João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


CALÍGULA E A RÊMORA
 
O paradoxo da infinitude é uma metáfora muito utilizada no campo da física nuclear, mas também se presta a interessantes considerações filosóficas. Ele diz que a solidez de um corpo é dada pela compressão dos elétrons em torno do seu eixo. Isso significa que quanto menor for o espaço em que eles estiverem confinados, maior será a velocidade com que eles girarão em volta do núcleo. Dai  resulta a solidez dos corpos físicos. Isso ocorre porque a velocidade com que os elétrons giram em torno do eixo “fecham “ a superfície do átomo com mais eficiência quanto maior for a sua velocidade. É como um goleiro que ficasse se movimentando no espaço do gol a duzentos quilômetros por hora. Nenhuma bola chutada contra esse gol entraria nele se não tivesse uma velocidade superior a essa. Qualquer bola lançada contra o gol a menos de 200 km por hora seria rebatida.  
Isso que dizer: quanto menor for o corpo em que a energia for concentrada, maior potencial energético encontraremos nele. Há uma história que ilustra bem esse fato. O imperador Calígula comandava uma esquadra de navios de guerra perseguindo uma frota inimiga. A frota romana era a mais poderosa esquadra que já havia sido vista no Mediterrâneo até aqueles dias. Centenas de navios bem armados e equipados. Velejavam rápidos e seguros em direção ao seu objetivo. Nada obstava o avanço da poderosa armada. Nada podia detê-los. Calígula, ele mesmo reverenciado como um deus, não tinha nenhuma razão para reclamar dos deuses.
Mas de repente, sem qualquer motivo aparente, a galé imperial se imobilizou no meio do mar. Enquanto os barcos inimigos velejavam rápido, se pondo a salvo das balistas romanas, o barco do imperador simplesmente empacou e com ele toda a esquadra. Calígula ficou furioso. Mandou que o marcador de compasso aumentasse o ritmo das batidas e os quatrocentos remadores do barco puseram todos os seus músculos em atividade. Remavam e remavam, mas nada de o barco sair do lugar. Não se movia um centímetro. A maior parte da frota inimiga escapou.
O imperador começou a pensar que algum monstro marinho, ou então Netuno, o deus dos oceanos, tivesse ficado com inveja dele e simplesmente resolvera segurar a sua galera. Mandou então que vários tripulantes pulassem na água e nadassem em volta do barco para ver o que o estava segurando. Mergulharam por baixo do casco e finalmente descobriram que uma rêmora, um pequenino peixe de aproximadamente quinze centímetros tinha ficado preso na cana do leme, impedindo que o barco se movesse. Nem a força do vento, nem a potência dos braços de quatrocentos homens foram capazes de mover o barco. O imperador do mundo, comandante do mais formidável exército que o mundo vira até então, tinha sido detido por um insignificante peixinho. [1] 
Essa história, contada pelo filósofo francês René Francóis, ilustra bem o paradoxo da infinitude.*
A força se esconde no ínfimo e não no imenso. Assim também dizia o historiador romano Plínio, o Moço, que ao se referir a essa história dizia que “ a natureza se esconde, faz sentinela e mantém sua guarnição nas menores criaturas.” E é isso mesmo que a ciência subatômica está a confirmar: toda a potência do mundo está condensada no núcleo do átomo, o mais infinitesimal dos elementos da matéria. E a lei da relatividade nos confirma esse princípio. A massa de um corpo, diz-nos essa lei, é igual á energia que ele encerra, acelerada ao quadrado da velocidade da luz. Isso quer dizer que a massa de um corpo, o seu volume, o seu tamanho, não depende só da energia que ele concentra, mas também da velocidade do seu movimento. Da mesma forma que a sabedoria popular já consagrou a fórmula segundo a qual os melhores perfumes se concentram nos menores frascos, a física e a filosofia, que são as duas colunas mestras do conhecimento humano vem agora a nos confirmar: a grandiosidade, a opulência, o exibicionismo, a magnificência, no mais das vezes tem imensos espaços vazios a esconder. E por isso são lerdos em seus movimentos. É propriedade intrínseca da energia se concentrar em pequenos pacotes. E a inteligência, que também  é energia, se concentra em pequeninas células , que são os neurônios. Aliás, não é sem razão que a energia fundamental que dá conformação ao universo se chama quanta.[2]

Mais um motivo para dar razão á Jesus. “Deixai vir a mim os pequeninos, pois destes é o reino dos céus.”
 
 
[1] Caio Júlio César Augusto Germânico (em latim Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus; 31 de agosto de 12 a.D. - 24 de janeiro de 41 a D), também conhecido como Caio César ou Calígula, foi imperador  romano de 16 de março de 37 até o seu assassinato, em 24 de janeiro de 41. Foi o terceiro imperador de Roma e membro da Dinastia Júlio-Claudiana, instituída por Otávio Augusto. Ficou conhecido pela sua natureza extravagante e por vezes cruel. Foi assassinado pela guarda pretoriana em 41, aos 29 anos.  Calígula é um apelido que significa "botinhas" em português. Esse apelido lhe foi posto pelos soldados das legiões comandadas pelo seu pai, Germanicus, que achavam graça em vê-lo vestido de legionário, calçando pequenas caligae (sandálias militares) nos pés.
[2] Quantas são grãos de energia, que se apresentam ora como partículas, ora como ondas.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 15/05/2014
Alterado em 19/05/2014


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