João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


Os filtros da percepção
                                                                
     O modelo de mundo que temos em nossas mentes é um retrato individualizado do mundo real, desenhado segundo uma ótica personalíssima, que jamais se repete de pessoa para pessoa. Por isso é que dois indivíduos, mesmo que nasçam e sejam criados pela mesma família, compartilhem as mesmas experiências, vivam no mesmo ambiente, leiam os mesmos livros, freqüentem a mesma escola, tenham os mesmos amigos e professores, etc., poderão não desenvolver semelhantes modelos de mundo e, conseqüentemente, não oferecerão, a um dado estimulo, a mesma qualidade de resposta.
      Isso ocorre por que o processo segundo o qual a mente filtra as informações que recebe e as remonta como “programa” é que determina a forma pela qual emitimos a resposta, e eles nunca são iguais.
     A PNL identifica três filtros pelos quais a nossa percepção do mundo é processada: generalização, distorção e cancelamento. Esses filtros têm como função lapidar a realidade objetiva e conformá-la aos modelos de mundo que temos em mente.
     Esse processamento tanto pode concorrer para limitar a nossa capacidade de agir quanto para aumentar a eficácia das nossas respostas. Como esses padrões nos são induzidos pela linguagem neurológica que usamos para decodificar a informação e remontá-la em nossas mentes, é importante saber como esse processo acontece e como pode ser trabalhado, para que as experiências que vivenciamos não se tornem fatores de limitação da nossa capacidade de resposta, ao invés de proporcionar um recurso que pode ampliar a sua quantidade e melhorar a sua qualidade.
 

Generalização 

     Através do filtro da generalização nós tomamos a parte pelo todo. A partir do resultado de uma experiência em particular, nossa mente assume que toda experiência semelhante poderá apresentar o mesmo resultado. E com base nessa conclusão , classifica a informação num grupo já conhecido e emite a resposta que aprendeu a dar nesses casos. A generalização é essencial para nos adaptarmos ao mundo em que vivemos. Se colocarmos a mão no fogo e conseguirmos como resultado uma bela queimadura, sabemos que resultado semelhante ocorrerá toda vez que essa experiência se repetir. Nesse caso, generalizar é um filtro útil, que nos ajuda a evitar respostas equivocadas e prejudiciais à nossa saúde.
    Todavia, é preciso levar em conta que todos os objetos que emitem calor não são necessariamente perigosos e provocam queimaduras. Generalizar essa informação pode nos levar a evitar, para sempre, uma aproximação do calor, o que nos instalaria um “programa” de ação limitante que diminuiria a nossa capacidade de resposta. Esse é o programa contido na famosa expressão popular: “gato escaldado tem medo de água quente.” Mas nós não somos gatos e podemos analisar, com inteligência o que devemos temer. Nosso processo de generalização pode ter um controle inteligente que nos permita formatar “programas” que não sejam meramente reativos e nos afastem de experiências enriquecedoras pela simples informação da dor que ela poderá eventualmente trazer.
     Todas as generalizações são verdadeiras para quem as faz e podem ser falsas para alguém mais, porque as crenças e os valores das péssoas são diferentes. Depois, o contexto e as condições em que a experiência ocorre também exercem um importante papel nesse processo.
O perigo está em fazer da generalização um padrão definitivo para orientar as nossas respostas futuras. No tempo da ditadura militar, por exemplo, não era conveniente expressar sentimentos a respeito dos nossos governantes. Fazê-los podia representar a diferença entre prisão e liberdade e, à vezes, até entre a vida e a morte. Assim, ficar calado, naqueles tempos, era uma boa regra. Aprendi isso depois de levar alguns safanões e passar algumas horas em uma cela na antiga delegacia do DOPS, ouvindo ameaças veladas e suportando brincadeiras de mau gosto de alguns sujeitos que encontravam prazer em aterrorizar as pessoas. E tudo que eu fizera foi participar de algum protesto contra alguma coisa que eu nem me lembro mais o que era. Mas hoje, uma regra dessas não tem mais utilidade. Na verdade, chega a ser nociva, pois pode nos levar à indiferença para com os rumos que as autoridades dão ao nosso país. E nós sabemos o quão perigoso pode ser esse alheamento. Essa regra prejudicou o desenvolvimento de muita liderança emergente e mutilou sensibilidades que nunca mais se recuperaram. Em conseqüência, temos hoje esse baixo nível de cidadania e participação dos bons cidadãos na vida pública.  
 

