A LOJA MAÇÔNICA
Na tradição arcana, o termo Loja (em sânscrito Loka) designa as diferentes partes do universo onde a vida se manifesta. Refere-se também as diferentes idades, ou fases que a humanidade deve passar para cumprir o seu destino kármico. Assim, a terra seria uma Loka, assim como outras partes do Cosmo onde o Criador, supostamente, possa ter semeado alguma forma de vida. Nesse sentido, o pensamento humano, reunido em Loja e dirigido para uma finalidade, poderia influenciar na conformação do universo como um todo. Essa seria uma visão espiritualista dos propósitos da Maçonaria, como estrutura arquetípica da arquitetura cósmica, onde os maçons são vistos como “pedreiros da construção universal”. Por isso, também, o templo maçônico, onde se reúne a Loja dos maçons é visto como sendo um microcosmo que reflete esse macrocosmo, ou seja, uma representação simbólica do universo, onde a vida cumpre os seus ciclos energéticos, realizando sempre uma evolução no sentido da perfeição suprema.
O termo Loja hoje corresponde á uma assembléia de maçons. Nos tempos medievais era aplicado à reunião dos profissionais da construção civil que trabalhavam em uma determinada obra, para discutir os problemas técnicos com ela relacionados. Era uma espécie de corporação, formada a partir de uma forma associativa mais elaborada, conhecida como Corporação de Ofício dos Pedreiros Livres, cujos interesses e atividades abarcavam não só os aspectos relacionados com a obra em si, mas também regulava a prática profissional e a própria vida social dos profissionais do ramo da construção.
O que era essa Maçonaria anterior ás Constituições e como faziam os maçons operativos que construíram as grandes catedrais medievais, e depois os primeiros irmãos especulativos (alquimistas, filósofos, artistas e artesãos em sua maioria, e mais tarde militares e outros cavalheiros) que os sucederam nessas práticas é algo difícil de definir como fato histórico. Que cuidavam de seus assuntos de uma forma muito particular – como se fossem seitas religiosas − isso parece certo, pelo que se deduz dos documentos conservados. E que assim faziam por conta das próprias idiossincrasias, costumes e crenças da época, também nos parece óbvio. E que a arte por eles praticada era considerada uma arte sacra por excelência, isso também não deixa dúvidas.
Depois que a Arte Real deixou os canteiros de obras e empolgou “os espíritos de qualidade”, no dizer de Pawels e Bergier, ocorreu uma laicização das instituições maçônicas, numa época em que as disputas dinásticas e os conflitos religiosos invadiram as Lojas, nelas refletindo o conturbado ambiente que se vivia então. E desse período, após a institucionalização da Maçonaria como uma sociedade de cunho universal, com personalidade jurídica própria e cultura filosófica e administrativa de certo modo unificada, a idéia que dela temos, como bem observou Jean Palou, é a de que a Maçonaria, dita especulativa, pode ser contada como um episódio da Reforma religiosa. Ou então mais um rebento do pensamento liberal e reformista que surgiu quando o espírito humano foi libertado dos nós com que um clero ignorante e supersticioso o havia amarrado por mais de um milênio.
A SABEDORIA ARCANA
E é nesse contexto que ela se insere hoje, pois em todos os casos, quando se trata de Maçonaria, o que encontramos é sempre uma ação que tem em mira a superação de momentos particularmente difíceis que a sociedade está vivendo. Essa dificuldade pode ser de ordem política, como a que vivia a Europa nos dias de Anderson, com suas intermináveis guerras religiosas, a França revolucionária de 1789, os Estados Unidos na época da sua independência, o Brasil nos anos que antecederam á proclamação da Independência e a instituição da República, ou então uma fase obscura e complicada da vida social, política e cultural de uma comunidade, em que o obscurantismo e a intolerância imperam, como foi a época da Reforma Religiosa e da Contra Reforma que ela provocou.
Dada a característica que a Maçonaria moderna assumiu, ou seja, a de uma sociedade de cavalheiros, onde se busca desenvolver uma ética comportamental consentânea com os valores que a sociedade profana elege como úteis e desejáveis, muitas vezes o Tesouro Arcano que se esconde atrás dos símbolos, metáforas, lendas, metonímias e outros tropos de linguagem, bem como em complicados, e às vezes, bizarros rituais praticados com um espírito quase religioso, acaba sendo desprezado pelos novos Obreiros da Arte Real. Perde-se, nessa teatralização anímica, o verdadeiro significado desse alfabeto do Inconsciente Coletivo da humanidade, e quando, por vezes, algum fragmento dessa disciplina da alma é invocado em algum “quarto de hora de estudo”, tudo soa como se ali se estivesse recitando uma algaravia vazia de sentido e sem nenhum propósito prático, a não ser o cumprimento de uma tradição que ninguém mais sabe a que se refere.
Todavia, A Sabedoria Arcana contida nesses fragmentos de tradição, muitas vezes incompreensíveis até mesmo para os “iniciados” é como o Tosão de Ouro dos argonautas, ou a Pedra Filosofal dos alquimistas. Precisa ser garimpado pela bateia do espírito, pois é aí que está o princípio que informa a verdadeira Maçonaria. E aí entra a necessidade de conhecermos a linguagem maçônica, para poder decodificar o sentido da mensagem oculta nos seus símbolos, metáforas, analogias, mitos e alegorias.
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Próximo texto: a questão da linguagem
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 03/08/2012
Alterado em 03/08/2012