João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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MAÇONARIA- O SANTUÁRIO DE MADIAN

O Santuário de Madian
 
Diz a Bíblia que Moisés, após matar um feitor egípcio que ele surpreendeu a castigar um hebreu, ele enterrou o corpo da vítima na areia, e temendo ser descoberto, fugiu para a deserto,  indo parar no oásis de Madia
Antigas tradições compiladas por Apião e Naneto, sugerem que Madian, na verdade, não era apenas um oásis, mas sim um santuário onde a religião de Akhenaton e Moisés era praticada. Ali teria existido um importante núcleo de ensinamento religioso, onde se fazia o estudo das ciências sagradas, especialmente aquelas ligadas à arte da metalurgia. Por isso, antigas lendas judaicas falam de Madian como sendo um centro de fundição de metais e se referem a ele como um importante santuário de tradições iniciáticas.
Vários templos egípcios apresentavam essa característica. Heliópolis, Karnac, Elefantina, Abu-Simbel, não funcionavam somente como santuários, mas eram principalmente centros iniciáticos e universitários, onde as ciências praticadas por esse antigo povo eram preservadas e desenvolvidas. Essa era uma característica das antigas civilizações, já que todo conhecimento estava vinculado á religião. Inclusive nas civilizações pré-colombianas essas tradições eram cultivadas praticamente POR todos os povos que alcançaram um alto nível de desenvolvimento social. As cidades sagradas dos incas, maias e astecas também tinham funções semelhantes. Machú-Pichu, por exemplo, não era apenas um santuário, mas principalmente uma grande universidade, onde as ciências sagradas, como a arquitetura, a agricultura, a astronomia, eram estudadas e ensinadas aos iniciados.  [1]
 
Presume-se que a fuga de fuga de Moisés do Egito tenha ocorrido por volta do ano de 1325 antes do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi nesse ano que o faraó Horemheb baixou decreto tornando escravos os filhos de Israel, mandando-os trabalhar nas pedreiras, olarias e construções do país, fabricando tijolos, desbastando e facejando pedras para erguer os grandes templos e edifícios, cujas ruínas ainda hoje se podem ver no país do grande rio Nilo, razão pela qual, desse tempo em diante, os filhos de Israel se tornaram os legítimos representantes da Arte Real.(a operativa, representada pela arquitetura).
Embora a Bíblia informe que o cativeiro dos israelitas no Egito durou quatrocentos anos, os estudiosos, de modo geral, acreditam que esse cativeiro, se existiu, só começou depois que os povos pastores, conhecidos como hicsos, foram expulsos do Egito. Esses povos também eram semitas, como os hebreus. Se forem corretas as informações de Apião e Maneto, (que esse cativeiro foi conseqüência do fato dos israelitas terem apoiado a revolução de Akhenaton), então é possível inferir que esse cativeiro começou no reinado de Horemheb, pois foi esse faraó que restituiu o Egito à sua antiga religião politeísta e massacrou os partidários do monoteísmo implantado por Akhenaton. [2]
Os acontecimentos relativos à fuga de Moisés estão registrados no livro do Êxodo. Presumivelmente, com tudo que se sabe hoje sobre as possíveis relações de Moisés com a casa real e suas funções sacerdotais durante te o reinado de Akhnaton, é possível inferir que sua fuga para Madian não tenha ocorrido apenas pelo fato de ter morto um feitor egípcio. Motivos políticos e religiosos devem ter interferido nessa sua decisão.
A tradição sustenta que Moisés teria quarenta anos de idade quando descobriu sua origem hebraica e teve que fugir do Egito. Nessa época já era intensa a utilização da mão de obra hebraica na construção de grandes edifícios no Egito.[4]   
Segundo a Bíblia, os hebreus ergueram as cidades de Tendas, Fitom e Ransés. As duas primeiras eram cidades-armazéns e a última uma cidade santuário que depois foi dedicada ao faraó Ransés II, que subiu ao trono em 1290 a C, cerca de 35 anos após a fuga de Moisés do Egito.
 