Cancelamento 

      Pelo filtro do cancelamento, a nossa mente escolhe quais os elementos da experiência merece mais a nossa atenção. Assim, esse filtro acaba fazendo uma seleção, segundo a qual nós escolhemos o quê, na informação, é importante registrar.
     Um exemplo de como funciona esse mecanismo pode ser verificado quando estamos num salão repleto de pessoas. Ouvimos e falamos com algumas delas e prestamos mais atenção em umas do que em outras. Nesse caso, não é que não as escutamos, simplesmente cancelamos o que dizem ou o que fazem, evitando que a mente se ocupe de coisas que não nos interessa naquele momento.
     O filtro do cancelamento é muito útil para ajudar a mente a ficar focada no objeto que lhe interessa em determinada ocasião. Mas, da mesma forma que não existem generalizações boas ou más, mas sim, úteis ou nocivas segundo o contexto e a necessidade, também é preciso ter cuidado com o que cancelamos através desse mecanismo. Você nunca foi cobrado por alguma coisa em que deveria ter prestado mais atenção e não prestou? Já não teve prejuízo por causa dessa falta de atenção, ou dito de outra forma, por ter elegido equivocadamente a informação a cancelar?
     Muitas vezes ocorre de cancelarmos informações úteis, que podem nos fazer muita falta para um resultado bom, no final das coisas. Isso já aconteceu comigo muitas vezes. Quanto aborrecimento e prejuízos financeiros eu poderia ter evitado se não tivesse cancelado determinadas informações? Ah! Se eu tivesse ouvido mais os meus pais, se eu soubesse naquele tempo o que sei agora, se eu não tivesse sido tão descuidado, se...... Enfim, você não diz para si mesmo coisas como essas algumas vezes? Claro que diz. Você é tão humano quanto eu e sua mente também tem esse mecanismo de cancelamento trabalhando o dia inteiro.  
 

Distorção 
 
     O filtro da distorção é aquele que nos permite fazer mudanças na nossa base sensorial. Recepcionamos a informação na totalidade, mas só levamos para a nossa “base de dados” aquelas que estão de acordo com o modelo de mundo que temos em mente. “ Estou vendo que essa pessoa não presta, mas é dela que eu gosto....” Sei que isso não deu certo com outras pessoas, mas comigo será diferente...” Meu pai fumou a vida inteira e não teve câncer, por isso eu também fumo....”.   

    Como ocorre com os dois filtros anteriores, a distorção pode ser útil ou nociva. É útil quando nos ajuda a criar, a planejar, a prever os resultados de uma experiência. É nociva quando nos afasta da realidade e nos leva a formatar um modelo de mundo baseado em falsas premissas, ou a tomar fantasias por realidades objetivas, empobrecendo o nosso mapa de mundo ou criando zonas de decisão muito perigosas.
     Um exemplo de distorção nociva é a pessoa que foi enganada uma vez por alguém e agora recebe como “insincera” toda manifestação de interesse que alguém lhe dirige. E com base nessa análise destorcida acaba formatando um “programa” terrivelmente limitante que a tornará eternamente desconfiada de tudo e de todos.
     Distorcer é ajustar, aplainar, conformar uma informação aos moldes que já temos em nossa mente. Isso pode nos ajudar a eliminar o que é inútil ou nocivo na informação. Mas também pode mutilá-la em seus elementos mais importantes, deformando-a e modificando-a em sua estrutura. Isso pode ser perigoso, pois nos priva de elementos fundamentais para a formatação de um mapa mais preciso. 
 
