AS TRÊS IDADES DO HOMEM
Na cidade de Tebas, na antiga Grécia, havia um monstro, chamado Esfinge, que fazia a mesma pergunta a todos os viajantes que por ali passavam: Que animal tem quatro pernas pela manhã, duas á tarde e três à noite? Quem não soubesse responder à estranha pergunta era devorado imediatamente pelo monstro. Édipo, ao ser inquirido pelo monstro com essa questão, respondeu: esse animal é o homem. Pela manhã da sua vida ele engatinha, andando com quatro pernas; à tarde, quando já crescido, anda em duas pernas, e á noite, quando envelhece, usa uma bengala, andando, portanto, com três pernas. A resposta estava correta e o monstro o deixou passar.
Essa metáfora é interessante e nós a evocamos para ilustrar as três fases da vida do homem; a sua vida cronológica, que se traduz pelo tempo que ele vive, a sua idade biológica, que se refere ás condições do seu corpo, e a sua vida psicológica, que é a forma pela qual ele sente, vê e pensa estar vivendo.
O homem é a espécie que contabiliza sua vida pelo tempo decorrido. Esquece-se que o tempo é mera abstração da nossa mente, que dela precisa para organizar sua vida numa sucessão de eventos lógicos e sequenciais, processo sem o qual ela teria dificuldade para entender o mundo em que vive. Mas essa qualidade da nossa mente também tem suas desvantagens: ela nos traz, como disse o poeta Vinicius de Morais, a consciência da morte, que é a angústia de quem vive. Ela nos faz conscientes do processo de envelhecimento, que também nos traz angústia e depressão.
Julgar a idade pelo número dos anos vividos não é, de certo, uma estratégia muito boa para a saúde. Também não é muito correta nem lógica. Uma pessoa de trinta anos, em virtude do seu estilo de vida, pode ter um organismo muito mais envelhecido do que uma de quarenta que mantenha hábitos saudáveis de vida. E o que dizer da parte psicológica, quando se observa um jovem de vinte anos com uma mentalidade tão inflexível que surpreende até um octogenário? Já se disse que há velhos moços e moços e moços velhos, e essa é uma indesmentível verdade, da mesma forma que a saúde orgânica não está, efetivamente, relacionada com a idade cronológica das pessoas.
Só o tempo é uma variável que avança em linha reta. Ele percorre um espaço unidimensional que só pode ser medido ponto a ponto. Mas ele só existe por causa da capacidade da nossa memória em armazenar experiências passadas. Daí esse nosso estranho e não muito saudável hábito de ficar festejando aniversários. Fazemos questão de medir e comemorar as passagens da nossa idade cronológica, como se cada ano vivido fosse uma conquista a ser somada e não uma fração de tempo a ser diminuída na régua da vida. Mas pior que isso é o fato de pouco nos ocupamos de medir e cuidar das nossas idades biológicas e psicológicas. No entanto, são estas duas últimas que pavimentam (e ornamentam) a estrada que nos leva a esse objetivo substancial da vida, que é o prazer de viver.
Felicidade é viver com qualidade. Qualidade em todos os sentidos: moral, espiritual, social, econômica, relacional. Para isso, o que menos importa é a idade cronológica. Mas está estreitamente vinculada à nossa idade biológica e psicológica. Ninguém pode ser feliz se o seu corpo não experimentar um estado de saúde; da mesma forma, se psicologicamente a pessoa não se sente bem.
É claro que o tempo leva ao desgaste do organismo e esse desgaste acaba comprometendo também a saúde da mente. Porque de nada adianta a vontade de fazer sem a correspondente força física para realizar. Mas essas condições de vida― idade biológica e idade psicológica― não são grandezas diretamente proporcionais, que aumentam ou diminuem conforme uma ou outra o faça. Há muitos exemplos de pessoas cronologicamente idosas que mantém corpos biologicamente saudáveis porque hospedam mentes psicologicamente jovens. E essas duas últimas variáveis podem ser manipuladas pela nossa vontade e pelas atitudes que tomamos a respeito. Já o tempo não.
Em cima dessa ideia nós criamos uma metáfora. Mais que uma simples frase de efeito, ela é um pressuposto para uma vida feliz. A metáfora é a seguinte: bom é morrer tão jovem quanto possível, o mais tarde que pudermos.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 27/05/2014
Alterado em 27/05/2014