João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


Maçonaria, organização ecumênica
 
A maçonaria, embora tenha desenvolvido um sistema de linguagem para instrumentalizar a sua prática, não pode ser considerada uma crença nem uma religião. Não é uma crença porque não defende nem propaga um pressuposto filosófico ou artigos de fé, destinados a guiar pessoas em suas vidas espirituais; é não é uma religião porque, na sua estratégia de culto, não pretende buscar um relacionamento entre seus praticantes e uma divindade específica, mas sim, honrar, com seus trabalhos e com seus pensamentos o Princípio Único que origina, organiza e rege toda a realidade cósmica, Princípio esse que a linguagem maçônica chama de Grande Arquiteto do Universo.
A maçonaria não cultua um deus específico, com nome e identidade estabelecida por qualquer sistema linguístico desenvolvido por uma religião. Nomes são símbolos gráficos escolhidos para atender ao principio da identidade, isto é, para identificar os objetos e situá-los dentro de uma hierarquia sistêmica, atribuindo-lhes função e finalidade. Isso é o que chamamos “Ordo ab Chaos”, ou seja, colocar ordem no caos, sem a qual o mundo seria uma completa anarquia, sem estrutura nem forma, longe de qualquer idéia que se pudesse fazer de um verdadeiro edifício.
Destarte, os maçons não reúnem em seus templos para cultuar uma divindade, mas sim para trabalhar, com seus pensamentos e ações, em prol de um Princípio de Organização mundial. E como nenhuma organização será virtuosa se seus membros também não o forem, importa que, em seus princípios de educação e conduta, também se veicule a necessidade de combater os vícios e exaltar a virtude.
Por isso a maçonaria se define como uma organização ecumêmica onde todas as crenças e religiões são respeitadas. Deus não é deus dos cristãos, dos muçulmanos, budistas, taoístas, hinduístas; e a sua representação correta não é monopólio de católicos, evangélicos, ortodoxos, chiitas, sunitas, xintoístas ou qualquer outra estratégia doutrinária que grupos específicos tenham desenvolvido para figurar a divindade. Assim, o título Grande Arquiteto do Universo é um nome tão bom quanto Ormuzd, Alá, Jeová, Brahman, Ain-Sof, Verbo, ou qualquer outro que a linguagem humana quiser lhe dar. Ele é O Princípio e o Fim de todas as coisas. E nós talvez sejamos o seu Meio. Assim, quando entendermos de fato como tudo isso funciona, então não teremos mais tantas linguagens a confundir-nos, como no episódio da Torre de Babel. Não precisaremos mais de religiões, mas de uma única crença e uma única linguagem como estratégia para instrumentalizar a sua prática. Nesse dia a “Ordo ab Chaos” terá sido definitivamente realizada e o edifício que os Obreiros da Arte Real se propuseram a construir será, finalmente completado.   
 
A linguagem maçônica
 
A linguagem maçônica recebeu influências de diversas fontes e arquétipos, as quais se estampam nos atos litúrgicos de seus rituais e transparecem na iconografia dos seus templos. Sua estrutura  se fundamenta num conjunto de lendas, alegorias e  pressupostos filosóficos, que dão ao conjunto do catecismo maçônico, ao mesmo tempo, uma aparência de confissão religiosa e organização sectária, mas essa, como se vê, é apenas uma aparência. Na verdade, toda a bizarra simbologia adotada pela maçonaria nada mais consiste do que um sistema de linguagem, no qual a prática maçônica se inspira para veicular a sua proposta de vida.
É nesse sentido que definimos a maçonaria como sendo uma idéia, uma prática e uma instituição. Idéia porque ela se fundamenta em um arquétipo existente no inconsciente coletivo da humanidade desde que os primeiros agrupamentos humanos se organizaram. Esse arquétipo é a ideía da união, da reunião de elementos “iguais” em um grupo, para preservar as conquistas sociais. Prática, porque esse comportamento surgiu espontaneamente entre os grupamentos humanos e se disseminou por todos os povos da terra, dando origem, mais tarde, à instituições que se organizaram e se tornaram grandes pilares de sustentação das sociedades. Entre essas instituições podemos elencar as igrejas, as sociedades corporativas, as universidades, e a própria maçonaria, como sociedade organizada.      
 É nesse sentido que encontraremos em todos os seus templos, e no conjunto de atos litúrgicos que formam os seus ritos, bem como na estrutura do seu catecismo, uma profusão de temas, símbolos e fórmulas pertencentes a praticamente todas as instituições acima relacionadas.
Essa imagem pode ser viualizada no desenho da planta do templo e do quadro da Loja, onde os oficiais do culto e os artefatos que ornamentam o templo estão dispostos para a prática da liturgia que ali se desenvolve.  
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Planta do Templo e quadro da Loja, mostrando a disposição dos oficiais e símbolos utilizados na liturgia das reuniões. Cada título, instrumento ou  artefato simboliza uma idéia ou uma função na estrutura do catecismo maçônico. Foto: Ritual do Aprendiz (REAA)
 