Madian é um oásis que ficava localizado próximo ao Monte Horeb, também conhecido como Monte Sinai. Foi em Madian que Moisés conheceu Raguel, que também exercia funções sacerdotais junto aos madianitas, que ao que parece, também haviam adotado a religião de Akhnaton. Tradições compiladas por cronistas antigos, constantes do Talmud, sugerem que Moisés teria convertido os madianitas ao culto de Jeová.[4]
E lá também casou-se com Séfora, filha de Raguel, com quem teve dois filhos, o primeiro a quem deu o nome de Gerson, que significa “estrangeiro em terra estranha” e o segundo, a quem chamou de Eliezer, que significa “o auxílio que vem do Senhor”, nomes cujo significado deve ser buscado na doutrina da Cabala.
Raguel (nome cabalístico), é citado na Bíblia pelo nome de Jetro (Provavelmente seu verdadeiro nome). O nome da esposa de Moisés, Séfora, também é simbólico e tem inspiração na Cabala. Antigas tradições, constantes do Talmud e do Alcorão, sustentam também que Moisés, antes de tornar-se líder de Israel, foi rei da Etiópia e sacerdote de Amon-Rá no santuário de Madian. Em Madian Moisés teria habitado por cerca de dez anos, antes de ser chamado pelo Senhor, para cumprir sua missão libertadora no Egito. [5]
 
Ao entrar em contato com seus conterrâneos hebreus, Moisés absorveu a sua religião e passou a adotar o deus único dos hebreus como o sendo o verdadeiro deus do universo. Não deve ter sido difícl para ele essa conversão, pois sendo um sacerdote de Aton – a divindade única de Akhnaton− tratava-se apenas de uma mudança de nome e de alguns conceitos. Um dêsses conceitos era o de que Deus, o verdadeiro,  era espírito e como tal devia ser adorado. Era diferente, por exemplo, do conceito egípcio, no qual se representava deus através do disco solar, e se atribuía ao astro-rei uma condição de divindade.
Os hebreus, ao contrário, diziam que Deus não podia ser representado através de nenhuma imagem de coisa física, fosse da terra ou do céu. Deus era algo abstrato, que só podia ser contatado espiritualmente. As forças da natureza eram suas manifestações na terra, mas elas não deviam ser adoradas como se fossem, elas mesmas, o próprio Deus.
Deus também não tinha nomes que pudessem ser pronunciados pelos homens. Eles o chamavam de Adonai, que não era um nome próprio, mas sim um adjetivo que significava “O Senhor”. Essa sabedoria perturbou muito o espírito de Moisés que não mais deixou de pensar no Deus desconhecido dos hebreus. E todos os dias ele ia pastorear os rebanhos de seu sogro Jetro, nos pés do Monte Horeb, ficando a olhar para o cume que se ocultava em meio à nuvens que nunca se dissolviam. Dizia-se que o deus dos hebreus costumava visitar às vezes aquela montanha. E quando os trovões ribombavam e os relâmpagos iluminavam o cume era sinal que Ele estava lá.[6]
Estando um dia Moisés a pastorear, aconteceu que algumas das suas ovelhas abandonaram o rebanho e saíram a buscar melhores pastos nas cercanias da montanha. E indo ele a procurá-las, viu de longe as luzes que brilhavam no cume do monte. [7]
Moisés resolveu subir o monte, guiado pela claridade que saia do seu cume. Quando chegou ao topo viu que as luzes que tanto o atraiam saiam de uns arbustos que ardiam como fogos vivos, mas que não se consumiam como madeiras que se colocam no braseiro para alimentá-lo.
Estando ele a admirar o que via, eis que uma Vóz falou de dentro de uma chama que brilhava como a superfície do sol, mas não emitia nenhum calor, porquanto era um fogo frio.[8]
E a Vóz disse: “Moisés cobre o teu rosto para que não suceda ficares cego com a minha luz; descobre também o teu braço direito e descalça as tuas sandálias porquanto o solo da terra em que pisas é sagrado. Eu te escolhi entre os varões da terra para ser iniciado nos meus Augustos Mistérios e nesta sabedoria entrarás meio nu, meio vestido, para que saibas que a tua natureza é dupla,  porquanto é feita de carne e espírito.” [9]
 “EU SOU O QUE SOU”, disse-lhe a Vóz em meio às sarças ardentes. “EU SOU Aquele que comanda a tua mente para que ela transforme em pensamentos as coisas que vês, escutas e sentes; que faz a tua língua transformar em palavras os teus pensamentos e faz os teus nervos e músculos praticarem as obras que a tua mente ordena que faças;”  “EU SOU O Que faz com que tudo exista e tenha vida e movimento.” [10]
Continuou a Vóz : “Mas EU não SOU a mente nem os pensamentos, nem as palavras, nem a vida e o movimento; não SOU nada que tu adoras embaixo do sol, mas sim a razão de essas coisas existirem. Não SOU o Sol, nem a Lua, nem as estrelas, nem qualquer coisa viva ou outra qualquer que possas figurar em tua mente, mas sim a razão do porque elas existem dentro dela, por isso são vãs todas as figurações que de MIM fazem, como vãos são os Nomes que ME dão.” [11]
“Mas por ora, deixa de lado tua curiosidade e faz o que Vou te ordenar. Todo homem tem sua missão e a tua será tirar o povo de Israel do Egito e fundar com ele uma nova Fraternidade, na qual Eu possa espelhar a Minha Vontade e gravar os meus preceitos.”
 “Porque a Minha Loja é o Cosmo inteiro, os meus Obreiros a Humanidade toda, e o meu Templo a totalidade do universo. Mas é preciso que isso tudo tenha uma organização e uma identidade, que lhe sirva de modelo. Ordo ab Chaos é o motivo pelo qual Eu fiz o homem e Lhe dei uma consciência.”
“ Dar-te-ei um povo inteiro por Irmandade e os limites de um território como Templo, e no devido tempo nele se construirá o Meu Templo particular”.  
“Pelo Meu Sagrado Nome o teu poder será maior do que todas as forças do Egito. Eis que o dou a ti, e esse Nome Inefável é a Palavra Sagrada que a nenhum outro, que por Mim não lhe seja indicado, a repetirás.”, disse-lhe o Grande Arquiteto do Universo. E a comunicou aos ouvidos de Moisés, que nesse momento teve seu rosto iluminado por uma estranha luz. [12]
 
