João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


O SUICÍDIO QUÂNTICO
 
A física é uma coisa engraçada e os físicos de hoje, se vivessem na Idade Média, ou no início da Renascença, iriam parar todos na fogueira. Pois eles são os novos bruxos do pedaço. Fazem coisas do “arco da velha” e dão nó na cabeça das pessoas. Você já ouviu falar do “Princípio de Heisenberg”? E do “Suicídio Quântico? “ Esses são dois princípios de física quântica, que se aplicados á filosofia da nossa vida cotidiana, seriam enlouquecedores. Pois o primeiro (o Princípio de Heisenberg) diz que tudo pode ser e não ser ao mesmo tempo. O segundo (Suicídio Quântico), mais louco ainda, diz que um homem pode estar morto e vivo ao mesmo tempo. Não é de enlouquecer?
Os físicos testam em laboratórios aquilo que os antigos taumaturgos  e filósofos deduziam em suas especulações metafísicas. Lao Tsé, Zaratustra, os rabinos que desenvolveram a filosofia da Cabala, os sábios hermetistas, se tivessem laboratórios com a tecnologia de hoje, o que não poderiam ter descoberto? E Nieszche, com sua loucura?
O Princípio de Heisenberg diz que nós podemos influenciar o resultado de um evento simplesmente pelo fato de observá-lo. Imaginem o que poderiam fazer as torcidas organizadas dos times de futebol se aprendessem a usar esse principio de uma maneira científica, ao invés de ficarem promovendo distúrbios com a loucura emocional que toma conta deles nos dias de jogo? Ninguém ganharia dos seus times.
E o Suicídio Quântico? Esse então é uma verdadeira loucura. Um sujeito pega um revólver carregado, o qual está ligado a uma máquina de detectar a energia de um spin. Spin, para quem não sabe, é um termo de física quântica que se refere ao movimento que certas particulas atômicas (prótons e eletrons, principalmente) fazem em volta de seus núcleos.  É, grosso modo, a medida do “giro” dessas particulas em volta do núcleo atômico ao qual estão atreladas pelo campo magnético que seus próprios movimentos provocam. Então, a tal máquina pode detectar se o spin está girando em sentido horário ou anti-horário. Se o spin da particula está no sentido horário, a arma dispara e o sujeito morre. Mas se ele está girando no sentido anti horário, a arma vai fazer um clic mas não vai detonar. E assim, pela eternidade toda, a arma vai ser detonada e nunca vai disparar. E o suicida quântico se torna imortal. Ou pelo menos, dessa forma ele jamais morrerá.
Como se explica isso? Essa teoria, que recebeu o estranho nome de multimundos,  foi proposta por um físico chamado Max Tegmark, da Universidade de Princeton, E.U. em 1997. Ela diz que cada vez que um evento acontece(no mundo quântico), o universo se divide em dois para agasalhar as duas probabilidades que ele apresenta. Isso quer dizer que, no mundo da realidade quântica (o mundo das ondas e partículas, que é o estofo de todas as coisas existentes no universo) todo evento tem 50% de possibilidades de dar certo ou de falhar. Isso quer dizer que no momento em que o suicida aperta o gatilho, o spin da particula ligada á arma tem 50 % de chance de estar girando no sentindo horário e 50% de chance de estar girando no sentido anti horário. Se estiver girando no sentido horário a arma dispara e o sujeito morre. E vai continuar morrendo pela eternidade toda, porque o universo se divide em dois a cada momento em que a arma detona. O fenômeno inverso ocorrerá se o spin estiver girando no sentido anti-horário. A arma faz um clic, mas não detona. E o universo se dividirá em dois para agasalhar essa possibilidade. E continuará se dividindo em dois pela eternidade afora, a cada vez que o clic da arma for ouvido. Não é enlouquecedor? De um lado um sujeito que morre eternamente; de outro um que vive para sempre. E ele é o mesmo sujeito, experimentando eternamente duas realidades diferentes.
É claro. Isso é só uma teoria. Mas todas as descobertas da ciência são, de início, baseadas numa teoria. Até hoje, as descobertas de Newton e Einsten são chamadas de teorias. Teoria da Gravidade, Teoria da Relatividade. Mas o homem já aprendeu a voar, já foi á lua, já inventou um monte de equipamentos e aparatos tecnológicos para facilitar a vida (ou destrui-la) com base na aplicação dessas teorias.
O principío de Heinsenberg nos remete á idéia de que o universo assemelha-se a um tecido cujos fios (ondas e partículas) estão em relação. Uns influenciando o comportamento dos outros. Daí o chamado efeito-borboleta. Uma borboleta bate suas asas na floresta amazônica e um pavoroso tufão varre a Baia de Tóquio. Um caçador mata uma foca na Patagônia e uma seca danada castiga o sudeste do Brasil. Serão eventos independentes? Se a borboleta não tivesse batido as asas, ou se a foca tivesse conseguido fugir antes que o caçador apertasse o gatillho, a realidade vivida por nós neste momento, seria diferente? Essa teoria diz que seria. Que nós viveríamos num universo diferente se um desses eventos desse outro resultado.
Já o suicídio quântico nos mostra que o universo é muito mais estranho do que pensamos. Que ele não é o que vemos. Que eles são muitos e em cada um deles o que parece ser não é, e o que não é pode ser. Sim e não, certo e errado, Deus e o Diabo, mal e bem. No mundo da física quântica os universos paralelos coexistem, cada um com seu “quanta” de possibilidades. Cada um deles não poderia ser também o universo real, onde pensamos estar vivendo a nossa realidade cotidiana? Nietszche, pelo menos, parece pensar que poderia.  
Diante dessas teorias, quem ainda se arrisca a duvidar da possibilidade da existência de uma vida depois da morte? Não “uma” vida, mas infinitas? Não apenas “uma” morte, mas um eterno morrer cósmico, que ecoa pela eternidade?
Ao pensar nisso não posso deixar de ouvir o riso sarcástico de Nietszche, sussurando no meu ouvido: "E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!".    

O SUICÍDIO QUÂNTICO
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 17/05/2014
Alterado em 09/10/2014


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras