João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


OS ROÇADOS DA MORTE

 
A cobiça ara                               
O medo planta
A guerra sega
A morte colhe.
 
Um barqueiro, que ganhava a vida transportando pessoas de um lado para o outro de um grande rio que separava dois reinos inimigos, recebeu uma vez uma estranha passageira em sua barca. Vinha montada em um reluzente cavalo prateado e lhe pediu que a transportasse para o outro lado do rio porque ela tinha uma importante missão a cumprir.
– Que missão é essa? Perguntou o barqueiro.
- Estou indo arar um campo - disse ela. E abrindo uma enorme arca, mostrou ao barqueiro as coisas que tinha dentro dela.
- Eis as minhas ferramentas- disse ela, sorrindo. Dentro da arca havia muitas moedas de ouro, peças de ourivesaria, reluzentes pratarias, sedas belíssimas e muitos outros presentes e artigos de incalculável valor.
O barqueiro, ao deixar a estranha passageira do outro lado do rio, ficou matutando de que forma ela iria arar um campo com aquelas estranhas ferramentas. “Parece mais que vai comprar um campo”, pensou ele.
Estava se preparando para cruzar o rio de volta, quando um estranho cavaleiro, montado em um cavalo amarelo pálido, lhe pediu para levá-lo para a outra margem, porque ele tinha lá uma importante missão para cumprir.
- Que missão será essa? Perguntou o barqueiro.
- Estou indo plantar um campo- disse o cavaleiro. E abrindo uma enorme sacola, mostrou-lhe as coisas que carregava dentro dela. Eram recortes de jornais, contendo notícias de tragédias, rumores de guerra, informações sobre epidemias, informações sobre como pegar doenças, e coisas desse tipo. “Que forma mais estranha de plantar um campo”, pensou o barqueiro. “Seria mais compreensível se ele dissesse que vai devastar um campo”, concluiu ele.
Passados alguns dias, uma tropa de cavaleiros, armados até os dentes, veio pedir para que ele os levasse para o outro lado do rio porque os dois reinos tinham entrado em guerra. “ Logo mais e mais soldados virão me pedir a mesma coisa”, pensou o barqueiro. E levou a tropa para o outro lado. E quando a tropa desembarcou na outra margem do rio, ele esperou algumas horas, porque sabia que logo uma tropa inimiga viria pedir a ele para transportá-la para a margem oposta.
Passado algum tempo, em que ele esteve ocupado transportando tropas de um lado para o outro do rio, uma grande calmaria se estendeu de um lado e outro do rio. O fragor das batalhas se dissipou e somente abutres eram vistos, voando baixo, em ambos os territórios.
Ninguém procurava mais os serviços do barqueiro. Salvo uma mulher incrivelmente esquálida, vestida com uma longa túnica negra, levando nas mãos uma foice de segar, montada num cavalo igualmente negro como uma noite sem lua. E ela atravessava, de um lado para outro do rio, muitas vezes ao dia, e parecia nunca se cansar de fazer aquela travessia.
- A senhora parece estar muito ocupada de um lado e outro do rio- disse o barqueiro.
- Sim, meu filho- disse a estranha e cadavérica senhora, com um sorriso diabólico nos lábios. – A colheita, de um lado e de outro, desta vez está bastante farta.  
E Caronte, o barqueiro, desta vez também sorriu, pois sabia que não ia lhe faltar trabalho e com certeza ia ficar muito rico.
     
 
OS ROÇADOS DA MORTE


João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 04/03/2013
Alterado em 04/03/2013


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras