João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


MISTÉRIOS DA ARTE REAL



INTRODUÇÃO- O REINO DE ENTELÉQUIA
 
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Quem está familiarizado com a filosofia de Aristóteles certamente não vai estranhar o título de introdução deste livro e logo compreenderá a razão, pois sabe o que significa o termo Enteléquia.  Esse termo designa a energia que existe em todos os seres da natureza para levá-la a sua forma mais perfeita. Formada pelo prefixo en (o que está dentro), télos (objetivo, realização, acabamento) e o radical do verbo ékhô,(trago em mim, possuo), o vocábulo grego entélékhéia significa a qualidade do ser que tem em si mesmo a capacidade de promover o seu próprio desenvolvimento.
Reino de Enteléquia é uma expressão cunhada pelo alquimista Francois Rabelais, para designar o trabalho do discípulo de Hermes na procura da pedra filosofal.[1]
É, como se pode intuir, um termo que já de início inspira uma série de especulações, tanto no campo das realidades físicas quanto espirituais. Grosso modo, se quisermos dar a esse conceito uma amplitude que muitos poderão achar licenciosas, mas que nós consideramos perfeitamente cabíveis, diríamos que enteléquia pode ser considerada como algo análogo ao nosso DNA, que na estrutura biológica dos seres humanos determina a conformação física que ele poderá adquirir na sua história de vida, e no terreno espiritual, ao que chamamos de alma, ou seja, aquela força que, internamente, movimenta o ser em sua atividade psíquica.
Em todas as formas do ser – física ou espiritual− enteléquia é a potência que o move para o seu fim e o realiza como parte constitutiva do todo universal. Em qualquer elemento da natureza, seja ele mineral, vegetal ou animal, existe esse “programa” único, original e fundamental que o dirige e o conforma para uma finalidade pré-determinada pelo Grande Princípio que rege a formação das realidades universais. É ele que faz um mineral assumir a forma e função que lhe cabe dentro do reino a que pertence; também informa as propriedades e as funções de cada organismo no reino vegetal ou animal. E por conseqüência preside igualmente as realizações do espírito, conduzindo o homem à plenitude da sua arte, da sua técnica ou ciência.
Também é pela enteléquia que o organismo do doente recupera o seu equilíbrio natural, reconduzindo-o à saúde; e no terreno das realidades espirituais é o que leva o iniciado, o recipiendário das verdades iniciáticas, à luz da iluminação.
 
De uma forma geral, toda a atividade do espírito humano é dirigida para a tarefa de descobrir como funciona esse princípio organizador dos processos que regem a produção e a organização das realidades universais. Os cientistas o procuram no infinitamente pequeno, estudando a estrutura e o comportamento das mais ínfimas partículas da matéria física. Os espiritualistas o perseguem nas relações que a nossa mente estabelece com o mundo das realidades sutis. Mas de qualquer forma, todo conhecimento é visto como resultado da busca desse tesouro, que embora oculto, se manifesta nas realizações de todo ser.
Em nosso entender, não é outra coisa que todo individuo busca, seja na liturgia das religiões ortodoxas, seja na prática iniciática de grupos pára religiosos, que através de suas místicas concepções filosóficas e rituais, tentam penetrar no território das realidades não acessíveis ao raciocínio lógico.
Cremos não estar dizendo nenhum impropério aqui se afirmarmos que todo maçom, ao ser iniciado nos Augustos Mistérios da Arte Real, está na verdade penetrando no Reino de Enteléquia. Mas para poder usufruir de todas as belezas que esse reino concentra será necessário que ele se dispa das suas roupagens críticas e da sua armadura lógica. Nele há de viajar somente com seu espírito, como faz Alice no País das Maravilhas. Pois tudo nele é metáfora, símbolo, alegoria, analogia, enfim, estruturas arquetípicas que estão na base do Inconsciente Coletivo da Humanidade e no processo metonímico natural que a nossa mente realiza para transpô-las para os nossos sentidos. Elas afloram como crenças, mitos, lendas, alegorias e outras ferramentas necessárias que a nossa mente utiliza para traduzir em linguagem aquilo que só a sabedoria do espírito consegue entender.  
Como os nossos antigos irmãos alquimistas, maçonaria também é uma busca da pedra filosofal. Da mesma forma que na antiga Arte dos Adeptos, são poucos o que a encontram. Mas isso não quer dizer que ela não exista. Para os irmãos que acreditam nessa possibilidade é que escrevemos este livro.     

 
 

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Prêmbulo do Livro "Mistérios da Arte Real", no prelo
[1] Cf. Rabelais-As Aventuras de Gangantua e Pantagruel,
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 14/01/2012
Alterado em 17/01/2012


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