           
 
                       Painel do grau de aprendiz
 
     As imagens acima mostram títulos, símbolos e ícones usados pela linguagem maçônica para veicular as idéias e os fundamentos nos quais ela apóia seus ensinamentos.  A idéia que está na base da maçonaria é a da Irmandade, praticada entre pessoas de bons costumes e caráter íntegro. Por isso o Grau de Aprendiz é consagrado á Fraternidade, tendo como objetivo a união de toda a humanidade. [1] O templo maçônico tem a forma de um retângulo, dividido em dois segmentos, que simbolizam o Oriente, onde se situa o Altar do Venerável Mestre, diretor da Loja e condutor dos trabalhos. Ali também se situam, pintados em um painel, os ícones reverenciados pela maçonaria, que são representações das primeiras manifestações da divindade no mundo da matéria, ou seja, o Sol e a Lua, símbolos da Luz com que o Grande Arquiteto do Universo ilumina o mundo de noite e de dia.[2] No teto, a representação do céu maçônico, onde ponteiam várias estrelas cujos significados são encontrados nas tradições cultivadas por antigas civilizações.[3]
    Os artefatos e instrumentos encontrados dentro do templo maçônico são, em sua maioria, inspirados na profissão revenciada pelos maçons. Essa profissão é a do pedreiro, origem da maçonaria institucional, que tomou emprestado da organização dos pedreiros medievais, a sua estrutura e boa parte da sua liturgia ritual. Assim é que a maioria das jóias utililizadas pelos oficiais lembra a profissão de pedreiro: esquadros, compassos, régua, a corda de oitenta e um nós, com a qual os pedreiros medievais demarcavam os canteiros, martelos, trolhas, cinzéis, alavancas, e outros instrumentos, são denotativos dessa tradição. Outros símbolos, como estandartes, colunas, espadas e punhais, bandeiras, candelabros, mesas e altares, as vestimentas e as alfaias usadas pelos oficiais e membros da Loja, as figuras geométricas, são representações de idéias e fundamentos defendidos pela maçonaria, assim como as cores de que são revestidas as paredes e o mobiliário do templo.
     Tudo isso constitui um formidável sistema de linguagem que precisa ser aprendido pelo iniciado.    
                          

Malho e cinzel, instrumentos        Esquadro e compasso, com a letra G de trabalho do pedreiro.                    Geometria) no centro, simbolizando o   
                                                      nasci
mento do universo maçônico.


                                         


       O aprendiz maçom, com os instrumentos de trabalho na mão, posto diante da pedra bruta, e com o seu avental de trabalho. Símbolo que significa o início de um trabalho de aprimoramento do seu caráter, simbolizado pela pedra b ruta que ele vai começar a desbastar. Por isso se diz que a maçonaria é uma idéia (o ideal de aprimoramento do caráter), uma prática (o trabalho do artesão, que transforma a pedra bruta em obra de arte) e uma instituição (a sociedade maçônica organizada) que permite esse resultado. Assim, a maçonaria, embora organizada de forma sectária e corporativa, tem como primeiro objetivo, o aperfeiçoamento moral do indivíduo e a preservação da idéia fundamental que está base do desenvolvimento social: a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Imagens: Ritual do Grau de Aprendiz e arquivo do autor.



[1] Cf. dispõe o Ritual do Aprendiz, no Rito Escocês Antigo e Aceito. Essa idéia é fundamental em todos os ritos maçônicos.
[2] Cf. Gênesis, 1:16.
[3] A abóboda celeste representada no templo maçônico reflete uma visão do céu , conforme vista por antigas civilizações, tais como a egípcia e a mesopotâmica. Segundo tradições cultivadas por esses povos, esses eram o “centro” de onde se originava a luz. Por isso os templos egípcios eram orientados em direção á estrela Spica, a estrela mais brilhante da constelação de Virgem, símbolo da deusa Ísis, a redentora.



João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 23/06/2013
Alterado em 27/06/2013


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