João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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O INEFÁVEL NOME DE DEUS E ATRADIÇÃO MAÇÔNICA

 
O Tetragrama YHWH
 
Nos primeiros tempos da crença judaica, antes de Moisés organizá-la como religião, o nome de Deus era conhecido e pronunciado livremente pelo povo hebreu. Jeová não tinha uma característica de deus universal e era adorado pelas tribos do deserto na condição de uma deidade pastoril. A idéia de que seu nome (YHWH) era sagrado começou com o decreto, supostamente transcrito por Moisés, no Decálogo, de que o nome de Deus não deveria ser invocado em vão ( Êxodo, 20:3).
A partir daí criou-se a superstição de que o nome do deus hebreu era uma palavra sagrada, que ao mesmo tempo em que conferia poder incalculável aquele que a conhecesse e soubesse pronunciá-la corretamente, também traria terríveis maleficios a quem o usasse incorretamente.
Assim, o nome de Deus passou a ser incógnita que nem entre os próprios hebreus encontrava concordância. Vulgarmente ele era chamado de Adonai, o Senhor. Não se sabe exatamente quais os motivos que levaram ao surgimento dessa crença, mas é certo que ela se acentuou depois do exílio na Babilônia(538-539 a.C.), embora alguns dos profetas hebraicos que surgiram nesses anos de cativeiro ainda tivessem usado o Tetragrama YHWH para se referir ao deus hebreu.
Todavia, após o período alexandrino esse nome deixou de ser usado e as traduções da Bíblia hebraica que passaram a ser feitas a partir do terceiro século a. C. sempre usavam o estratagema de substituir o Tetragrama YHWH por outros nomes substitutos, comprovando que a crença de que o nome de Deus era uma palavra mística, cuja pronúncia devia ser evitada e cuja grafia era interdita.
     Aliás, um dos mais misteriosos mandamentos do Decálogo é justamente a proibição de pronunciar o nome de Deus em vão. Diz o Senhor que “não tomaria por inocente” aquele que o fizesse. Portanto, no tempo de Moisés já se cultivava a tradição de associar poder e sabedoria áquele que conhecesse o Santo Nome, pois tal pessoa não era inocente.
     Destarte, o possuidor desse conhecimento não podia utilizá-lo irresponsávelmente. Para que o próprio Deus tivesse tal preocupação, é por que essa Palavra Sagrada, esse Nome Inefável continha realmente um poder inesprimivel que somente pessoas iniciadas e com muita intimidade com Ele poderiam fazer uso.
    Para os cabalistas, esse nome grafava-se Shemhamphorach, que quer dizer o principio. Diziam que esse Nome era a base do Tetragrammaton, o número que equivalia ao significado do Nome Inefável. Todos os demais nomes de Deus eram produtos de suas manifestações, mas o Shemhamphorach era derivado de sua própria substância, por isso podia ser considerado o primeiro.
 
   Isso não impediu, todavia, que vários escritores, considerados apócrifos, tivessem se utilizado do Nome Sagrado em seus escritos. Um deles foi foi o autor do chamado Papiro Fouad, um obra datada do século I a. C, encontrado no Egito em 1939, durante o reinado do rei Fouad I, que por isso recebeu esse nome. Esse documento continha transcrições de um trecho do Deuteronômio e no lugar onde se referia ao nome de Deus o autor usava o Tetragrama, o que mostra que nem todos os escritores antigos se curvavam a essa crença. Alguns estudiosos, como o Dr. P. Khale, dizem que a crença de quese  deveria substituir o nome YHWH por outros termos, se acentou com a vitória do cristianismo e que foram os cristãos , que não tendo conhecimento da forma hebraica de escrever e pronunciar o nome divino, o substituiram pela forma grega Kýrios. Daí essa superstição ganhou corpo e se tornou um verdadeiro mito[1]
Ao que parece, foi o escritor judeu, o fariseu Flávio Josefo, que deu o maior suporte a essa superstição ao corroborar a idéia de que o nome do deus hebreu era uma palavra impronunciável. Ao se referir á experiência de Moisés no Monte Horeb, quando ele se encontrou com Deus pela primeira vez, ele se refere, de forma místeriosa, ao "O Nome sobre o qual estou proibido de falar."[2]

A pronúncia do Nome Sagrado

Na segunda metade do primeiro século da era cristã, os cronistas judeus conhecidos como massoretas, deram contornos finais a essa tradição introduzindo nos textos bíblicos o costume de substituir o nome YHWH por outros sinais vocálicos. Isso, ao invés de traduzir o nome correto de Deus, conduzia os leitores dos textos massoréticos a diversos signi-ficados para esse nome, contribuindo para aumentar a lenda e excitar ainda mais a imaginação das pessoas interessadas nesse tema. Ao já conhecido termo Adonai acrescentaram outros termos como Elhoin, HaAdón (o Verdadeiro Senhor), Elyón (Deus Altíssimo) e El-Shadai (Deus Todo-poderoso, nomes esses que já eram utilizados pelos antigos hebreus.

       Entretanto, foi só no século XI, quando da edição do Códice de Leningrado, que o Tetragrama YHWH começou a ser estudado pelos eruditos com a finalidade encontrar a sua verdadeira pronúncia. Essa disposição veio da crença de que Deus não ouviria aqueles que não fossem capazes de pronunciar corretamente  o seu nome. Assim, vários sinais vocálicos para orar a Yahvéh, Yehvíh, Yehváh, Yehováh, como então se pronunciava o Tetragramaton, foram aparecendo, contribuindo ainda mais para aumentar a mística do Nome Sagrado.  Formas abreviadas desse nome também foram publicadas, tais como Yah (ou Jah, na forma latinizada), e na conhecida expressão HaleluYah (Louvai a Jah!), que em português foi vertida para Aleluia. Outras formulações linguísticas como Yehóh, Yoh, Yah e Yahu, também são encontradas nos textos hebraicos denotando a grande discussão que se travou a respeito do tema durante toda a Idade Média.

O significado do Nome Sagrado

Ainda hoje muito se discute sobre o exato significado do Tetragrama YHVH. A controvérsia, entre os especialistas, está longe de se dissipar.Tudo começa com a extranha expressão usada pelos cronistas bíblicos para descrever o encontro de Deus com Moisés no Monte Sinai, quando Ele diz: “Ehiéh ashér ehiéh.”
Essa expressão é usualmente traduzida como “Eu Sou o que Sou”, ou “Serei o que Serei.”, conforme a versão Almeida Revista e Atualizada. Ou na expressão usada pelos tradutores da Septuaginta (A Versão dos Setenta) que traduziram a locução divina como “ Eu Sou Aquele que É.(Ego eimi ho ôn).
Assim, em todas essas traduções, o Nome Sagrado é sempre traduzido por um verbo que denota o sentido de existência, de presença, de verdadeira vivência ontológica. Esse sentido  deu origem ás mais diversas especulações filosóficas a respeito do nome de Deus, como função criadora de todos os fenômenos universais, tais como a que aparece na Cabala, que o define como a Existência Negativa que se torna Existência positiva, ou seja, a Energia latente, desconhecida, que se manifesta em Poder e dá origem ao universo real.
Por isso, também, é que no memento que dá início ao seu evangelho, São João se refere a Deus como “O Verbo” e sugere que Jesus, como filho de Deus, também era um “Verbo” que estava com Deus no princípio e “se fazia carne para habitar entre nós”.[3]
     
   Mas há outras traduções que vão mais longe ainda na interpretação do significado dessa estranha expressão. O Rabino Isaac Leeser, por exemplo, em sua tradução “Dos Vinte e Quatro Livros das Escrituras Sagradas”  verte a locução divina como “Serei o que eu for”, denotando, segundo ele, a intenção de Deus em demonstrar a sua onipotência, e que Ele, como deidade, não tinha uma forma nem era um Ser com características e funções definidas, como os demais deuses da religiões antigas. [4]
Nessa visão, Ele (Deus), era o que era e seria o que quisesse ser. Por isso o estudioso Joseph Bryant Rotherham, em seu estudo (A Bíblia Enfatizada – Roterdã, 1897), verte essa expressão da seguinte forma: “E Deus disse a Moisés: Tornar-me-ei aquilo que me agradar. E ele disse: Assim dirás aos filhos de Israel: Tornar-me-ei enviou-me a vós.”
 Segundo esse estudioso o verbo usado no original da Bíblia foi “Hayah”, que quer dizer “tornar-se” e não “serei” ou “sou”.  Assim, Deus não afirma a sua auto-existência, mas sim que Ele é uma potência que se realiza na medida em que o mundo acontece e conforme Ele mesmo se predica. Isso significa que  YHWH podia adaptar-se às circunstâncias e modelar o universo segundo a sua vontade. E o que quer que ele precisasse Ser Ele se tornaria.
Dessa forma, o verdadeiro significado da expressão seria “Vir a Ser”, o que estaria em perfeita consonância com a visão cabalística que fala de Deus como sendo a “Existência Negativa”(Potência) que se torna “Existência Positiva” (Ato), no momento em que manifesta no mundo real. Essa interpretação também encontra eco na formidável visão hindú expressa na Baghavad Guita. [5]
Assim, o verdadeiro significado do Tetragrama YHWH se expressa por um verbo que revela o propósito de Deus de fazer o mundo em todas suas formas futuras, o que nos leva também a uma analogia com modernas descrições do universo, feitas por cientistas de renome, que vêem o universo como produto de uma “teia de relações”.[6]
    Essa visão tem correspondência na própria imagem bíblica que mostra um universo físico sendo construído a partir do surgimento da luz.  “Exista a luz; e a luz existiu” diz o Criador no momento inicial da criação[7] 
    Daí o significado da expressão “ Eu Sou”,“Serei”, ou “Vir a Ser”, atribuída ao Nome de Deus. Éssa declaração indica que Deus, por ser pura potência, isto é, Luz, não tem um atributo material identificável a priori, o que não permite que Ele tenha um nome próprio que possa ser pronunciado, nem uma forma material que possa ser reverenciada como especifica. Assim, Ele é todos os predicados possíveis e tem todos os nomes, de plantas, de rochas, de animais e forças da natureza. A partir do seu atributo inicial que é Ser, Ele vai se “construindo” e se “mostrando” na multiplicidade de sua criação.[8]
O universo material é a sua face externa, a sua “Existencia Positiva”. Por isso é que os modernos gnósticos dizem que os cientistas só conseguem ver a realidade “pelo seu lado de fora”, pois esta é a natureza, face externa de Deus, sua visão aparente, enquanto a sua face interna, a sua “Existência Negativa” é pura energia que só pode ser detectada pelo espírito, que também é substância energética.
    Essa idéia sugere que Deus constrói o universo de combinação em combinação. Resulta daí que o predicado essencial da divindade é uma constante de integração, que vai sendo equacionada á medida que o próprio cosmo vai se formando, como resultado das combinações que se processam no seu interior. O que a Baghavad Guita e a Bíblia estão a nos dizer é que o Poder, a Potência, o Verbo, a Palavra Perdida, o Nome Inefável de Deus, é essa energia dos princípios que se apresentou a Moisés como Eu Sou.

A tradição cabalística

A Cabala, mística tradição religiosa dos judeus, é a principal veiculadora dessa crença a respeito do inefabilidade do Nome Sagrado. Os cabalistas consideram o nome de Deus tão sa-grado em sua grafia quanto impronunciável em sua verbaliza-ção.

Não há concordância quanto a origem dessa  tradição nem se registrou a sua história ao longo do tempo. É possível que ela tenha se originado do próprio texto do Decálogo, que em seu terceiro mandamento proibe que o nome de Deus seja pronunciado em vão.  Todavia, o que se proibe nesse preceito é o uso indiscriminado e vazio desse nome, como o próprio Jesus acusou os escribas de fariseus de fazê-lo. Assim, como já referido, em algum período pós-exílico, os judeus adotaram o termo Adhonái ao se referir ao Tetragramaton. Dessa forma, as inciais YHWH recebeu sinais vocálicos, colocados pelos co-pistas do texto massorético, para que o Nome Sagrado fosse pronunciado Adonai, de forma que a verdadeira pronúncia fosse reservada somente aos inciados na tradição judaica da Cabala.

