João Anatalino

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A PNL E O EFEITO BORBOLETA

" Uma borboleta batendo asas na Amazônia pode causar um tufão no Texas".
                                                                James Gluk- A Teoria do Caos.

 
      Nada se faz no universo físico sem que o homem venha a sentir as conseqüências desse feito; por outro lado, tudo que ele faz causa impacto no sistema. Dessa forma, tudo interessa a todos, e o equilíbrio do sistema universal é uma tarefa de interesse coletivo.

Uma verdade antiga
     

Essa é uma verdade antiga que já havia sido apregoada por Zaratustrra no século VI a.C e também era cultivada pelos filósofos taoístas na China do século V a.C.  Para esses antigos sábios o universo era um organismo único, interligado em todas as suas partes, de forma que toda ação, praticada em qualquer parte dele, gerava conseqüências em todos os lugares. 

Os filósofos hermetistas  também sustentavam a existência de uma unidade indissolúvel entre todas as coisas que existem no universo: “tudo que está dentro é igual ao que está fora, o que está em cima é igual ao que está em baixo”, diziam eles.  Com isso queriam dizer que o universo era igual em toda parte, e que as mesmas leis que regiam a sua vida no imenso da vastidão cósmica eram as mesmas que o organizavam na intimidade da matéria física ou orgânica. Assim, nenhuma verdade podia ser deduzida a partir de uma visão segmentada, pois cada parte dependia das relações que ela mantinha com o todo. Dessa forma, um homem, o seu espírito, o seu organismo e tudo que a ele se refere não poderiam ser entendidos se fossem estudados isoladamente, abstraindo suas relações com o restante do ambiente em que situam, pois segundo pensavam, no universo não há nada que consiga existir por si mesmo.
Essa visão era profundamente espiritualista em seus conceitos e não agradava aos pensadores pós Renascimento, cuja aversão pelo “improvável”  os levava a aceitar como verdadeiro somente aquilo que podiam comprovar  em seus laboratórios.  Como o universo inteiro não podia ser trazido para o laboratório eles o seccionaram e passaram a estudá-lo separadamente, acreditando que cada parte mantinha as propriedades do todo, e o que fosse verdadeiro para uma fração do conjunto também o seria para o todo que ele representa.  O maior defensor desse método foi o francês René Descartes, que com o seu materialismo dualista, sua exagerada preocupação pelo conteúdo do fenômeno em si, e não pelo que ele significa no contexto em que ocorre, levou os homens de ciência a separar mente e corpo, como se ambos fossem duas realidades distintas que pudessem coexistir independentemente. Desprezando milênios de sabedoria, renegaram os ensinamentos dos grandes taumaturgos, que sempre sustentaram o caráter sistêmico do universo e a existência de uma relação entre os fenômenos que nele ocorrem.

O cartesianismo

Não obstante, o método cartesiano trouxe um grande progresso para a ciência, pois relativizou o universo, transformando-o numa máquina que funciona segundo certas leis. Essas leis foram identificadas e estudadas e um grande avanço material pode ser feito, inaugurando uma nova era para a humanidade. Mitos do passado, que impediam o ser humano de buscar melhores condições de vida, de ampliar os limites do seu mundo, de realizar-se como individuo, foram derrubados. O homem voltava a ser o centro do universo, como já fora na época clássica, quando o pensamento helenista o colocava no mesmo patamar dos deuses, pensamento esse que fora eclipsado pelas doutrinas vitoriosas do Cristianismo e do Islamismo, que, cada uma a seu modo, pregavam uma submissão do homem a um destino que não dependia dele mesmo para se realizar.

O cartesianismo reconduziu o homem a sua posição de importância no centro de um sistema que fez dele o seu ator principal. Com efeito, tudo passou a ser analisado a partir da sua relevância para o bem estar da humanidade. Nada que não fosse capaz de trazer felicidade para o ser humano teria importância. Era o novo humanismo, que levaria o homem a buscar outros mundos para conquistar, a construir poderosas máquinas para ampliar seu poder, a desenvolver novos e vigorosos sistemas de filosofia e religião para dar suporte espiritual a essa nova forma de viver. O universo era uma máquina a serviço do homem e devia ser explorado em todo o seu contexto e possibilidades para proporcionar ao seu mais importante inquilino, a máxima felicidade possível.