A fala do Grande. Arquiteto do Universo que reproduzimos aqui não está na Bíblia, mas corresponde á descrição de Si Mesmo, dada por Ele à Arjuna nos versos da Bhagavad Guita. Adaptamo-la por ser mais completa e reveladora do que aquela que Moisés reproduziu no Êxodo. Essa concepção da Divindade também se aproxima daquela defendida pelo Panteísmo filosófico, que sustenta que Deus está em todas as coisas, mas nenhuma das coisas está em Deus. Talvez a grande intuição de Moisés, ao fundar o monoteísmo hebraico a partir da revolução  de Akhenaton, tenha sido a descoberta da pura espiritualidade que há no conceito de Deus, espiritualidade essa que não tem paralelo nas coisas do mundo e por isso não pode ser representada pelos sentidos humanos.


Notas

[1]
Citado por Robert Ambelain, op. citado, pg.41 e ss.
[2] Horemheb reinou de 1335 a 1308 a C.
[3] O trabalho dos israelitas na construção de grandes edifícios mostra que sua tradição como maçons operativos é anterior à construção do Templo de Salomão, que a maioria dos autores dá como origem da Arte Real.
[4] Ambelain, idem op. citado, pg. 42
[5]. Ahmed Osman, Moisés e Aknhaton- Madras, 2008
[6] O Monte Horeb, também conhecido como Monte Sinai, na tradição hebraica, era conhecido como “a Morada do Senhor.”
[7]  Êxodo, 3, 1.
[8]  Idem, 3,.2
[9] A fala que aqui reproduzimos é a constante de antigas tradições maçônicas praticadas pelo rito adoniramita. Nos demais ritos ainda se conserava a tradição de que o neófito deve entrar no Templo, para sua iniciação, meio nu meio vestido, lembrando a iniciação de Moisés. Na Bíblia, essa fala é mais sucinta:  “Não te chegues para cá. Tira as sandálias dos teus pés, porque este lugar, em que estás é terra sagrada.”Êxodo : 4,1.  
[10] Esta fala, também presente em rituais maçônicos, são inspiradas na Baghavad Guita, formidável poema metafísico hindu, que reproduz diálogo entre o herói Arjuna e o Deus Chiva, sobre a verdadeira natureza de Deus. 
[12] Essas falas são inferências do autor, inspiradas nas idéias expressas no rito adoniramita , na Baghavad Guita, e nos ensinamentos da Cabala, onde o conceito metafísico de Deus é expresso de maneira mais completa do que na Bíblia. A estranha luz que iluminou o rosto de Moises só pode ser entendida como a luz da iniciação. Conforme se diz na iniciação maçônica: E a LUZ seja dada ao neófito! Já a tradição do Nome Inefável é uma das alegorias mais fascinantes da Maçonaria. Tanto que o Rito Escocês, como já se disse, lhe consagra nada menos que quatro graus, do nono até o décimo quarto.

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 30/01/2012
Alterado em 30/01/2012


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