A tradição cabalística veicula a crença de que a Torá(a lei judaica contida nos cinco livros de Moisés) foi revelada a Moisés no alto do Monte Sinai, e ele teria registrado na forma escrita apenas aquilo que poderia ser repassado ao povo como ensinamento formal. Mas além dessas testemunhos, Deus teria feito a Moisés outras revelações que ele não registrou, mas repassou de forma oral aos seus sucessores. Uma dessas revelações foi o seu verdadeiro nome e a maneira de pronunciá-lo, pois segundo essa crença, esse nome é uma palavra de poder. Foi com ela, aliás, que Deus teria se manifestado no mundo da matéria e com ela tambem teria despertado o homem Adão para a vida.[9]

 A palavra YHWH denotaria assim, uma relação mais pro-funda ainda entre o "Senhor Deus" e sua obra e não poderia ser usada em vão, razão pela qual Moisés a transformou em um dos preceitos do Decálogo.

Para os cabalistas medievais essa tradição assumiu contornos místicos inimagináveis. Acreditava-se que a posse do segredo dessa pronúncia poderia conferir ao seu detentor um poder semelhante ao do Demiurgo Criador (o poder de criar).

    Essa crença deu origem a uma vasta literatura esotérica, que influenciou não só vários escritores, como também a prática da alquimia. Tanto é que no começo da era cristã, alguns caba-listas, acreditando na crença de que o poder divino de criação podia ser adquirido se esse número, ou palavra, pudesse ser descoberto e pronunciado na sua forma correta, acreditaram que eles mesmos poderiam criar um ser vivo, consciente, igual ao que Deus criou ao fazer Adão. Para eles Deus tinha criado Adão recitando uma fórmula mágica, que resumia uma invocação á ação da energia dos princípios. Essa invocação era o seu próprio Nome, pronunciado na sua forma original. Com base nessa crença uma seita judaica, a dos Hassidins, elaborou, no século XII, 221 combinações diferentes com as letras e os valores numéricos do alfabeto hebraico, e do resultado obtido chegaram á uma palavra, impronunciável para os não iniciados na Cabala, que tinha o condão de animar uma figura de barro, dando-lhe vida. Aos seres criados através desse processo os cabalistas chamavam de Golém.[10]
      Uma das primeiras referências a esse tema apareceu no século XV, conectadas ao nome do rabino Judá Loew Ben Betzalel, de Praga. Falava-se que esse rabino criara um Golém para defender o gueto de Josefov, em Praga, contra ataques anti-semitas. Com base nessa lenda vários contos foram produzidos. Em 1847, uma coleção de contos judaicos intitulada Galerie der Sippurim, publicada em Praga por Wolf Pascheles, resumiu o conjunto de trabalhos literários produzidos com essa tema.
    Na verdade, o Golem (גולם) é definido como sendo um ser animado que é feito de material de barro. O termo,  no hebraico moderno, significa "tolo", "imbecil", ou "estúpido". Na tradição da alquimia o termo é conectado á palavra gelem (גלם), que quer dizer "matéria-prima”. Segundo algumas versões, o próprio Adão teria sido criado através dessa fórmula, pois segundo Gênesis 2:7, “o Senhor Deus formou o homem do barro da terra e inspirou em seu rosto um sopro de vida; e o homem tornou-se alma vivente.”
 

     Uma das mais interessantes derivação dessa tradição foi a crença de que as letras do nome de Deus representavam com-binações que podiam ser usadas para interpretar os segredos que a Bíblia não revelava em sua forma escrita. É que no alfabeto hebraico, cada letra tem um determinado valor. Assim, combinando-se as letras com seus respectivos valores, era possível obter a interpretação oculta dos títulos, nomes, pa-lavras e expressões usadas na Bíblia e encontrar seus verda-deiros significados. Assim, o Tetragama YHWH correspondia ao número 26 ((Yode = 10, Hê = 5, Vau = 6, Hê = 5; 10 + 5 + 6 + 5 = 26). Essa técnica, conhecida como Gematria, tornou-se um dos mais importantes mecanismos de interpretação dos textos bíblicos, e ainda hoje é utilizado usados pelos cabalistas e pelos estudiosos da filosofia oculta para interpretar passagens obscuras e enigmáticas do livro sagrado.                               

