João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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A Maçonaria, tal como hoje a conhecemos, é uma sociedade de indivíduos ligados por laços de pensamento, comportamentos e interesses mútuos, que se refletem na vida das pessoas que fazem parte dos seus quadros e das sociedades em que estão inseridas.
Seu objetivo é selecionar, no seio da sociedade, um rol de pessoas preparadas para conservar e transmitir às futuras gerações as tradições que a tem estimulado a procurar, sempre e sempre, o equilíbrio do espírito através da prática da virtude e o desenvolvimento social pelo exercício de uma sólida fraternidade.
Nesse sentido ela é uma idéia, uma prática e uma instituição, cujas raízes estão na tradição mais antiga da humanidade, que é a consciência de que a civilização é uma conquista nuclear que repousa na centralização do conhecimento e do poder. Essa centralização é feita em grupos específicos que se ligam por cooptação e se mantém pela prática da irmandade, cujo alicerce está no suporte mútuo que deve ocorrer entre seus membros.
Esses grupos ganharam, ao longo do tempo, o título de Irmandades.
 
A Maçonaria é, pois, uma Irmandade, cuja origem repousa na idéia de que existe uma ordem social perfeita que pode ser realizada pela união dos homens de boa vontade. Essa união promove o aprimoramento dos espíritos congregados, dando como resultado uma egrégora que resulta da sinergia promovida pela reunião dos Irmãos e sustentada pelas virtudes pessoais que cada um deles trás para o grupo, contribuindo dessa forma para o crescimento coletivo e o enriquecimento ontológico de cada um dos indivíduos pertencentes ao grupo.
Destarte, como idéia, a Maçonaria é contemporânea das primeiras civilizações. Desde os tempos mais antigos, os povos mantém a tradição de preservar sua cultura, seus conhecimentos, seu sistema de vida através de “grupos” específicos de indivíduos que comungam de interesses mútuos. Esses grupos se reúnem por cooptação, procurando reunir, da forma mais nivelada possível, os “iguais” dentro de uma sociedade, fundamentados na crença de que aqueles que estão mais envolvidos com determinado sistema é que tem o maior interesse em preservá-lo.
É neste amplo espectro, que funde religião, política, mitologia e história, que nós iremos encontrar as antigas manifestações culturais conhecidas como “Mistérios”, que vários autores maçons costumam invocar como sendo as estruturas mais antigas da Maçonaria. Aqui caminhamos nas sombras e só podemos fazer conjecturas, baseadas em analogias entre os ritos praticados por aqueles povos e os símbolos comuns compartilhados por eles e pela Maçonaria moderna, mas é certo que existe uma ligação e uma relação de antecedente e conseqüente entre essas manifestações espirituais dos antigos povos e a Arte Real hoje praticada.
 
Com o tempo essa idéia evoluiu para uma prática social que resultou na formação dos grupos diversos dentro das sociedades. Assim, a idéia, que em princípio tinha uma conotação religiosa e servia ao próprio sistema de governo praticado nesses antigos tempos, fragmentou-se e passou a ser usada por grupos particulares na defesa de seus próprios interesses corporativos.
Nasciam assim as associações de classe, as corporações obreiras, os partidos políticos, mas agora já despregados da idéia original, que hospedava um misto de religiosidade e política de estado. O objetivo passava a ser então a defesa das próprias conquistas do grupo, a sua preservação e desenvolvimento, a partir de uma ótica muito particular. Situa-se nesse espectro as antigas Corporações de Obreiros tipo “Collegia Fabrorum” dos romanos, as Corporações de Ofício da Idade Média (guildas) e as chamadas Lojas operativas dos pedreiros medievais, famosos construtores de igrejas e edifícios públicos, dos quais o termo maçom foi retirado.
É evidente que a Maçonaria praticada por esses antecessores medievais era muito diferente da que se pratica hoje. Não sobreviveram registros suficientemente precisos para dar ao historiador uma idéia bastante clara de como era a Maçonaria praticada por essas Lojas. Os fragmentos dos ritos, os documentos manuscritos que versam sobre aspectos particulares dessas antigas sociedades, seus próprios registros, que sobreviveram á ação do tempo, por falta de continuidade histórica e até de um certo padrão de unidade entre essas informações, acabam mais por confundir do que esclarecer quem se propõe a escrever sobre a Maçonaria medieval. Fica sempre uma idéia de corporativismo, temperado por uma mística muito própria da cultura daquela época, quando a Igreja Católica dominava toda a vida cultural da sociedade ocidental, com claros reflexos na vida política e social.
A origem da Maçonaria foi sempre um assunto muito obscuro e, ainda hoje, apesar da farta literatura já publicada a respeito, ainda reserva muitas surpresas ao historiador.
Como instituição ela só passou a existir no inicio do século XVIII, a partir da constituição que lhe foi dada pelos maçons ingleses, liderados pelo pastor anglicano James Anderson. Mas antes disso, como vimos, os maçons já se reuniam em lojas para praticar alguma coisa parecida com a Arte Real.
O que era essa Maçonaria anterior ás Constituições de Anderson, como eram os maçons operativos que construíram as grandes catedrais medievais, e depois os primeiros irmãos especulativos (alquimistas, filósofos, artistas e artesãos em sua maioria) que os sucederam, é algo difícil de definir como verdade histórica. Temos, depois deles, uma politização das instituições maçônicas, numa época em que as disputas dinásticas e os conflitos religiosos invadiram as Lojas e nelas refletiram o conturbado ambiente que se vivia então. E desse período, após a institucionalização da Maçonaria como uma sociedade de cunho universal, com personalidade jurídica própria e cultura filosófica e administrativa de certo modo unificada, a idéia que dela temos, como bem observou Jean Palou, citando M. Lepage,.é a de que a Maçonaria especulativa pode ser contada como mais um episódio da Reforma religiosa.[1]   
 
E é nesse contexto que ela se insere, pois em todos os casos, quando se trata de Maçonaria, o que encontramos é sempre uma ação política, religiosa ou cultural, que tem em mira a superação de momentos particularmente difíceis que a sociedade está vivendo. Essa dificuldade pode ser de ordem política, como a que vivia a Inglaterra nos dias de Anderson, a França revolucionária de 1789, os Estados Unidos na época da sua independência, o Brasil nos anos que antecederam a proclamação da República etc., ou então uma fase obscura e complicada da vida espiritual de uma comunidade, em que o obscurantismo e a intolerância imperam.
Não foi diferente a chegada da Maçonaria em Mogi das Cruzes. Em 1912, quando ela aqui aportou, vivia-se um momento particularmente aflitivo nas relações entre os partidários das idéias liberalizantes dos novos republicanos que defendiam a modernização dos costumes e os conservadores que defendiam o velho sistema, baseado na família patriarcal. Esse status quo tinha no clero e na elite econômica e social da terra a sua principal base de sustentação.
Uma reação a esse ambiente cultural nos parece ser a fundação da Loja Maçônica União e Caridade IV em 1912. Isso, pelo menos, é o que transparece da manifestação do grupo fundador, registrado na Ata da fundação da Loja na qual eles registram a sua intenção de lutar contra “ (...) a superstição e a intolerância reinantes nesta cidade, onde os espíritos liberais e esclarecidos soffrem a pressão do clericalismo que avança nas suas conquistas, impolgando os espíritos tíbios e ignorantes, jugulando o progresso da sociedade em seus surtos(...)”
Corrobora essa tese o fato de nesse grupo pioneiro pontificarem vários Irmãos de orientação kardecista, que além de fundarem a Loja Maçônica União e Caridade Iv, fundaram na mesma época o Centro Espírita Santo Antonia de Pádua.     
   Esse fato nos parece bastante revelador.
 
       A Maçonaria está completando o seu primeiro século de vida em Mogi das Cruzes. Cem anos pode parecer pouco considerando a tradição de uma manifestação cultural cuja origem se perde na bruma dos tempos. Mas não é insignificante quando se pensa que ela cobre quase um quarto de história da vida da nossa cidade. E que, pelo nome dos cidadãos que pertenceram aos seus quadros, nomes esses que serão encontrados nos arquivos históricos da municipalidade como principais atores da vida política, econômica e social da cidade, a sua história é parte fundamental da própria história de Mogi das Cruzes. Assim, ao dar a público este relato dos cem anos da Loja maçônica União e Caridade IV buscamos resgatar também um pouco da vida da nossa comunidade neste último século. Esperamos que os leitores, ao deparar com este relato, possa também compartilhar de alguma memória da sua própria vida nesta cidade, pois aqui não se trata apenas de um tema que interessa somente aos maçons de Mogi das Cruzes, mas de uma importante fração cultural que nela se insere e tem uma participação muito importante.     
  
 


[1] A Maçonaria Simbólica e Iniciática- Ed.Pensamento, são Paulo, 1986.


INTRODUÇÃO AO LIVRO "CEM ANOS DE MAÇONARIA"- LOJA UNIÃO E CARIDADE IV-
EDIÇÃO COMEMORATIVA DOS CEM ANOS DE EXISTÊNCIA.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 30/04/2012


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