Formidáveis contradições
O Papa reclama do tratamento Dado aos africanos clandestinos Que tentam fugir do sofrimento E encontrar melhor destino Nas belas terras da Itália, Para suas pobres vidas párias.
Mas a sua igreja continua A condenar os preservativos E dessa forma perpetua A população de mortos vivos, Que a ignorância faz nascer E a fome só faz crescer.
Damos tanto valor á vida Mas destruímos o ambiente Que é a fonte de comida Que alimenta tanta gente. Formidável contradição! Como entender essa razão?
Todo recurso é finito E infinita a necessidade O dividendo é restrito Mas o divisor tem liberdade; Onde nos levará a equação Desta triste contradição?
O número de bocas aumenta Em progressão geométrica, Mas a comida que as alimenta Se mede com fita métrica; Quanto ao controle da população Isso está fora de questão.
Pois tudo isso é Deus que vela. Já que toda vida é querida. Por mais mesquinha que ela seja Sempre deve ser defendida. Se não passa do primeiro ano Que importa? - é direito humano.
E a gente ainda se espanta Por o mundo estar tão violento. E por a corrupção ser tanta, Que se tornou um instrumento Da rápida ascensão social De uma classe profissional.
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O serviço público e a política Com seus concursos e eleições São hoje coisas mais crípticas Do que as antigas iniciações, São sociedades secretas de falsários Ladrões e salafrários.
Os adolescentes podem votar Mas não podem ser processados Por roubar e por matar. Políticos não são responsabilizados Pelos crimes que cometem E nunca cumprem o que prometem.
Nossos guias espirituais Que deviam ser impolutos Hoje são os que pecam mais; Fizeram da religião produtos Que eles vendem muito bem Mas já não salvam mais ninguém.
E aí vem o mestre da auto-ajuda Que tem a receita da felicidade. Sua fórmula nunca muda: Basta pensar com positividade. Se fizermos tudo com amor, O universo conspira a favor.
A favor de quem eles não dizem Mas garantem que dá certo; E se os fatos os contradizem É você que não é esperto, Pois o cavalo passsou encilhado Azar ser por não ter montado.
Quem vende droga é bandido, Mas quem compra e usa é coitado; O primeiro deve ser reprimido O segundo merece ser tratado. Mas a verdade é bem mais dura: Só há oferta porque há procura.
Assim caminha a humanidade, Para um imprevisível futuro. Talvez exista alguma claridade, No fim desse túnel escuro, Mas só veremos de novo o dia, Tirando os óculos da hipocrisia.
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