O PREDADOR
Sinopse.
Um pelotão de boinas verdes do exército americano, liderado pelo Major "Dutch" (Arnold Schwarzenegger), é enviado para uma missão na América Central,com o objetivo de resgatar alguns soldados e um ministro da Guatemala da mão dos guerrilheiros. Mas os componentes da brigada logo descobrem que a tal missão é uma balela, pois os soldados que eles deviam resgatar eram, na verdade, agentes da Cia que já estavam mortos há muito tempo e a história do ministro fora inventada pelos superiores em Washington.
A morte dos agentes, ocorrida de maneira muito misteriosa, começa a ser esclarecida quando os “boinas verdes” começam a ser caçados por uma estranha criatura, cujo único prazer é matar pessoas como se fosse um esporte.
No elenco um bando de caras fortões, encabeçado por Arnold Schwarzenegger e Carl Wheathers, o adversário de Stalonne em Rocky, o Lutador. O filme foi feito no fim dos anos oitenta e rendeu mais de cem milhões de dólares, só nos Estados Unidos. Faturou um Oscar pelos efeitos especiais e fez tanto sucesso que logo ganhou uma sequência de filmes com o mesmo personagem. Num deles a criatura aparece até como “mocinho”, lutando contra outra criatura mais feia ainda e mais perversa, o Alien.
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Vi esse filme no começo dos anos noventa e ele não me chamou muito a atenção, a não ser pelos bons efeitos especiais que apresentava. Afinal, há vinte e tantos anos atrás a computação gráfica não estava tão desenvolvida. Era apenas um filme de aventura, tão comum entre os filmes de Holywood, que gostam de mostrar os “heróis americanos”, mostrando a sua eficiência no Terceiro Mundo, lutando bravamente para preservar os bons valores da democracia e da liberdade, que eles tanto gostam de apregoar.
No entanto, nesta madrugada, quando o filme terminou, e eu ainda estava sem sono, abri a janela e fiquei matutando a olhar o infinito pontilhado de estrelas. Um milhar de conexões mentais foram se estabelecendo à velocidade da luz e só tive tempo de anotar algumas para pela manhã, escrever este resumo.
A primeira coisa que me veio à cabeça é o que o predador do filme veio do espaço. Ele era uma espécie de caçador, desses que vão à Africa para praticar “safari”, ou seja caçar animais selvagens por esporte. Hoje essa atividade não é politicamente muito correta, mas lembro-me que no passado já foi um “must” ir à Africa ou ao Pantanal matogrossense caçar animais selvagens. Pacotes turísticos eram organizados para isso e custavam caro. Havia até um cara que todo ano ia à Africa caçar e costumava filmar suas façanhas. Galhadas de gnus e cabeças de leões, peles de leopardos, presas de elefantes, etc, enfeitavam a bela sala de estar onde o tal Kirongosi, o Caçador (deveria ser Predador), tomava o seu conhaque e contava as suas façanhas a um cinegrafista que filmava tudo em super oito. E nós, bobões, pagávamos para ver aquilo nas matinés.
A natureza é sábia. Ela fez as espécies e lhes deu a capacidade de multiplicar-se através da procriação. Mas fez também, para cada espécie, uma outra que lhe faz as vezes de predador. Não fosse assim, a multiplicação sem freio seria infinita e a própria espécie se extingiria em razão da super população. Aliás, se um dia a humanidade vier a desaparecer, esse será o motivo. Super população.
Espécie sem predador vira praga. Assim, toda espécie tem o seu predador na forma de outra espécie, que dela se alimenta, ou a ela combate, pela posse dos recursos naturais.
Só o ser humano, por ter se desenvolvido para além dos limites da organização animal, é que não tem um predador na natureza. Por isso ela criou, entre os próprios membros da sua espécie os seus próprios predadores. O homem é o predador do homem. O homem é o lobo do homem, alguém já disse algures.