   Aprendendo a filtrar o mundo
 
     Dessa forma se percebe a importância de aprendermos a filtrar o mundo que entra em nossas mentes. Isso nos mostra também que podemos criar para nós mesmo um mundo de altíssima qualidade de vida é possível, desde que saibamos formatar modelos internos que nos ofereçam maior variedade de escolhas com melhor qualidade nas respostas.
     É nisso que a PNL, como disciplina, pode nos ajudar. Afinal, se a qualidade das nossas ações depende dos nossos modelos internos então é fácil concluir que se eles forem pobres em opções de resposta, medíocre também será o nosso desempenho perante a vida. Nesse postulado está também presente a velha sabedoria dos sábios da antiguidade: o que está fora é igual ao que está dentro, diziam eles, ou seja, o mundo que construímos fora de nós é retrato do mundo que construímos dentro de nós. Fica mais fácil entender esse postulado se dissermos que ninguém pode ter sucesso na vida se não tiver um forte sentimento de autoconfiança dentro de si; e ninguém adquire autoconfiança agasalhando crenças e valores limitantes. Destarte, fracasso gera fracasso e sucesso gera sucesso. Essa é a corrente de feedback que alimenta o nosso aprendizado: um circuito intermitente de informações que vai de fora para dentro e de dentro para fora de nossas mentes, simultaneamente, modelando nossas personalidades. A  autoconfiança aumenta com os bons resultados e os bons resultados nos ensinam a fazer cada vez melhor.  

    Não é o mundo em que vivemos que é pobre e cheio de dificuldades. E não é nele que se encontra a verdadeira causa da pobreza, da infelicidade e das desgraças que atingem a vida das pessoas. A razão de termos que conviver com esses hóspedes indesejáveis está no modelo de mundo que nós construímos em nossas mentes. As pessoas que parecem não encontrar nenhum caminho na vida são aquelas que têm dificuldade de ver, ouvir, ou sentir as possibilidades de sucesso. Seus modelos de mundo são tão pobres em opções de resposta que tudo que salta perante seus olhos, ou é sussurrado aos seus ouvidos ou se apresenta perante seus sentidos prioceptivos são barreiras e dificuldades. Em suas mentes os muros são intransponíveis, as montanhas imensamente altas, o frio e o calor demasiadamente intensos, as distâncias incrivelmente longas.
    A PNL oferece às pessoas uma forma diferente de ver, ouvir e sentir o mundo, o que quer dizer que ela convida seus praticantes a filtrá-la de acordo com certos pressupostos. Alguns desses pressupostos são estruturas de pensamento que nos dizem como devemos encarar os desafios que a vida  nos apresenta. Eles podem ser resumidos em algumas atitudes práticas, como por exemplo:
 

 

  1. Não computar os desafios que a vida nos coloca como problemas a serem resolvidos, mas como resultados a serem atingidos. Isso significa pensar no que as pessoas (você inclusive) querem, nos recursos necessários para essa realização e como usá-los para atingir esses resultados. As perguntas que devem ser feitas nesse caso são: Para quem fazer isso? Como fazer isso? Por que fazer isso? Quando fazer isso? Onde fazer isso?
 
  1.  Não computar maus resultados como fracassos, mas sim como elementos de aprendizagem. Pensar que a nossa experiência fracassou poderá nos constranger a não repeti-la nunca mais. Mas se considerarmos que tivemos apenas um mau resultado poderemos reorientar o processo e corrigir as distorções. Mau resultado pode ser tratado como informação útil, mas a idéia do fracasso é uma sentença de morte para a nossa motivação. Algumas perguntas que podem ser feitas nesse caso são: O que foi conseguido com isso? O que faltou para a realização desse objetivo? Quais os recursos eu precisam ser providenciados para uma nova tentativa? Quais as novas estratégias que podem ser utilizadas?
 
  1. Não perguntar por que as coisas acontecem, mas sim, como acontecem.  Isso nos ajuda a entender a natureza dos problemas ao invés de levar a nossa mente a ficar procurando justificativas e razões para o fato das coisas não acontecerem como queremos. Se soubermos como elas acontecem, temos uma chance de modificar o processo numa nova tentativa, fazendo-as de modo diferente.
 
