HISTÓRIAS DE AMIZADE VII
DAVI E JÔNATAS
“Aconteceu que acabando de falar a Saul, a alma de Jônatas ficou intimamente ligada a Davi; e Jônatas amou-o como sua própria vida.”
I-Reis, 18:1.
Foi nos tempos do profeta Samuel
Que nasceu aquela grande amizade:
Vencendo as fogueiras da vaidade,
Emocionou todo o povo de Israel.
Esquecendo das próprias ambições
Seus interesses políticos renegaram;
Se amaram como se fossem irmãos,
Só no interesse da pátria pensaram.
Jônatas devia ser o monarca pela lei,
Pois do trono era o natural herdeiro,
Mas Deus chamou Davi para ser rei.
Daí Jônatas renunciou á majestade,
De Davi tornou-se amigo e parceiro,
E até o fim conservaram a amizade.
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Uma das mais belas e edificantes histórias de amizade é a relatada no Primeiro Livro de Reis, onde se destaca a relação entre Davi, o jovem pastor guerreiro, que depois se tornaria rei e verdadeiro fundador do reino de Israel, e Jônatas, filho mais velho do primeiro rei de Israel, o iracundo e traiçoeiro Saul.
Nestes tempos, em que a liberdade se confunde com licenciosidade, e todo mundo procura nos textos sagrados, as justificativas para seus próprios comportamentos, não tem sido poucas as interpretações no sentido de ver na amizade entre Davi e Jônatas, um relacionamento gay no melhor estilo.
Será? Bom, a Bíblia não é muito clara a esse respeito e, na verdade, a linguagem que ela usa para relatar essa amizade entre os guapos rapagões é muito dúbia. Principalmente na elegia que Davi faz de Jônatas após a sua morte quando ele diz que o amor de Jônatas “era mais gentil e amável que o amor das mulheres”.( Reis I, 1;26). Esse trecho tem sido invocado pelos defensores da comunidade gay, para sugerir que até Deus aprova esse comportamento, pois não só o permitiu entre dois dos seus mais amados filhos, como também o colocou acima até das próprias noções de hierarquia e necessidades políticas do seu povo escolhido.
Na verdade, entre Davi e Jônatas devia, mesmo, existir um forte sentimento, que excedia á própria atração erótica que se instala entre duas pessoas(de sexos opostos geralmente, ou do mesmo sexo ás vezes) e ia além da amizade comum que pode unir duas criaturas. Essa amizade, conforme se relata nos textos sagrados, superou as questões políticas, a ambição pessoal, as disputas dinásticas e todas as dificuldades que normalmente separam as pessoas e faz com que elas se tornem adversárias e, no mais das vezes, inimigas.
Normalmente Jônatas deveria ser inimigo de Davi, pois ele era o herdeiro natural do trono. Era o filho mais velho de Saul, e por sua morte deveria ocupar o trono. Estranhamente, ele preferiu apoiar Davi e se tornar seu mais ferrenho defensor, contra a ira do próprio pai, que via em Davi uma permanente ameaça à sua dinastia. Os textos bíblicos mostram um Jônatas mais interessado em conservar a amizade de Davi do quem em defender a sua própria herança.
Sem dúvida, essa é uma história de amizade de ultrapassa os padrões comuns. Não se conhece outra, onde um homem seja tão desapegado a ponto de trocar tudo pelo amor de um amigo. É verdade que entre a nobreza, a homossexualidade sempre foi uma coisa banal. Entre os gregos, principalmente, se registram vários casos, onde essa prática era comum. O caso de Alexandre o Grande, com seu amigo Hefestion, é um dos mais emblemáticos. A homossexualidade também foi muito explorada entre os reis ingleses, sendo famosos os casos de Ricardo, o Coração de Leão e Eduardo II. Na França, além de Maria Antonieta, citam-se numerosos reis e rainhas como adeptos dessa prática.
Bom. Se Davi e Jônatas tiveram mesmo uma relação homossexual, isso não faz nenhuma diferença. Em nossa opinião, o que motiva o estabelecimento de uma ligação tão intensa entre duas pessoas é o que menos importa, no fim das contas. O amor, esse sim, é um dom de Deus, e quando ele nasce, seja de que sexo forem os personagens envolvidos, ele merece respeito. Não precisa, obrigatoriamente, envolver relacionamento sexual.O verdadeiro amor(e a verdadeira amizade é um tipo muito especial de amor), transcende os apelos da carne.O sexo, nas espécies vivas, é uma função. Preserva a vida, pela sua multiplicação e gratifica o organismo, com o prazer que ele dá. Fazer dele motivo de discórdia e justificativa de nossos preconceitos é que é o problema. Gays ou não, o que fica dessa bela historia é um libelo á mais pura amizade.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 19/08/2013