alquímico, na sua labuta, além da Pedra Filosofal, artefato capaz de transformar metais comuns em ouro, geralmente descobre também o Elixir da Longa Vida, um composto capaz de prolongar, por muito tempo, a vida do pesquisador. Essa é outra analogia que nos lembra o nosso querido Mauro. O Elixir da Longa Vida, dos alquimistas, é uma fórmula que só muitos poucos estudiosos conseguiram preparar, segundo a lenda. Mas na verdade, esse preparado maravilhoso nada mais é do que uma vida sem mácula, dedicada ao serviço do próximo. E isso foi o que Mauro fez a vida inteira. Como Leão e como Maçom, honrou essas duas instituições. E como ser humano foi um modelo a imitar. Assim, Se existe alguém que conseguiu, na verdade, descobrir essa fórmula milagrosa, foi ele. E ela está á disposição de todos os homens de boa vontade.
Ao velho e querido amigo alquimista Mauro Ottoni Martins as nossas homenagens. Que o Mestre Arcano Superior lhe conceda, no céu, as honras merecidas. Nós aqui na terra o saudamos e o honramos pela fiel cumprimento da sua missão.




João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 29/06/2011
Alterado em 29/06/2011


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras