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O mundo na nossa cabeça
Já vimos que o processo mediante o qual organizamos nossas representações mentais é que fornece os critérios pelos quais o mundo é recepcionado e identificado em nossa mente. Por exemplo: estamos dirigindo numa estrada e de repente topamos com um acidente. A cena, em si mesma, é igual para todos que a presenciam. Porém, um jornalista a recepcionará como uma oportunidade de uma boa reportagem, um médico como um dever de prestar socorro, um policial como necessidade de apurar o que aconteceu, um padre como necessidade de oferecer conforto e auxílio espiritual pessoas envolvidas, etc. Se observamos bem, veremos que na forma como cada um estrutura a representação mental que faz da experiência, há um processamento todo especial, que ocorre segundo os “programas” que eles têm implantados em suas mentes. Da mesma forma que médicos, jornalistas, policiais, padres, etc, instalam em seus sistemas neurológicos “programas” que os fazem ver esse acontecimento de acordo com seus modelos de mundo, todas as pessoas desenvolvem processos semelhantes, que os fazem ver os acontecimentos a partir de uma ótica muito particular. Esses processos são organizados numa seqüência que atende aos critérios selecionadores de cada pessoa. O que vem antes, o que vem depois? A visão do sangue correndo, a imagem do carro todo amassado, a imagem das pessoas correndo para socorrer os acidentados, o som do carro da polícia, ou da ambulância, ou os gritos das vítimas, o barulho da batida, ou ainda o medo, o desconforto, a tristeza de estar presente naquele momento? Conforme estruturarmos e desenvolvermos essas operações, a nossa mente escolherá os critérios de interpretação e valoração que ela dará ao acontecimento. Se o sentimento for o de medo, é possível que o nosso sistema neurológico nos instale um "programa" que nos impedirá de pegar no volante em uma estrada; o sangue correndo, a cor, o cheiro dele, ao sentimento que a visão dele nos provoca, tudo isso determinará como o nosso sistema neurológico irá reagir diante de situações que envolvam a presença de sangue e assim por diante.
Assim, o que uma experiência significa para nós depende do valor que associamos à representação mental que fazemos dela. Dizer que fazer tal coisa é certo ou errado implica em uma questão de valor. Se associo à experiência de matar um homem um valor que identifico como crime, pecado, dor, medo da punição, etc., a minha mente mandará ao meu sistema neurológico comandos que me constrangerão de realizar essa ação; se associo a esse ato um outro valor, como patriotismo, honra, coragem, virilidade, etc., ele não me inspirará nenhum horror face à idéia de um homicídio. Quantos não os crimes cometidos em função de uma "honra ofendida", por exemplo? Saber quando, onde e como devemos responder a um estímulo. é o grande segredo da inteligência emocional.[1] Por isso, o conhecimento do processo pelo qual o nosso sistema representacional seqüencia e estrutura as informações que o cérebro recebe, e a forma pela qual ele atribuiu a elas este ou aquele valor, passa a ser de fundamental importância para o nosso sucesso na capacidade de gerar respostas eficientes, que é o mesmo que ser bem sucedido na arte de viver. Pensamentos e sentimentos são a base de todas as nossas ações. Nada é feito pelos nossos músculos, nervos ou qualquer outro sistema ativo do nosso organismo se antes não for gerada uma representação interna dessa ação em nossa mente. Essas representações, que chamamos de experiências internas, (memórias, pensamentos e sentimentos), nada mais são que informações processadas segundo a nossa capacidade neurolinguística.
O alfabeto do cérebro
Cor, brilho, contraste, foco, movimento, dimensão, luminosidade, etc. (códigos neurolingüísticos visuais); modulação, tonalidade, timbre, duração, continuidade, etc. ( códigos neurolingüísticos auditivos) e distância, temperatura, dimensão, movimento, textura, peso, formato, pressão, etc.( códigos neurolingüísticos sinestésicos), constituem o alfabeto pelo qual nosso sistema neurológico se relaciona com o mundo. É esse alfabeto que nos permite uma interação com o ambiente e dá à nossa mente a capacidade de reconhecê-lo e fazer a devida apreciação. Em PNL, esses códigos neurolingüísticos são chamados de submodalidades dos sistemas de representação. Eis um quadro resumido das principais submodalidades utilizadas pela nossa mente para executar a função de representação do mundo em que vivemos.
