João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


O Princípio trinitário

A utilização do triângulo como símbolo de realidades espirituais é muito antiga e pode ser recenseada em todas as tradições religiosas da antiguidade. Na religião dos povos da Mesopotâmea, por exemplo, o universo era dividido em três regiões, cada qual sob o domínio de um deus. O céu cabia ao Deus Anu, a terra era governada por Enlil e as águas estavam sob o domínio da deusa Ea. Eles formavam a tríade das deidades construtoras e governantes do mundo.
Também no Hinduísmo, a idéia de uma trindade de deuses a construir e governar o universo é bastante antiga. Essa idéia sustenta que o mundo é construído e sustentado por uma trindade de deuses chamados de Brhama, Vixenu e Shiva.  Brhama é o deus da criação, Shiva é o deus da destruição e Vixenu da preservação. Na religião solar dos egípcios, essa trindade era composta por Osíris, Ísis e Hórus, sendo Osíris o Sol, Ísis a Lua e Hórus, o filho que deles nasce, ou seja o universo com todas as suas manifestações.
Mas é na tradição gnóstica dos neoplatônicos que a idéia da trindade iria ser trabalhada na sua forma espiritual mais elaborada.
Várias concepções, todas convergentes para uma única idéia, foram desenvolvidas pelos filósofos gnósticos para explicar como o princípio trinitário constrói e sustenta o universo.
Resumidamente poderíamos sintetizar o pensamento gnóstico dizendo que o primeiro ponto representa o eon (átomo) fundamental, origem de tudo o que existe, também conhecido como o Uno, a Mônada, o Princípio Fundamental, a Unidade, ou seja, o Espírito de Deus.
Os dois pontos inferiores são a dualidade que dele deriva, também conhecidas como Demiurgo e Sophia, deidades gnósticas que representam os princípios, masculino e feminino, que são mgerados pelo primeiro ponto e a ele se juntam para dar nascimento ao universo físico.
A idéia gnóstica de um princípio trinitário dando origem ao universo foi inspirada na filosofia de Platão. Com efeito, foi aquele filósofo grego que teve essa intuição, ao intuir que o universo se assentava sobre um triângulo virtual que eram as Idéias Separadas, o Demiurgo e a Matéria. Por Idéias Separadas entenda-se o Princípio Único, incriado, que pode ser visto como sendo Deus em espírito, ainda não manifestado em matéria. É o´Princípio que está em toda sua criação, mas é independente de sua criação, pois esta não está nele, como diz os versos da Baghavad Guita. Demiurgo é o Príncípio, que emanado das Idéias, contém em si a semente do universo. É Deus se manifestando como realidade a ser desenvolvida no plano do concreto. E a Matéria é tudo aquilo que resulta dessa manifestação de Deus no mundo das realidades concretas. É o próprio universo material.
Daí Platão dizer que o universo é constituído de “formas criadas”, sombras projetadas pela mente do Demiurgo, que se formatam em idéias (arquétipos), e estas em realidades materiais. 
Essa concepção foi aprimorada mais tarde pelos seguidores das escolas platônicas, que nelas inseriram elementos de pitagorismo e conceitos atomistas. Assim a Idéia, o Demiurgo e a Matéria, elementos sustentáculos da filosofia platônica na estrutura do triângulo primordial, entre os neoplaônicos recebeu nomes como Logos, Eon e Sofia, os quais deram origem às noções de Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Mãe dos católicos.
Mais tarde, tendo em vista a orientação francamente misógina que a Igreja de Roma impôs ao Cristianismo, praticamente excluindo as mulheres da sua parte espiritual, o conceito de Deus-Mãe, como partícipe fundamental da Trindade, foi substituído pelo de Deus-Espírito Santo. O princípio feminino, fundamental nas filosofias orientais, como co-autor do universo, e tão reverenciado entre os filósofos gnósticos, que o desenvolveram através do conceito altamente espiritualizado da Sofia (a Sabedoria), a que dá parto ao universo, não ganhou muito respeito entre os orientadores da Igreja católica.  É que para muitos teólogos da Igreja de Roma, a mulher não era portadora de dons espirituais capazes de conferir-lhes um papel tão relevante na construção do mundo. Assim, a trindade criadora, que na origem era composta por um “Pai”, uma “Mãe” e um “Filho”, semelhante ás trindades dos povos antigos, passou a ser integrada por um “trio” masculino composto pelo Pai, Filho e Espírito Santo, estranho conceito qua ainda hoje encontra muita dificuldade para ser explicado pelos teólogos católicos.  