O Nome Sagrado na Tradição Maçônica
                                                                 
      Na tradição maçônica, o mito que envolve o Sagrado Nome de Deus é um tema de grande importância inciática. De uma forma geral os maçons adotaram a crença de que o verdadeiro significado do nome de Deus é um segredo guardado a sete chaves pelos eruditos cabalistas. Assim, os sons vocálicos originais do Tetragrama YHWH jamais serão conhecidos do vulgo, e a pronúncia correta dessa palavra está confinada á sabedoria de muitos poucos escolhidos.
      Embora todos os graus das chamadas Lojas de Perfeição explorem temas análogos ao que aqui se refere, apenas nos graus 13 e 14 do Rito Escocês, a lenda do Verdadeiro Nome de Deus, o Nome Inefável, é explorada [11]. Esse conteúdo foi introduzido na Maçonaria pelos chamados “maçons do Arco Real”, denominação que várias Lojas, americanas principal-mente, deram ao rito por eles praticado.
     No Rito Escocês Antigo e Aceito o conteúdo iniciático do grau 14, depois de repassar todos os ensinamentos adquiridos pelos Irmãos nos graus anteriores, ressalta que a verdadeira sabedoria está contida no conhecimento do Verdadeiro Nome de Deus. Por isso a elevação ao grau se dá com a explicação do que significa a misteriosa palavra inscrita no Delta agrado que se encontra sobre a Pedra Cúbica. Essa é uma evocação ao Princípio que rege toda a vida do universo, resumido na palavra Deus, que exprime o tempo infinito, o espaço infinito, a vida infinita, enfim, todas as manifestações da essência divina na realidade universal.
    Explicando que nenhum os nomes de Deus adotados pelo homem é considerado pela Maçonaria como definitivo, o ritual sugere que o maçom apenas admita que Deus existe, mas não lhe dê nenhum nome nem tente conformá-lo a uma imagem ou   que não se conforma em dogmas nem exige uma explicação daquilo que a mente humana não consegue entender. Esse postulado sugere que o espírito humano está ligado á essência primeira e única de todas as coisas e não necessita de quaisquer outros canais de ligação com a Divindade, a não ser a sua própria consciência e a sua sensibilidade.
    Por isso o título do elevado ao grau 14 é Perfeito e Sublime Maçom, também chamado de Grande Eleito da Abóbada Sagrada .  Esse titulo é dado áquele que galgou todos os degraus das Lojas de Perfeição, tendo cumprido o curriculum previsto para essa etapa.  O titulo não significa, entretanto, que a escalada terminou. O que se supera é apenas a primeira etapa de uma longa jornada. As virtudes consagradas no grau são a autodisciplina, a constância, a solidariedade, a fraternidade e a discrição, as quais devem acompanhar os maçons conhecedores do sagrado mistério que representa a pronuncia do Verdadeiro Nome de Deus. Essa, pelo menos, é a mensagem passada pela lenda do grau.
    Em termos iniciáticos, o Perfeito e Sublime Maçom é aquele que procura a Palavra Perdida. A lenda do grau diz que esse título foi criado por Salomão justamente para premiar os Mestres que encontraram a Palavra Sagrada oculta por Enoque na Abobada Sagrada.[12]
    Ela diz, em resumo, que após a construção e a consagração do templo, a maioria dos mestres que fora elevada ao grau de Cavaleiro do Arco Real (simbolizado no Grau 13), voltou para suas terras. A maçonaria que o Rei Salomão havia desenvolvido com a construção do Templo de Jerusalém disseminou-se por toda parte e perdeu qualidade, porque seus segredos foram compartilhados por muitos iniciados sem mérito.
    Várias disputas e cisões acabaram por desvirtuar os ensinamentos da Irmandade. Somente os eleitos que prometeram e cumpriram o juramento do grau perseveraram na prática da verdadeira Arte Real e as transmitiram a uns poucos.
    Quando o Templo de Jerusalém foi tomado pelas tropas babilônicas do rei Nabucodonosor, foram esses poucos eleitos que defenderam o Altar do Santo dos Santos, onde o Nome Sagrado estava gravado em uma pedra cúbica.  Por fim quando toda resistência se tornou inútil, eles mesmos penetraram na Abóbada Sagrada e destruíram a pedra onde esse Nome Inefável fora gravado e conservado durante 470 anos, 6 meses e 10 dias. Em seguida, sepultaram os escombros em um buraco de 27 pés de profundidade para que, numa futura restauração do Templo, ou da Aliança, sua posteridade pudesse recuperá-lo e continuar a tradição. Destarte, o Nome Sagrado nunca mais foi escrito nem pronunciado, mas apenas soletrado, letra por letra. E só os Perfeitos e Sublimes Maçons ficaram conhecendo a grafia e pronúncia correta.
                                                                                    
