QUEM FALA O QUE QUER, PODE OUVIR O QUE NÃO QUER.
A linguagem
A maior conquista cultural feita pelos seres humanos, em todos os tempos, foi a codificação da sua linguagem. Essa façanha fez com que a nossa civilização, em pouco mais de quatro milênios, desse um salto evolutivo que normalmente teria levado alguns milhões de anos para dar.
Isso se constata facilmente pelo fato de que o homem levou mais de cem mil anos para sair das cavernas e tornar-se um animal gregário. Levou outro tanto para passar de mero usuário dos recursos da natureza a co-participe dela na função de produzir. Mas em menos de quatro mil anos saltou do escuro das cavernas para o espaço iluminado pelas estrelas e não levará mais cinqüenta para pisar em outros planetas.
A linguagem codificada foi a ferramenta que permitiu ao ser humano esse salto extraordinário. Ela possibilitou a representação do mundo e do conhecimento que temos dele, através de um encadeamento lógico de símbolos, que dão sentido ao conjunto de informações que dele recebemos
O cérebro humano nunca mais foi o mesmo depois que nós aprendemos a articular frases e o seu desenvolvimento acelerou-se depois que começamos a expressar nossos pensamentos por escrito. Através da palavra escrita, o nosso cérebro aprendeu a estruturar os resultados das nossas experiências de vida de uma forma concreta e lógica, para que toda a espécie humana pudesse entendê-la, repeti-la e aperfeiçoá-la a cada vez que fosse repetida. Dessa forma, a memória da espécie, o conjunto das suas experiências e das suas manifestações – que chamamos de cultura – pode hoje ser considerada como um acervo de informações que toda a humanidade pode acessar, para dar continuidade à evolução da espécie, sempre buscando níveis superiores de qualidade.
Dor e prazer são informações
Todos os nossos contatos com o mundo são relações de comunicação. Não há uma única manifestação de vida que não seja dada em forma de informação. As próprias dores físicas que sentimos, via de regra, são informações que o organismo envia à nossa mente para avisar que algo não vai bem com ele. Assim, elas devem ser vistas como mensagens e tanto quanto possível, não devemos amortecê-las com analgésicos, pois dessa forma estaremos nos privando de uma importante fonte de comunicação conosco mesmos. Da mesma forma, os nossos sentimentos de prazer são informações que o nosso sistema neurológico nos envia. Eles significam que o que estamos fazendo, no momento, é bom e está agradando ao nosso organismo. E da mesma forma que as dores, o prazer pode significar muita coisa. Não podemos deixar que ele se avulte por completo em nossa mente para que não nos enganemos com os valores e os benefícios que ele nos trás. Ás vezes, em termos de custo benefício, um prazer pode custar muito mais caro do que o preço que podemos pagar.
Mensagens internas
Da mesma forma que nós devemos nos preocupar com a qualidade das mensagens que emitimos para o mundo exterior, procurando dar a elas a maior exatidão possível, é importante saber se comunicar internamente conosco mesmos, evitando que as informações que circulam pelo nosso sistema neurológico, ao invés de maximizar nossa capacidade de resposta, acabem concorrendo para diminuí-la.
Assim, o que informamos a nós mesmos, ou seja, aquilo que pensamos sobre a informação recebida, é mais importante do que a informação em si. Pois são as mensagens que circulam dentro de nós – ou seja, nossos julgamentos e sentimentos – que determinam o tipo de resposta que iremos dar à ela.
Como o sistema neurológico é programado através de signos neurolinguísticos, ( e. g. submodalidades sensoriais), e estes, para serem entendidos e valorados pela mente precisam ser transformados em elementos de linguagem, é preciso saber usar corretamente essa ferramenta para que nossos “programas” possam ser elaborados de forma a nos proporcionar a máxima eficiência em nossas respostas.
O problema é que a linguagem é um sistema lógico e muitas vezes essa lógica engessa a sintaxe da língua num formalismo técnico que acaba prejudicando o processamento da informação. Assim, quando o cérebro processa a mensagem neurolinguística contida numa submodalidade sensorial, (cor, luz, brilho, modulação de som, inflexão de voz, sensibilidade a um toque, a um aroma, etc.), ele o faz utilizando os códigos lingüísticos que conhece. Mais, menos, maior, menor, pior, dolorido, prazeroso, bom, ruim, pequeno, grande, intenso, calmo, ofuscante, opaco, brilhante, quente, frio, suave, áspero, etc., são alguns desses códigos.
O território e o mapa
E nessa sintaxe já vem obrigatoriamente embutido um elemento de valoração. Pois o que é mais quente ou frio, ou maior ou menor, doce ou amargo, cheiroso ou fedido para um, pode não ser para outro. E a medida de qualquer um desses sentimentos é a mente de cada pessoa que dá.
Os significados presentes nesses signos lingüísticos variam de pessoa para pessoa, de lugar para lugar e de contexto para contexto, porque as pessoas usam diferentes métodos lingüísticos para trabalhar as informações que recebem. Um morador do deserto não tem a mesma linguagem para representar quente e frio da mesma maneira que um morador do pólo o faz; da mesma forma que um habitante da cidade e outro da floresta irão apresentar a mesma diferença em suas capacidades perceptivas em face das informações que receber do ambiente. Em conseqüência, os “mapas” mentais de cada pessoa podem divergir de forma tão impressionante, que muitas vezes duvidamos fazer parte da mesma espécie.
Bandler e Grinder nos dão um significativo exemplo dessa defasagem entre o território e o mapa – o mundo real e o mundo que conseguimos representar através da linguagem – citando o caso dos esquimós, que têm uma infinidade de palavras para representar o objeto “neve”, enquanto nós, vivendo aqui no trópicos, mal passamos de duas ou três. A quantidade de opções que os esquimós têm para tratar a informação “neve”, permite que eles desenvolvam um sem número de respostas em relação à ela. Eles sabem que tipo de neve pode ser usado para fazer os seus “iglus”, qual o tipo de neve que agüenta o seu peso, quando há um rio ou lago por baixo dela; enfim, como o ambiente em que eles vivem é a neve, eles precisam saber tratar a informação “neve” da forma mais variada possível, pois dessa sabedoria a própria vida deles depende. Nós, dificilmente conseguiríamos sobreviver no ambiente deles, da mesma forma que eles teriam imensa dificuldade para sobreviver no nosso.
A herança da linguagem
A linguagem é mais importante herança que o ser humano recebe ao nascer. É a marca que o identifica com a sua espécie e reflete o grau de socialização e sofisticação que os nossos processos neurológicos internos atingiram.
Sabemos que devemos evitar determinadas expressões lingüísticas ou posturas corporais em público, em determinados ambientes ou com determinadas pessoas; da mesma forma, evitamos até mesmo construir pensamentos que, a nosso juízo, pareçam ser contrários às nossas crenças e valores. E para atender a regras e padrões éticos que a sociedade nos impõe, muitas vezes, somos obrigados a disfarçar o que realmente pensamos ou sentimos.
Tudo isso resulta numa limitação de escolha, que nós nos impomos em nome do bem estar social e tanto pode nos fazer bem como mal, pois aquilo que a consciência não processa pelos padrões da lógica e da evidência comprovada, o inconsciente armazena como informação, na forma como foi recebida.
Por isso é que na nossa mente inconsciente habita uma riquíssima fauna de entidades psíquicas, que, nos momentos em que a consciência não exerce, ou vacila no exercício da sua vigilância, elas se mostram ao mundo exterior em toda a sua força e exuberância, muitas vezes, sugerindo pensamentos e atitudes que não conseguimos compreender. É dessa forma que nascem os complexos, as fobias, os temores exagerados, a timidez mórbida e todas as limitações de comportamento que essas estruturas neurológicas nos trazem.
Todo comportamento é comunicação
Todo ato que praticamos, toda palavra que falamos, todo gesto que fazemos, é informação. Não há um único suspiro, um espirro, um soluço, um bocejo, uma postura corporal ou movimento de olhos, assim como não há um único som que o ser humano emita que não contenha uma mensagem, um ato de comunicação, onde ele está “dizendo” ao mundo algo que se passa com ele. Se alguém nos critica, essa é uma informação de alguém não gostou de algo que fizemos; se alguém nos elogia, a informação é de que gostou. Se alguém nos sorri, ou nos recebe com demonstrações de carinho, afeto, alegria, etc., essa é uma informação que a nossa presença ali é bem-vinda; se as demonstrações são de desagrado, podemos inferir que o contrário está acontecendo.
Enfim, tudo é informação, e se elas forem tratadas dessa forma, será possível, sempre, responder também como informação. Se eu vejo, ou escuto, ou sofro alguma ação que não combina com os meus valores, minhas crenças e critérios de julgamento, eu não preciso entrar em conflito com o informante. Ele apenas está expressando o que sabe a respeito do que está vendo, ouvindo ou sentindo. Em outras palavras, está exercendo a sua resposta, de acordo com a capacidade que tem para responder. Se quisermos nos comunicar com ele sem conflito teremos que aprender a processar a informação que dele nos chega e devolver-lhe outra que o instrua devidamente a nosso respeito.
E a resposta que nós recebemos de uma pessoa é o resultado da nossa comunicação com ela, e isso independe da nossa intenção pessoal. Por isso é que, em PNL se diz que o resultado da nossa comunicação é a resposta que ela recebe. Isso significa que se alguém não nos entende, ou não nos escuta ou não gosta de nós, é por que algo, na informação que estamos lhe passando não combina com o modelo de mundo que ela tem na cabeça. Daí a resposta que ele nos dá, de repulsa, indiferença, hostilidade, etc. Dessa forma, quando uma mensagem “não entra,” na sintonia do receptor, não é ele que não quer entender, mas sim o comunicador que está falhando na emissão da mensagem.
Por isso, o velho ditado: quem fala o quer, pode ouvir o que não quer. Mas seja como for, e o que for, se isso for tratado como informação será sempre útil.
(PNL) QUEM FALA O QUE QUER, PODE OUVIR O QUE NÃO QUER
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 20/03/2013