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O ensinamento maçônico
O que se busca no ensinamento maçônico é a iluminação. Esse é o elo existente entre a prática da Arte Real e os antigos Mistérios arcanos. É nesse sentido que a Maçonaria pode ser considerada como herdeira da cultura simbólica desses antigos povos que cultuavam as forças do inconsciente sem o saber, e das leis da natureza faziam deuses e erguiam para eles suntuosos templos.
Por isso não há na maçonaria um modelo filosófico a ser seguido nem uma orientação religiosa imposta como paradigma. Por essa razão os fundamentos da sua prática estão assentados em símbolos, lendas e alegorias, e sua aprendizagem se dá através do método iniciático. Esse método exige do seu praticante um espírito aberto e avesso a dogmas, já que ele terá que trabalhar com temas esotéricos e exotéricos ao mesmo tempo, ora tratando-os pragmaticamente, ora especulativamente, mas nunca sem perder o senso de realidade e utilidade que tais temas encerram para a realização do aprendizado. Método iniciático, ou psicológico é aquele segundo o qual os ensinamentos não são dirigidos à razão do aprendiz, mas ao seu inconsciente. Por isso, o catecismo maçônico não segue a organização epistemológica própria de uma ciência ou doutrina, como seria de praxe em qualquer forma de aprendizado. O aprendiz maçom deve participar desses ensinamentos através de repetidas iniciações, que têm como objetivo "impressionar” o seu espírito e levá-lo, mais a “sentir” o ensinamento, do que propriamente compreender a sua lógica. O método iniciático é próprio para o ensino das doutrinas esotéricas. É muito utilizado para a transmissão dos chamados conhecimentos indutivos, ou seja, aquele que se obtém mais por insights (descobertas, iluminação) do que por dedução (raciocínios). O exemplo mais perfeito de ensino pelo método iniciático é o budismo zen, onde a quase totalidade da doutrina é transmitida através de koans, tipo de mensagem dirigida ao inconsciente do aluno. Uma forma bem elaborada de koan é a fórmula poética conhecida como haikai, onde o poeta, em três versos livres, com dezessete sílabas, exprime um insight. [1]
Iniciação
O método iniciático é próprio das disciplinas espirituais. Por isso todas as religiões têm a sua forma de iniciação: batismos, purificações, viagens simbólicas, etc. Todas essas práticas nada mais são que fórmulas ritualísticas diversas que visam abrir a porta da mente do iniciado para os conteúdos sutis do ensinamento que ele vai receber. E seja qual for a forma de iniciação, ela contém elementos que são comuns a todas as religiões, pois elas provém de uma mesma origem e servem a uma finalidade semelhante, que é impressionar o espírito do praticante, preparando-o para ser o recipiendário de uma crença que se fundamenta na sua sensibilidade, mais do que na razão.Aliás, uma crença que precisa ser compreendida, não é crença, mas filosofia.[2] Todas as antigas iniciações começavam com uma morte ritual, que encerrava uma visita à escuridão total, para que dela o iniciando pudesse renascer como semente fecundada pelos raios solares, pronta para iniciar uma caminhada em direção à luz. Porque essa era a idéia, extraída da observação da natureza, que os antigos mestres do conhecimento arcano faziam do processo que dá origem à vida: uma semente é posta no útero da terra, como se fosse um corpo posto em sepultura; ali ela é regenerada pelos nutrientes da terra e a ação do calor do sol; recomposta, ela atravessa a escuridão começando uma jornada em busca da luz. Assim, brotar significa sair para a luz, reviver. O homem novo, renovado, renascido em função da nova crença, é um Lázaro ressuscitado das trevas, que vence a morte psíquica, reencarnando para uma nova vida.[3] Segundo antigas tradições, a prática da iniciação começou em eras anteriores a atual raça adâmica, com os atlantes. Quando a degeneração da raça atlante ocorreu, os sábios daquele povo resolveram ocultar do vulgo os grandes segredos que fizeram o esplendor daquela civilização e somente comunicá-los a poucos escolhidos, que se mostraram dignos de compartilhar deles. Os grandes heróis dos mitos vedantas, gregos, babilônicos e outros, foram alguns desses escolhidos. Depois os Mistérios da Iniciação foram trazidos da Atlântida pelos ários e incorporados à tradição de vários povos, entre os quais os hindus, os egípcios, os caldeus e outros povos antigos. 4 Nos tempos pré-históricos, a iniciação não comportava nenhum dogma e não tinha qualquer relação com a escatologia.[5] No entanto, era a verdadeira religião daqueles povos, ou seja, uma disciplina metafísica e religiosa ao mesmo tempo, na qual se procurava reproduzir os processos naturais pelos quais a divindade se manifesta no mundo da matéria física. Era uma imitação da atividade dos deuses na produção dos eventos naturais. Com o passar dos tempos, a prática dos Mistérios deixou de ser apenas uma manifestação de religiosidade arcana e laicizou-se, invadindo o território da cultura e do próprio sistema educacional. É assim que vamos encontrar no antigo Egito, entre os povos da Mesopotâmea e na Índia dos brâmanes, e depois na Grécia clássica, Os Mistérios funcionando como escola, onde se ensinava ciências, artes, ética, direito, medicina, filantropia, justiça e principalmente respeito pela grande Mãe Natureza. Os templos aos deuses que presidiam esses Mistérios passaram a funcionar como verdadeiras universidades onde o saber acumulado por essas sociedades era desenvolvido e preservado. Tudo quanto de bom, nobre e verdadeiro há na natureza humana, seja em termos de virtudes éticas e morais, seja como aspirações divinas, isso era cultivado pelas antigas sociedades iniciáticas em seus Mistérios. Daí o fato de essas antigas práticas, que no início eram essencialmente religiosas, se tornarem verdadeiras instituições, venerada pelos povos e consagrada pelos estados onde eram praticadas.[6]
