Sombra e Persona

Como todos os arquétipos anteriores, o Visionário também tem o seu lado Sombra. Ele se manifesta pela autonegação de si mesmo, através dos mecanismos do falso eu, da abnegação e a projeção nos outros.
O falso eu se manifesta pelo ato de fingir, ou tentar mostrar o que não somos. É o ato de apresentar uma falsa fachada quando a nossa personalidade está a exigir uma atitude inequívoca.
A abnegação ocorre quando renunciamos a ser nós mesmos em função de um interesse qualquer, negligenciando a nossa missão de vida. Isso às vezes acontece por amor, para evitar conflito, para manter o equilíbrio no grupo, para obter aprovação e aceitação de alguém, por algum tipo de vantagem pessoal.
Há ocasiões em que a abnegação é necessária, mas quando esse aspecto começa a ser predominante em nós, é sinal que o nosso Espírito Visionário está sendo influenciado pelo seu lado som-bra. Isso significa fraqueza de coração, falta de coragem para mos-trar quem realmente somos e o que queremos. Quando isso acon-tece ocorre a negação parcial ou total do Eu e ninguém pode ser feliz na obscuridade se o seu desejo é brilhar como uma estrela no céu.

Projeção acontece quando refletimos aspectos de nós mesmos nos outros, aspectos que não queremos admitir em nossa personalidade, ou com os quais não estamos sabendo trabalhar. É o comportamento expresso naquele ditado que diz: quem usa cuida. Isso quer dizer que nós ficamos denunciando nos outros os vícios de personalidade que não queremos reconhecer em nós mesmos.
Há cinco estágios numa projeção, que são:

1. A Idolatria

É a tendência de idealizar em outras pessoas as qualidades que achamos que não temos. Nesse caso não vemos as pessoas como elas são, mas como gostaríamos que nós mesmos fôssemos.

2. O Deslocamento

O nosso ídolo pode ter pés de barro, mas nós racionalizamos o defeito por que o que queremos na verdade é en-contrar uma justificativa para uma possível deficiência nossa. Não enxergamos a deficiência do outro porque isso implica em ter que reconhecê-la em nós mesmos.

3. O Desprendimento

É o momento em que o ídolo desmorona. Abrimos os olhos, verificamos que não há mais nenhuma justificativa para continuar idolatrando a pessoa. Raiva, desapontamento, critica e condenação é o que sobra da idolatria anterior. Nesse estágio, ou procuramos outra pessoa para idolatrar ou entendemos que na verdade estávamos nos projetando no outro. Então começamos a nos desprender dele.

4. O Reconhecimento

Ao nos desprendermos da visão idealista que tínhamos, criamos condições para passar para o estágio do reconhecimento. Ao reconhecer que estávamos projetando nos ou-tros os nossos próprios aspectos indesejáveis, adquirimos capacidade para lidar com eles de forma objetiva. Não haverá mais ídolos no quais estaremos projetando as nossas qualidades nem demônios dos quais precisaremos fugir. Só restam em pessoas muito hábeis e outras não tão hábeis. Só pessoas dignas de admiração e outras não tão dignas. Só habilidades e não ideologias. Dessa forma reconhecemos e convivemos melhor com elas e conosco mesmos.
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DO LIVRO CÓDIGOS DA VIDA- CLUBE DOS LEITORES, 2011