   Cumprindo a tradição de que esse conhecimento só pode ser transmitido por comunicação oral, o ritual do grau determina que um dos iniciandos, em nome dos demais, deve fazer a profissão de fé dos graus anteriores, repetindo as virtudes adquiridas e declarando os trabalhos realizados em cada um deles, salientando que agora, depois de tudo isso feito, ele e seus companheiros estão aptos a conhecer o Verdadeiro Nome de Deus.
     Então lhes é ensinado que o objetivo do grau é o conhecimento do Inefável Nome de Deus, o que, inclusive, dá sentido aos graus das Lojas de Perfeição, pois esses graus de aperfeiçoamento são destinados principalmente á pesquisa e conhecimento dessa Palavra Perdida, conhecimento esse que, segundo a tradição cabalística, confere ao seu detentor a verdadeira Gnose.



[1] Genizá do Cairo, Biblioteca Oxford, 1959, pág. 222 ss.
[2] Antiguidades Judaicas", Vol. II, pág. 276- Kleger Publications- NY, 1978.
[3] João 1: 1,2
[4] The Twenty-Four Books of the Holy Scriptures (1914).
[5] :“Deuses existem , diz Shiva Sansaya, “ mas eu sou o único. Todas essas formas que vedes são deuses, cada qual com seu poder relativo. Em proporção ao estado de suas consciências, anjos, demônios, espíritos duendes e homens são deuses. Eu estou em todos mas nenhum deles é Eu. Meu espírito está em tudo mas nada disso está em mim. Sou plurimorfo, multiforme, onividente, onisciente e integral de todas as forças do universo, que em mim tem seu zênite. Sou imobilidade e movimento, uno e múltiplo no existir, harmonia suprema e caos infinito. Tenho todos os braços para abraçar e todos os seios para nutrir, todos os ventres para dar a vida, todos os olhos para ver, todas as luzes possíveis, dentro de uma treva impenetrável. Sou o fundamento inatacável de tudo que existe, existiu e existirá.”
[6] Veja-se, a esse respeito, os trabalhos de Fritjof Capra, “Pertencendo ao Universo. São Paulo, Cultrix, 1991” O Tao da Física,São Paulo, Cultrix, 1992 “Sabedoria Incomum, São Paulo, Cultrix, 1998,” O Ponto de Mutação, São Paulo, Cultrix, 1986”
[7] Gênesis, 1:3.                                                                          
[8]Essa visão também é adotada pelos adeptos da filosofia panteísta, que identifica Deus como sendo a própria natureza em suas manifestações.
[9] Teria sido também pelo poder dessa palavra que Moisés invocou as Dez Pragas que castigou o Egito e obrigou o faraó a libertar os hebreus.
[10] Essa palavra era grafada emeth, mas sua pronúncia correta era conhecida somente por poucos inciados. Através dessa palavra, colada na testa da criatura e da pronúncia correta do Nome Sagrado ela adquiria vida. Inicialmente o Golem foi criado para proteger o gueto judaico contra os ataques dos anti-semitas, mas logo o monstrego saiu do controle do rabino e começou a matar gente inocente e ´provocar o terror no gueto. Ele então foi destruído através de outra formula cabalística que consistiu em tirar a primeira letra da palavra Emeth(Verdade), transformando-a em Meth, que quer dizer morto. 
[11] Por isso esses graus também recebem o nome de Graus Inefáveis. O
[12] Veja-se a Lenda de Enoque, no capítulo,
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 05/06/2013


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