Em busca da Luz
Da mesma forma que a nossa existência como seres humanos tem o seu início com o nascimento, a vida do espírito também começa no momento em que os nossos olhos são feridos pela luz do seu contato com o mundo. Assim, a vida, tanto da carne, quanto do espírito, é o resultado do nosso encontro com a luz Essa idéia está no centro das doutrinas que informam as religiões antigas. Por isso iremos encontrar em todas essas manifestações espirituais a busca desesperada pela luz, e como conseqüência desse anelo, o objeto de adoração é aquele que a gera, o Sol. Assim, o Sol torna-se a deidade central em todos esses os cultos, razão pela qual nós os chamamos de cultos solares. No Egito antigo, por exemplo, essa idéia envolvia não só as crenças religiosas do país, mas tinha implicações políticas e sociais importantes. O faraó era considerado o Filho do Sol. Seu poder não vinha de nenhuma relação temporal, mas do próprio astro rei, (o deus Rá), por isso não podia ser contestado. Daí o caráter teocrático do seu governo e a duração extremamente longa da instituição faraônica, que sobreviveu enquanto a crença nos poderes do Sol e na transmissão aos seus filhos na terra encontrou adeptos. Nos Upanixades, um dos livros sagrado da religião vedanta se diz que o sol é o pai da vida e a lua a sua mãe. Da união dos dois nasceu a criação. O filósofo Aristóteles também dizia que “o homem e o sol geram a vida”, emprestando assim a sua respeitada opinião ao culto do mito solar. Até o Cristianismo, embora seus teólogos tentassem apagar os traços da sua origem solar, sofreu a influência dessas idéias arquétipicas. Jesus, para algumas seitas gnósticas, era considerado uma divindade solar. Sua identificação com o Sol se dava principalmente pelo Evangelho de João onde se afirma que Jesus era a Luz do mundo.[7] A própria Igreja Católica se aproveitou das tradições cultivadas pelas religiões solares para firmar alguns dogmas e datas do cristianismo. O dia 25 de dezembro, dado como sendo o dia do nascimento de Jesus, é uma data que tem correspondência em várias religiões solares, como por exemplo, o Mitraísmo, que tem esse dia como sendo o dia do nascimento de Mitra.[8] Na religião egípcia essa data também corresponde ao nascimento de Hórus, o filho de Isis e Osíris; na religião hindu, ela corresponde à data do nascimento do deus Krishna, etc. Todos esses deuses, coincidentemente, foram concebidos e nasceram de forma miraculosa, semelhante à que foi atribuída a Jesus. É oportuno também lembrar que em certos círculos teológicos antigos, Cristo era um ser solar e seus discípulos simbolizavam os doze signos do zodíaco. Assim, o arquétipo inspirador do personagem Jesus Cristo não era uma intuição puramente judaico-cristã, como comumente se pensa, mas uma tradição compartilhada por quase todos os antigos povos. E foi essa identificação com o mito solar, e o fato de a figura do Cristo ser uma noção compartilhada pelo Inconsciente Coletivo da humanidade que ajudou os doutrinadores cristãos a fazer do Cristianismo uma religião muito popular no Império Romano.[9]
O simbolismo da busca pela Luz também tem uma clara correspondência na prática da alquimia, onde a obtenção da pedra filosofal é a “iluminação” final do adepto. Na moderna ciência ele também se aplica, sendo o insight do cientista o seu momento de luz. [10] Sendo a maçonaria a herdeira da promessa contida no escopo dessas antigas religiões, tanto em sua face moral, quanto em sua busca pela realização espiritual, iremos encontrar no conjunto da suas tradições uma profusão de referências a essas duas forças da natureza, geradoras da vida, que são a Luz e o Sol. [11] Justifica-se, dessa forma, dizer do Irmão que procura iniciação nos Augustos Mistérios maçônicos, que ele é “um pobre candidato que caminha nas trevas, e despojado de todas as vaidades, deseja receber a Luz.” [12] E a Luz lhe é dada em presença dos Irmãos como corolário de uma jornada, na qual o seu espírito venceu as trevas e despontou para um novo dia, pronto para trabalhar no canteiro de obras mais nobre da terra. Essa será a sua missão, a sua tarefa enquanto maçom. É dessa forma que nós também vemos a escalada do maçom pela Escada de Jacó. Como uma viagem pelo Reino de Enteléquia, na sua busca pelo seu Vril particular.[13]
[1] Como nestes versos de Bashô (1644-1694) o rei do haikai: “Se olho atentamente/Vejo florir a flor nazuna/ Na fenda do muro.” Aqui o poeta nos diz que é preciso estar atento para surpreender a natureza no momento exato da sua atividade criativa.
[2] Iniciação, aqui, significa a admissão de um neófito na Irmandade. Recipiendário é o irmão que está sendo iniciado.
[3] Daí as palavras de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim não morrerá.”. Essa é a razão de muitos historiadores acreditarem que a passagem referente à ressurreição de Lázaro se referir a um ritual de iniciação praticado pela seita fundada por Jesus e não um acontecimento histórico mesmo. Realmente, é estranho que um fato tão marcante como esse não tenha sido registrado pelos evangelhos sinóticos, mas apenas pelo gnóstico João.
[4] Hércules, Krishna, Gilgamés, etc. eram alguns desses heróis. Sobre o sentido iniciático dos Doze Trabalhos de Hércules, veja-se o capítulo XII da nossa obra “Mestres do Universo”, publicada pela Biblioteca 24x7, 2010.
[5] Escatologia é a doutrina que trata da consumação do tempo e da finalidade da história humana.
[6] Daí os Antigos Mistérios serem cultivados pela maçonaria. Como herdeira dessas antigas tradições, a prática maçônica visa salvaguardar essa conquista cultural do espírito humano.
[7] “Eu sou a luz do mundo; o que me segue não anda nas trevas, mas terá aluz da vida.” João, 8,12
[8]Na verdade, essa data corresponde ao início do solstício de inverno no hemisfério norte, que se inicia no dia 23 de dezembro.
[9] Daí a tese, defendida principalmente por historiadores alemães, de que o verdadeiro fundador do cristianismo é o apóstolo Paulo. Quando Jesus fracassou como o Messias judeu, Paulo pegou a sua doutrina e a desenvolveu a partir da idéia do Cristo grego, um arquétipo que os neo-platônicos tinham pensado como catalizador das forças cósmicas, para levar o mundo a uma consumação final. Como essa idéia tinha uma similitude bastante próxima à doutrina pregada por Jesus, não foi difícil ao arguto rabino de Tarsus criar uma nove e instigante teologia baseda nela.
[10] Muito apropriadamente, o maçom e cientista Thomas Alva Edison, inventor da lâmpada elétrica, era chamado pelos irmãos da sua Loja como um “Irmão em busca da Luz.”
[11] Jâmblico chamava o sol de “a imagem da Divina Inteligência, ou Suprema Sabedoria” Para Eusébio, o sol era o “Anjo Mestre”, expressão que equivalia ao Cristo, ou Verbo Divino. A palavra sol, em latim é solus, ou seja, Único. Em grego ele é Hélios, o Altíssimo.
[12] Como consta do ritual de iniciação á maçonaria.
[13] Vrill é uma forma energia que algumas sociedades ocultistas acreditam existir no homem. Seria a essência da sua alma, ou seja uma força que atua no núcleo da célula e a faz desenvolver-se e exercer as funções que lhes cabem.A famosa Sociedade Thule, seita ocultista que supostamente teria orientado Adolf Hitler e incutido na sua mente febril a doutrina da superioridade da raça ariana teria desenvolvido pesquisas e ritos no sentido de capturar e utilizar essa energia de forma prática.
VRILL- A LUZ INTERIOR
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DO LIVRO " O TESOURO ARCANO", NO PRELO
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 10/03/2012
Alterado em 11/03/2012
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