O PAPA LATINO-AMERICANO; A ÚLTIMA TRINCHEIRA?
Que as eleições de um Papa sempre foram motivadas mais por questões políticas do que religiosas, isso qualquer pessoa medianamente informada sempre soube. Desde os primeiros dias da Instituição da sede da Igreja, em Roma, que as maquinações políticas, os interesses econômicos e as mais obscuras chicanas jurídicas foram invocadas para eleger o máximo mandatário da Igreja Católica.
Uma delas é a pretensão de que o Papa é o herdeiro de Pedro, e que esse apóstolo teria sido o primeiro Papa. Não há qualquer evidência histórica de que Pedro, um dia, tenha visitado Roma e lá tenha exercido qualquer cargo nesse sentido. Na verdade, é bastante duvidoso que o famoso apóstolo pescador, um judeu que defendia a idéia de que a mensagem de Jesus devia ficar circunscrita aos judeus e não devia ser levada aos incircuncisos( pessoas não circuncidadas, isto é, estrangeiros), tenha se dado ao trabalho de ir à odiada Roma dos Césares, capital dos opressores do seu povo e assassinos do Messias.
Os Atos dos Apóstolos deixam evidente que quem levou a mensagem cristã para fora da Judéia foi Paulo e seus discípulos. Sem o famoso rabino de Tarso, o Cristianismo jamais teria se tornado uma religião universal. Assim, a pretensão da Igreja Romana de fazer do seu sumo pontífice o herdeiro direto de São Pedro não tem qualquer fundamento histórico e se baseia mais em argumentos ideológicos do que históricos.
Na verdade, as eleições papais sempre envolveram muito mais questões profanas do que sagradas, propriamente dito. Nunca foram diferentes de qualquer eleição ou disputa política em qualquer país, onde as questões em jogo não têm nada a ver com a vida espiritual das pessoas, mas sim com interesses mesquinhos e disputa de poder temporal. O Vaticano já hospedou papas tão corruptos e malvados que até Dante Alighieri, reconhecidamente um carola de quatro costados, andou colocando alguns deles nos círculos mais profundos do inferno em sua famosa Divina Comédia.
Depois, a instituição do Papado é uma instituição tipicamente européia. Foi criada pelo governo da antiga Roma e organizada nos moldes da estrutura imperialista e corrupta que vigorava no império romano. E durante toda a Idade Média esteve mancomunada com os nobres para manter um status quo de miséria, servidão e ignorância. Aliás, é bastante significativo que a primeira nação européia a desafiar a autoridade papal tivesse sido a Inglaterra , no reinado do Rei Henrique II. E depois seus sucessores, Henrique VIII e sua filha Elisabeth I, os quais sedimentaram de vez a independência da Igreja inglesa em relação ao primado de Roma. É significativo esse fato, pois a Inglaterra se tornou a primeira nação do continente a instituir e defender liberdades públicas, a desenvolver as ciências, a patrocinar uma revolução industrial, a liderar, enfim, o desenvolvimento econômico e social que o mundo conheceu a partir da chamada Renascença.
As guerras religiosas dos séculos XVII podem ser consideradas como uma luta entre a modernidade e o obscurantismo. Modernidade dos povos que queriam as novas idéias trazidas pelos reformadores religiosos e o obscurantismo dos que defendiam a velha ordem, as idéias antigas, a doutrina da preservação dos privilégios de classe e coisas desse tipo. Entre esses últimos sempre esteve a cúpula da Igreja de Roma. Os Papas e a maioria de seus bispos sempre lutaram conta a modernização dos costumes, as idéias novas, as descobertas da ciência, naquilo que ela contraria os seus dogmas e ameaça a sua autoridade.
Há cinqüenta anos atrás cerca de setenta por cento da população dos países ocidentais era católica. Hoje não chega a trinta e está concentrada principalmente em países de raça latina, especialmente na América de lingua espanhola e portuguesa. Será que isso tem alguma coisa a ver com riqueza e pobreza, desenvolvimento e subdesenvolvimento, educação e ignorância?
Assim, compreende-se o porquê da eleição de um papa latino-americano. Mas será que ao invés de a Igreja Romana vir se encastelar nos seus últimos bastiões de resistência, não seria a hora de começar uma contra-reforma que lhe devolva a antiga proeminência? Não seria de bom alvitre abandonar antigos postulados fundados em mitos, superstições e proposições tautológicas, para desenvolver uma doutrina mais consentânea com as necessidades atuais dos povos do mundo e com o atual estágio de conhecimento que a humanidade desenvolveu?
Quem sabe o nosso Papa argentino possa ser o arauto dessa reforma. Bem pode ser. Afinal, que ele não pensa como os atuais líderes da nossa pobre América Latina parece que ele já deu mostras de não pensar. Especialmente a ridicula presidenta do seu país de origem e seus bolivarianos amigos da Venezuela, Bolívia, Equador e Brasil. Que a América Latina não seja a última trincheira da Igreja Católica. Seria muito triste ter que enterrá-la de vez por aqui.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 14/03/2013
Alterado em 14/03/2013