O hedonismo


O universo segmentado para ser estudado e explorado em suas potencialidades fragmentou também o ser humano em sua relação com o próprio universo. O homem desprendeu-se dele como se fosse um elemento independente, que tinha propriedades particulares e só dependia de si mesmo para realizar-se como ser. Um novo hedonismo, que havia sido mitigado pelas doutrinas religiosas que pregavam a supremacia do espírito sobre a matéria e colocavam a pobreza e a simplicidade como virtudes a serem adquiridas em lugar da riqueza e da sofisticação, que tinham sido a marca da sociedade dos anos dourados do período clássico, passou a ser cultivado.
Há quem diga que quando o homem descobriu a possibilidade usar a natureza em seu proveito, ele perdeu também a sua alma. Sem sermos tão trágicos, diríamos que a ganância e a ambição, levadas ao mais alto grau transformou o homem em algoz da natureza, em elemento predador, ao invés de ser seu colaborador. E ao procurar cada vez mais o prazer de viver na abundância dos bens materiais, ele perde-se a si mesmo e fica cada mais longe da verdadeira felicidade. Isso explica, por exemplo, o paradoxo do sujeito que se mata durante a vida inteira para ganhar muito dinheiro, e depois que junta uma fortuna, compra uma cabana na floresta para ter um pouco de paz e felicidade.

A PNL e o Efeito Borboleta

A PNL trabalha com a idéia de que o ser humano possui um organismo unificado que não pode ser entendido nem tratado por partes.  Isso quer dizer que nós somos constituídos de “partes” interligadas, que são os nossos sistemas, respiratório, cardiovascular, linfático, reprodutor, excretor, etc. Esses sistemas são constituídos de órgãos e os órgãos por células, tudo ligado por uma extraordinária rede de relações e funções, de tal maneira que o que ocorre no ínfimo da intimidade celular – onde reside a informação primordial, –  repercute no imenso da estrutura orgânica, que é a nossa fisiologia. Nesse sentido, cumpre-se no organismo humano o princípio inscrito no famoso “Efeito Borboleta”, que fundamenta a chamada Teoria do Caos.
[1]

Essa teoria sustenta que o mais ínfimo acontecimento, ocorrido no lugar mais ignoto do universo repercute no universo inteiro modificando a sua conformação e os acontecimentos futuros. A conseqüência dessa idéia é que ela atribui a todos nós, seja qual for a nossa importância no sistema uma enorme responsabilidade, pois tudo que fazemos, e a forma como o fazemos, importa a tudo e a todos, e não apenas a nós mesmos. Desaparece, dessa forma, o “eu sou eu e o resto que se dane”, que fundamenta o comportamento predador do homem em busca da riqueza e do prazer, base do que ele pensa ser a felicidade. É que, quando o resto se dana, aquele que a mandou se danar já está danado há muito tempo.

Isso é o que, em PNL, se entende por “Ecologia do Sistema”. E é nesse sentido que ela proporciona uma ferramenta muito útil para o seu praticante reencontrar o equilíbrio perdido na fragmentação que a vida moderna, fundada no princípio do desempenho, nos proporciona. [2] 
 
[1] A Teoria do Caos, proposta inicialmente pelo meteorologista Edward Lorenz, foi expressa na idéia de que uma borboleta batendo asas na floresta amazônica hoje pode provocar um tufão no Texas amanhã. Assim, todas as decisões que tomamos, as ações que praticamos, passam a ter uma importância fundamental para o destino de todo o universo e não apenas para nós mesmos.  
[2] O princípio do desempenho é uma idéia defendida pelo filósofo Herbert Marcuse em seu livro Eros e Civilização.Ele é definido como sendo a pressão que a sociedade moderna exerce sobre o homem, obrigando-o a “ser alguma coisa dentro da sociedade, a identificar-se dentro dela como alguém que faz parte do comando”. Essa pressão, segundo ele, é causa de profundos desequilíbrios na estrutura neurológica do ser humano.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 05/02/2013
Alterado em 05/02/2013


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