Não me perguntem porque essas conexões mentais se estabeleceram a partir do velho filme do Schwarzenegger. Eu não sei. Talvez seja porque olhei para as estrelas ao longe e na tela da minha TV estava passando um jornal onde se falava do Mensalão e da CPI do Cachoeira. Ai a minha mente ligou tudo. O predador do filme veio do espaço, atraído pelo conflito, pelo calor da selva tropical, pelo cheiro do sangue. Era um caçador do além que gostava de caçar seres humanos para tirar suas peles e guardá-las como troféus, como os Kirongosis da vida faziam com os leões, os leopardos, os gnús.
Aí pensei que a espécie humana é aquela que tem mais predadores entre os animais de sua própria espécie. Um animal não mata membro da sua espécie a não ser em defesa de seu espaço ou da sua prole. Homem mata homem por mero prazer ou simplesmente pela cobiça de ter sempre mais. Mais do que pode comer, mais do que pode vestir, beber, gozar ou sentir qualquer outra sensação que lhe agrade. Há os que fazem isso explicitamente, como os bandidos que assaltam uma casa e matam seus habitantes para roubá-los. Esses são os menos perigosos, pois a sociedade sempre acha um meio de se livrar deles. Os piores são os predadores implícitos que usam as armas da política e dos cargos públicos para praticarem suas ações predatórias. Quantas escolas, creches, hospitais, asilos, estradas e outros serviços deixam de ser construídos quando esses predadores desviam os recursos públicos para os bolsos de seus amigos e familiares e para os seus próprios? Quanta gente não morre em decorrência disso? Isso sim, é ação predatória em larga escala. Esses a sociedade preserva e até premia.
Hitler, Napoleão, Stalin, Muamar Kadafi, Sadan Hussein, Ho Chi Min, George Bush, Barac Obama, Basshar Al Assad, e todos os democratas e ditadores que levaram e estão levando povos inteiros ao holocausto também são predadores. Por isso Drummond disse que tinha um medo imenso deles. Isso quer dizer que não precisamos procurá-los entre os extra-terrestres. Nós mesmos os fabricamos em série por aqui mesmo.
No final o “herói americano”, que tudo vence, como sempre, derrota o predador que veio do espaço. Mas este reserva uma surpresa final. Abre o pulso cheio de engenhocas tecnológicas e detona uma bomba nuclear. E morre rindo diabolicamente, pensando no estrago que vai causar.
Este texto é mero exercício de imaginação e qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, e ainda com aquelas que ainda nascerão, terá sido mera coincidência. Mas não deixei de sentir um frio na espinha ao pensar que um dia um dos nossos predadores derrotados também abrirá o seu pulso para fazer o mesmo. E rirá diabolicamente ao fazer isso, como Hitler deve ter feito quando mandou inundar o metrô de Berlin. Como também devem ter rido Pinochet, Jorge Videla, Charles Taylor, Slobodan Milosevic, Harry Truman, Idi Amin Dadá, Pol Pot, Jim Jones, Joseph Stalin e outros quando perpetraram suas ações predatórias.
Bem. Não sei se os autores desse filme queriam transmitir alguma mensagem com ele. Se sequer imaginaram que essa despretenciosa aventura dos “heróicos” boinas-verdes americanos na floresta de uma república bananeira poderia inspirar esse tipo de reflexão. Sabemos que predadores são úteis para manter o equilíbrio da natureza. Talvez seja por isso que a gente tolera esses políticos que roubam e mutilam a espécie humana e ainda vota neles. Nós os fabricamos porque eles necessários. Espécie que não tem predador vira praga.
O predador do filme é uma criatura que tem corpo de gigante e cara de caranguejo engulido por um polvo. Sua aparência é horrorosa. Os nossos nem tanto. Vestem-se bem, falam melhor ainda e suas aparências, no geral, são risonhas e agradáveis. Convencem. Mas se pudéssemos ver suas almas, talvez o predador do Schwarzenegger não nos parecesse tão feio assim.
Esta noite vou rezar para não sonhar com o Lula ou com o Barac Obama.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 27/07/2012
Alterado em 27/07/2012