ATPM SOCIAL
Não é por coincidência que a palavra sociedade é um substantivo feminino. É porque, de fato, a sociedade age como se fosse uma mulher. Senão vejamos. Não é ela que gesta os bandidos? Pois toda vez que não se encontra justificativa para os atos de um criminoso, a primeira coisa que se diz é a foi a sociedade que o fez. A mesma coisa acontece com os heróis. Heróis e pessoas de referência são sempre produtos sociais. É a idolatria popular que os constrói. Assim, é o útero da sociedade que gesta o bem o mal, o mocinho e o bandido, o santo e o pecador.
A sociedade é uma mulher. Quando ela ama, ama, quando odeia, odeia. Leva um homem aos píncaros da glória e também o atira nos círculos mais inferiores do inferno. Aos mais altos picos do prazer e ás mais profundas fossas da dor.
Eu posso dizer isso por experiência própria. Fui criado por uma mulher, a minha mãe. Meu pai morreu quando eu tinha dez anos e a minha juventude e adolescência foi toda referenciada pela personalidade da minha mãe. Depois das namoradas, casei duas vezes. Somando os dois casamentos já estou chegando quase aos quarenta anos de casado. Além disso, tive duas filhas. Posso, dessa forma, dizer que passei a vida inteira ao lado dessas estranhas, desconcertantes e maravilhosas pessoas que são as mulheres. Aprendi a prever, interpretar e administrar os efeitos dos seus humores. Hoje sei, com alguma dose de certeza, quando devo me aproximar delas ou quando devo me manter á distância, ou apenas por perto.
Nas mulheres, a TPM é uma síndrome que ocorre, em maior ou menor grau, nos dias que antecedem o fenômeno da menstruação. É nesses períodos elas ficam irritadas, ansiosas e sensíveis além da conta. Sentem também dores físicas, especialmente dor nos seios, no abdome e a indefectível cefaléia, que a muitos homens causa apreensão e desconfiança. (Será que ela está me recusando?) A sociedade, por ser feminina,(não existe criatura mais sensível), também tem TPM. Ela se manifesta nos momentos em que o tecido social está menstruando. Porque a sociedade, como uma mulher saudável, ela tem seus períodos de fertilidade. Períodos em que, se não receber sementes de fertilidade, ela elimina os óvulos não fecundados. E sempre que chega o momento de o organismo social ovular, há um período de tensão pré-menstrual. Nesses momentos a sociedade fica irritada, apreensiva, desconfiada, nervosa e sensível. E você lhes pergunta porque elas estão assim, elas respondem como aqueles jovens que a imprensa entrevistou ontem nas passeatas: “Por tudo que está acontecendo no país.” Quer dizer. Por isso e por aquilo. Por tudo e por nada. Se você insiste por alguma causa mais específica, saem pelo menos umas duzentas, inclusive o topete do Neymar. Isso ficou patente numa pergunta feita por um jornalista a uma jovem que carregava um enorme cartaz, protestando contra os gastos feitos para sediar a Copa. “Porque vocês não protestaram quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa? Por que fazer agora que esses gastos já foram feitos?” “Sei lá”, respondeu a garota. “Acho que naquele momento não era hora”. É. Ela estava certa. TPM não vem quando a mulher quer. Há momento certo para isso.
A sociedade está de TPM. Isso é normal. Faz parte do organismo dessa que é a mais sensível de todas as criaturas produzidas pelo homem. A única diferença é o dia seguinte. Nessas nossas maravilhosas companheiras, no dia seguinte, elas geralmente voltam ao normal. Se tivermos, nós homens, paciência e sensibilidade para administrar os efeitos do mau humor desse período, teremos de novo, a garantia da felicidade que elas sempre nos proporciona. Na sociedade, nunca se sabe. Como disse a Rita Lee, uma das nossas melhores filósofas modernas, "Não provoque. É cor de rosa-choque."
Eu, que vivi a minha vida inteira com mulheres, sei do perigo que é provocar uma mulher com TPM. Espero que os políticos também saibam.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 18/06/2013
Alterado em 18/06/2013