  1. Adotar um modelo aberto de pensamento que inclua muita curiosidade, fascinação e flexibilidade na forma de ver o mundo. Com isso estamos convidando você a adotar uma atitude extremamente receptiva a todas as informações que recebe. Mais que isso, a aprender a recepcioná-las com o espírito de uma criança: fascinada com o que vê, ouve e sente, mas de forma alguma assustada com isso.  O que isso pode me ensinar? Onde, como e quando isso pode me ser útil? Essas são perguntas que podem ser feitas nesse caso. 
 
Exercício
 

  1. Sente-se em uma poltrona confortável e relaxe. Calibre a respiração, respirando profundamente com o abdome durante uns dois minutos.
 
  1. Pense em uma experiência vivida, que lhe tenha trazido muita alegria e satisfação. Por exemplo: o dia do seu casamento, ou formatura, uma festa na qual você tenha se divertido muito, o momento em que você foi escolhido para aquele emprego que tanto queria etc. Feche os olhos e imagine que está vivendo essa experiência justamente agora. Procure realmente ficar associado à cena feliz, isto é, vivendo-a realmente, e não como mero observador dela.
 
  1. Pesquise a representação mental que você faz desse acontecimento. Como ela está gravada em sua mente? Tem cores fortes, com luminosidade e brilho intensos, ou aparece em preto e branco, opaca e difusa? Como é essa cena? Grande, nítida? Aparece em uma tela plana, com ou sem moldura? Identifique as características visuais dessa cena e passe depois aos sons. Verifique se são graves ou agudos, suaves ou estridentes, modulados ou contínuos. Pesquise a intensidade, o timbre, a duração, a ressonância, a fonte de onde ele emana. Anote todas as informações sonoras que você puder obter. Faça a mesma pesquisa com as informações cinestésicas que a cena lhe dá. Verifique a temperatura ambiente, a textura dos objetos, o movimento as dimensões dos objetos, suas formas etc. Localize em que lugar do corpo ela parece se alojar.
 
  1. Levante-se, ande um pouco, quebre o estado.
 
  1. Volte á poltrona, sente-se novamente, relaxe.
 
  1. Vá para dentro de si outra vez, mas agora procurando vivenciar uma experiência que lhe traz lembranças e sensações desagradáveis. Não escolha experiências que lhe tenham provocado sentimentos de extrema angústia, medo, ódio ou perigo. Tais experiências tendem a monopolizar a mente por inteiro e impedem que ela possa observar seus próprios processos. Escolha uma experiência de média intensidade emocional.
 
  1. Pesquise os códigos neurolinguísticos com os quais ela foi registrada em sua mente, ( visuais, auditivos e cinestésicos), da mesma forma como fez com a experiência feliz.
 
  1. Levante-se, ande um pouco, quebre o estado.
 
  1.  Agora volte para a poltrona e relaxe novamente.
 
  1. Pense novamente na situação que o aborreceu. Quando se sentir associado a ela ( sentindo-a realmente), vá substituindo os códigos neurolingüísticos da experiência desagradável pelos códigos da experiência feliz. Ponha nela as cores, o brilho e a luminosidade, da experiência feliz, na experiência infeliz.
 
  1. Faça a mesma coisa com os sons e com as cinestesias, passando para a experiência infeliz os códigos neurolingüísticos sonoros e cinestésicos da experiência feliz. Quando tiver remontado a experiência com os novos códigos, ancore-a com um toque em algum lugar do seu corpo.
 
  1.  Levante-se, ande um pouco, quebre o estado.
 

 Toque naquele lugar do corpo onde você ancorou a experiência remontada. O que é que mudou nos seus sentimentos a respeito dessa experiência infeliz? 

           
 
 
OS FILTROS DA PERCEPÇÃO-PNL


resumo do capítulo III- Livro " Á PROCURA DA MELHOR RESPOSTA'- BIBLIOTECA 24X7- 2010
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 06/11/2012
Alterado em 06/11/2012


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