Submodalidades visuais |
Submodalidades auditivas |
Submodalidades sinestésicas |
Cor |
Estéreo\mono |
Local |
Brilho |
Palavra |
Intensidade |
Contraste |
Volume |
Pressão |
Moldura |
Tom |
Extensão |
Dimensão |
Timbre |
Textura |
Localização |
Intensidade |
Peso |
Distância |
Localização |
Temperatura |
Luminosidade |
Duração |
Duração |
Nitidez |
Continuidade |
Forma |
Foco |
Velocidade |
Suavidade |
Movimento |
Nitidez |
Aspereza |
Velocidade |
Modulação |
Sabor |
Há muitas outras submodalidades que ela pode aliciar para executar essa tarefa. As que listamos são apenas as mais requisitadas. Através das submodalidades a realidade na qual vivemos é transformada em um mundo interno feito de imagens, sons, paladares e aromas, cada qual com seus atributos e qualidades, que são codificados e valorados pela mente, constituindo assim, aquilo que, em PNL, chamamos de representações sensoriais internas. Através dessas representações reconhecemos o ambiente em que vivemos e damos aos seus componentes este ou aquele significado, ou valor. Assim, tudo o que sabemos do mundo é o que os nossos sentidos nos informam e o que a nossa mente consegue identificar através desse sistema neurolinguístico de codificação. Que cor tem a experiência, que intensidade de brilho, que dimensão, que tonalidade tem o som, que timbre, a temperatura, a textura dos objetos nela representada, o peso, a forma, a dimensão, etc. é que darão à nossa mente a conformação que a experiência parece ter para nós Dessa conformação é que nos vem o conhecimento que dela temos e como conseqüência, a orientação de como devemos proceder em relação a ela.
A nossa linguagem reflete sempre essa codificação que o sistema neurológico faz. Não dizemos às vezes que tal coisa "foi pesada"? Ou então quando mandamos alquém pegar "leve", não significa dar á ação que vai significado mais brando (um valor menor)? Ou ás vezes não dizemos que o "negócio" esquentou, ou esfriou, ou ficou cor de rosa, ou negro, ou que precisamos dar uma "abaixada" no padrão ou uma "elevada" nele? Pois é. Usamos essas metáforas porque são com esses códigos que o nosso cérebro reconhece o mundo em que vivemos e dá a ele o devido valor. Assim, podemos dizer que não conhecemos o mundo como ele é, e sim como nós o representamos em nossa mente. Com isso podemos concluir também que não respondemos ao acontecimento em si, mas à cor, ao brilho, ao tamanho, à forma, ao peso, etc., que damos a ele em nosso mundo interior. Você nunca sentiu que certas lembranças são mais pesadas, ou mais leves, que outras? Que são mais nítidas ou mais opacas? Mais silenciosas ou ruidosas? Mais quentes ou mais frias? Mais doces ou amargas? Agora, se é com esses atributos que a nossa mente constrói a visão que temos do mundo, isso significa dizer que nós podemos escolher a forma de representá-lo para nós mesmos, e em face disso, também podemos organizar diferentes estratégias para responder com eficiência aos desafios que ele nos apresenta.
Dessa forma, o mundo se torna aquilo que pensamos que ele é e nós somos o que as nossas crenças dizem que somos. Nossas representações mentais estão na base das nossas crenças e dos nossos valores. Se eu conseguir me convencer que sou capaz de voar como um pássaro, acharei a coisa mais normal do mundo me atirar de cima de um penhasco; se o meu cérebro representar o oceano como se ele um lago calmo e estreito, posso tentar atravessá-lo a nado; se minha mente me "mostrar" que as solas dos meus pés são feitas de material resistente ao fogo serei capz de atravessar um braseiro com facilidade. O resultado pode não ser aquele que eu espero, pois as minhas represntações mentais podem não estar fundamentadas em elementos sólidos e os meus recursos talvez não sejam adequados e suficientes, mas isso é outra coisa. Há muitas pessoas que acreditam ser Jesus Cristo ou Napoleão Bonaparte. Os hospitais psiquiátricos estão cheios de pessoas cujas crenças se afastaram tanto da realidade, que acabaram se tornando perigosas para si mesmas e para a sociedade. Mas tente convencê-las que aquilo que eles pensam e sentem não é verdadeiro... E se as coisas são assim, nenhuma modificação que fizermos em nossa aparência exterior promoverá mudanças efetivas em nossa vida se não for devidamente acompanhada de uma reestruturação em nossas representações internas. Por conseqüência, cirurgias plásticas, próteses, exercícios físicos, salões de beleza, cosméticos, roupas bonitas, etc. podem ajudar a melhorar a nossa aparência externa, mas se internamente o nosso mundo continuar feio, nada disso nos ajudará a encontrar a felicidade. E geralmente, fazer uma reestruturação no nosso mundo interior é mais fácil do que redecorar uma casa e custa menos do que um pote de cosmético, um bom banho de loja, uma aplicação de silicone ou uma operação plástica.
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do livro " Á Procura da Melhor Resposta"- Biblioteca 24x7- São Paulo 2009
[1] Como bem diz Daniel Goleman em seu “best seller” Inteligência Emocional, Ed. Objetiva- 2000. Nunca zangar-se não é uma atitude inteligente. Inteligente é saber quando, onde, com quem e que medida zangar-se.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 28/04/2012
Alterado em 28/04/2012
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