João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


Morreu o poeta arquiteto Oscar Niemeyer. Viveu cento e quatro anos, vida equivalente á de um patriarca bíblico. Aliás, se ele fosse um patriarca hebreu ninguém acharia estranho. Eles sempre foram interessantes como modelos de vida. Quando não eram fundadores de nações como Abraão, Isaque e Jacó, eram profetas, guerreiros, juízes ou poetas. Niemayer foi tudo isso. Com Juscelino fundou o novo conceito de nação que o Brasil se tornou a partir dos anos cinqüenta; como profeta poderia predizer o destino da arquitetura nas formas das suas obras futuristas e desvinculadas de qualquer traço de condescendência com um passado de colonialismo e opressão. Como guerreiro enfrentou a ditadura e se tornou um auto exilado que se recusava a emprestar seu nome a um regime autoritário e opressor.  Poeta certamente ele foi. Sua poesia era a forma que se levantava no horizonte, como um poema feito de concreto armado. Seus trabalhos parecem figuras que voam. Niemeyer se dizia ateu e marxista. Marxista talvez ele realmente fosse. Marxismo é uma forma de pensar. Pode estar certo e pode estar errado. Não importa. Todos os sistemas de pensamento carregam o vício da dubiedade. Mas ateu duvido que ele fosse. Era inteligente demais para ser ateu. Quem se diz ateu não sabe que a negação da existência de Deus é impossível porque a mente humana não pode negar a existência de uma coisa sem antes admitir a possibilidade de sua existência. Quer dizer: eu não posso não levantar a minha mão sem antes pensar em levantar uma mão. Isso, em psicologia, se chama assertividade. Niemeyer era poeta. Poetas são místicos como William Blake ou são lógicos como Maiakovsky.  Maiakovsky se matou quando viu que o comunismo não era nada daquilo que ele pensou que era. Niemeyer viveu cento e quatro anos, sobrevivendo a todas as desilusões que as ideologias políticas, as crenças religiosas e os sistemas filosóficos acabam trazendo para aqueles que acreditam piamente neles. Uma vez tive o prazer de apertar a mão do grande mestre arquiteto. Foi numa Loja Maçônica, onde ele estava sendo homenageado. Ele não era maçom. E disse que não acreditava em Deus. Mas se um dia viesse a acreditar, faria como os maçons. Chamaria Deus de Grande Arquiteto do Universo. E teria muito prazer em construir “templos á virtude e masmorras ao vício”, como ensina a filosofia dos maçons.

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 08/12/2012
Alterado em 10/12/2012


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