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O que faz a diferença
A inaptidão que, às vezes, nos chumba à roda da mediocridade, é quase sempre fruto de uma aprendizagem negativa. Da mesma forma que aprendemos a fazer bem feito certas coisas, também aprendemos como não fazer outras com a mesma eficiência. Para ambas é o mesmo processo neurológico sendo utilizado, contendo as mesmas informações, porém estruturadas de forma diferente.[1] Aprendemos a ser corajosos tanto quanto aprendemos a nos acovardar perante a perspectiva de um perigo. Aprendemos a ser calmos, tanto quanto a ser açodados; aprendemos a ser alegres ou tristes, confiantes ou desconfiados, seguros ou inseguros, ousados ou tímidos, etc., através do mesmo processo de aprendizagem. Tudo depende da forma como estruturamos as informações que geram os nossos “programas, pois conforme essa estrutura nós lhe atribuímos um significado e emitimos uma resposta a ela. Não descarto a possibilidade de que as pessoas que conseguiram resultados excepcionais em suas vidas tenham possuído dotes genéticos que as diferenciavam do mortal comum. É evidente que diferenças dessa ordem podem existir. Mas isso não quer dizer que tais criaturas sejam espécimes forjadas nas oficinas dos deuses e a nós, pobres seres humanos, só resta olhá-los com inveja e resignação. Essa, sim, é uma crença inadequada para quem quiser responder com eficiência aos desafios da vida. Pensar assim seria, inclusive, uma grande injustiça contra um Deus que criou uma humanidade com um propósito e um destino: seguir a flecha de uma evolução que se consuma em cada momento de excelência conquistada e recomeça no momento seguinte, quando se vislumbra a possibilidade de conquista de picos ainda mais altos.
Daniel Goleman (Inteligência Emocional, 1995, pg.33,) nos informa que “nos primeiros milésimos de segundos em que temos a percepção de uma coisa, não apenas compreendemos inconscientemente o que é, mas também decidimos se gostamos dela ou não. O “inconsciente cognitivo” apresenta à nossa consciência não apenas o que vemos, mas uma opinião sobre o que vemos”. Isso significa que o circuito estímulo – resposta é percorrido de forma tão rápida, que muitas vezes, a mente consciente não consegue organizar uma resposta adequada à situação, pois não tem tempo suficiente para estruturar a informação recebida e dar à ela a devida valoração. É o que acontece com muitas reações fóbicas, por exemplo, nas quais o perigo em que se é confrontado não justifica a carga emocional que se coloca na reação. Esses são casos em que, provavelmente, a primeira percepção do objeto que causa o medo foi “informada” à mente inconsciente com valores que significavam perigo, asco, nojo, etc., i.g. ( o grito da mãe ao entrar no quarto do bebê e deparar com uma barata, por exemplo). Pesquisas conduzidas por neurocientistas demonstraram que a área do cérebro que hospeda as representações mentais de um fato puro é o hipocampo e quem lhes confere a devida valoração é a amígdala cortical. Isso quer dizer que o hipocampo é o centro de reconhecimento e a amígdala o centro de valoração, ou se quisermos usar a analogia feita por Golemam, o hipocampo bate a foto e a amígdala diz o que o objeto fotografado é. Visto dessa forma podemos imaginar o que significa responder a uma situação a qual ainda não temos idéia do que realmente seja. Em uma conjuntura dessas, não há mesmo condições para uma resposta eficiente. Isso nos permite deduzir que aptidões e inaptidões são aprendizados que adquirimos do mesmo jeito que aprendemos a andar, a escolher os alimentos, a efetuar operações aritméticas, a ler, a dirigir um automóvel, etc. Enquanto umas são informações que foram processadas adequadamente, outras são informações que não tiveram a mesma qualidade de processamento. É o que ocorre também quando tentamos fazer alguma coisa e falhamos. Nem sempre somos conscientes o bastante para analisar com critério as causas do mau resultado. E geralmente essas causas têm mais a ver com as estratégias utilizadas na execução ou com as informações reunidas para a empreitada do que com as nossas habilidades para realizá-la. As diferenças entre as pessoas, geralmente são frutos de suas histórias pessoais. Temos carradas de exemplos que confirmam esta assertiva. Mesmo entre irmãos que foram criados no mesmo ambiente, submetidos às mesmas experiências, sempre se poderão constatar certas variações no conteúdo de suas histórias de vida. São esses detalhes que fazem a diferença no comportamento delas, se diferença existir. Ora será um grupo de amigos diferente, ora um tratamento diferenciado por parte dos pais, ora uma informação que um teve e o outro não, enfim, cada detalhe não compartilhado pode fazer muita diferença. E mesmo quando não há essas particularidades, as diferenças perceptivas poderão construir diferentes tipos de personalidade. Sei disso porque essas coisas ocorreram na minha própria família. Dos meus quatro irmãos que sobreviveram para ter uma história de vida, nenhum deles desenvolveu a mesma visão de mundo que eu tenho. O importante não é copiar a experiência bem sucedida dos outros, como se elas fossem um guia seguro para o sucesso. Importante é saber o que vale a pena aprender com o vizinho, que pode ser útil para nós, em relação ao objetivo que queremos atingir. As pessoas, em todos os tempos e lugares, procuram praticar comportamentos eficientes, que possam lhes trazer bons resultados na difícil arte de viver. Nessas operações, elas percorrem “caminhos” que deixam pistas que podem ser seguidas. Saber escolher o que funciona, para o objetivo que queremos atingir, é o grande segredo da aprendizagem.
[1] É como a anedota dos dois vendedores de Uma fábrica de calçados que foram a uma remota região da terra pesquisar mercado. “Pode esquecer”, escreveu o primeiro ao presidente da fábrica, “ pois aqui ninguém usa sapatos. “Maravilha”, escreveu o segundo. “Pode embarcar imediatamente um grande remessa, pois aqui ninguém usa sapatos, ainda.”
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do livro "Á Procura da Melhor Resposta", Ed. Biblioteca 24x7- ~SÃO PAULO- 2010
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 27/02/2012
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