Foi no modelo platônico, portanto, que a doutrina gnóstica foi buscar o seu conceito de trindade. Mas dada ao caráter místico de suas teses, os gnósticos sublimaram as idéias platônicas, puramente filosóficas, dando a elas uma conotação amplamente religiosa.
Destarte, os neoplatônicos trataram a noção da Trindade como se ela fosse um processo segundo o qual a Divindade Suprema atua e molda o universo. Plotino (c. 205-266), por exemplo, chama o Deus-Pai de Uno e o coloca no alto desse processo; dele flui o Logos, que é o seu pensamento, que se coloca à sua direita, logo abaixo; e finalmente a Alma Mundi, (Alma do Mundo), que se coloca á sua esquerda, formando a Trindade Suprema. 
                                     
Na Cabala filosófica, o universo, tal como é representado na Árvore da Vida, é formado pela conjunção dos três princípios fundamentais, simbolizados pelas três primeiras séfiras da Árvore. São elas a Séfira Kether, também conhecida como Ain, a séfira Chockmah, também conhecida como Ain Soph, e Binah, conhecida como Ain Soph Aur. Essas três séfiras são, na verdade, representações simbólicas de energias atuantes na composição do universo material e espiritual. Ain (Kether) é o Espírito de Deus, em potência, energia ainda não manifestada em matéria: Ain Soph é Deus já manifestado como Luz (como diz a Bíblia), e Ain Soph Aur é o universo material manifestado como criação divina. Assim se forma o triângulo cabalístico que
pode ser representado na forma abaixo ilustrada.

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           Kether, a coroa, o primeiro ponto, Ain, é Deus enquanto Espírito. Ele pensa o Universo, por isso Ele é o Grande Arquiteto do Universo. É o Pai, Princípio Masculino, que detém a semente que dá origem ao universo.
           Chockmah, o segundo ponto, á direita abaixo, também conhecido como Ain Soph, é o Filho, Deus Manifestado no mundo das realidades fenomenais.
            Binah, o terceiro ponto, á esquerda, abaixo, chamado de Ain Soph Aur, é a Mãe ((Schekinah), Princípio Feminino, pelo qual a divindade entra no mundo da matéria.  
A partir desses três pontos, dispostos em triângulo, se ramifica a Árvore da Vida, representação pictórica do cosmo em todas as suas manifestações. Esses três elementos também correspondem aos três fatores que, na filosofia de Pitágoras, são os formadores do universo material, ou seja, a luz, o som e o número.
E também correspondem, como já vimos, ás três leis fundamentais da formação universal que são a relatividade, a gravidade e o magnetismo.

A trindade maçônica

No mundo maçônico, os três pontos assumem diversos significados. Em termos estritamente filosóficos eles são representativos das três virtudes que sustentam o edifício filosófico e moral que a Maçonaria se propõe a construir: esses alicerces são a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Moralmente são também as três virtudes de caráter que todo maçom deve desenvolver: Justiça, Tolerância e Fraternidade.
Simbolicamente eles também formam o Delta Sagrado, sendo o ponto superior correspondente ao Oriente em Loja, local sagrado, onde fica o Venerável Mestre, e os dois pontos inferiores correspondem ao Ocidente, onde estão as duas colunas, (J e B) que correspondem ao mundo material. Ali estão os dois Vigilantes. Essas duas colunas são o sustentáculo do Templo. Os três pontos também têm uma correspondência astrológica interessante. Eles correspondem à constelação de Virgem, que é cercada por três estrelas em forma de triângulo, que são Régula, Spica e Arcturo. Essa disposição geométrica é reproduzida no “céu maçônico”, presente em todos os Templos.
Essa disposição astrológica foi reproduzida na planta geográfica dos edifícios públicos de Washington, capital dos E.U.A, onde  Arcturo representa a Casa Branca, Régula o Capitólio e Spica o monumento a Jorge Washington.
Esses três monumentos formam um triângulo simbólico, significativos das forças que construíram e regem a formação dos Estados Unidos como um país, e simbolizam ser a América a nova “utopia” sonhada pelos maçons oitocentistas. Esse simbolismo também teria sido adotado na organização jurídico-administrativo da nação, inspirada nos ideais do Iluminismo. Dessa forma, Arcturo representaria o Poder Judiciário, Régulo o Poder Executivo e Spica o Poder Legislativo, poderes esses que funcionam em edifícios estratégicamente dispostos na capital americana. 
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DO LIVRO O TESOURO ARCANO- NO PRELO.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 18/09/2012
Alterado em 18/09/2012


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