João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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Zorobabel, o Aterzata
 
 “Vinde e restauremos os muros de Jerusalém. Não sejamos mais objeto de opróbrio para os nossos inimigos.” Esdras, 2:18.

 
 
Reconstruir Jerusalém, essa foi a missão,
Que o Senhor deu ao rabino Zorobabel.
Pois que então um novo pacto de união,
Seria estabelecido com o povo de Israel.


E para fazer a tarefa que Deus lhe dava,
A Maçonaria israelense estava preparada.
Se em uma das mãos a trolha manejava,
Na outra tinha prontos escudo e espada.
 
Assim o novo e belo templo foi erguido,
No lugar do antigo que bárbaros caldeus
Com selvageria haviam um dia destruído.   


Pois Deus favorece a quem sua lei acata,     
E dessa nova Loja fundada pelos judeus,
Zorobabel se tornou o Poderoso Aterzata.
 
 
 
 
 
A reconstrução do Templo
 
 
      Após mais de meio século de cativeiro na Babilônia,para onde foram levados após serem derrotados pelos caldeus em 586 aC. , os judeus foram autorizados pelo rei Ciro, da Pérsia, a voltar a Jerusalém e reconstruir o templo de Salomão, que havia sido destruído pelas tropas do rei Nabucodonosor.  Seu líder era um rabino de nome Zorobabel.
      Historicamente, o personagem Zorobabel foi um rabino que nasceu durante o cativeiro dos judeus no exílio da Babilônia. e se tornou líder daquele povo. Sob sua liderança, eles voltaram para Jerusalém com a permissão do Rei Ciro da Pérsia, após aquele rei ter derrotado os caldeus e libertado os povos que eles tinham levado cativos para a Babilônia. Diz o cronista Esdras que eram de 42.360 pessoas, além de seus servos e servas, o contingente de pessoas repatriadas, o que pressupõe que os judeus, já nessa época, não viviam mais como cativos no Império persa. Na verdade, conforme se nota pelas crônicas de Esdras e pelo livro de Ester, os judeus, durante o domínio persa gozavam de uma relativa liberdade, tendo não só seus próprios governantes como também mantendo sua religião e seus líderes religiosos.
     Na época, a Palestina ocupada pelos persas, era governada por agentes nomeados pelo próprio rei. Esse governador, denominado “sátrapa”, nomeava para cada cidade uma espécie de prefeito, que recebia o título de Aterzata. Esse foi o título atribuído a Zorobabel, após ele ter reconduzido a reconstrução do Templo.  
     Todavia, naquele tempo como hoje, a Palestina não era habitada somente pelos judeus. A volta de um tão vasto contingente de pessoas para aquela terra, sabidamente tão pobre em recursos naturais, trouxe muita preocupação para os povos que habitavam a região. Esse novo êxodo logo se degenerou em conflito. Esdras fala da feroz oposição dos samaritanos, povo que embora fosse aparentado dos judeus, com eles mantinha uma feroz inimizade, cultivada desde os tempos em que o reino israelita havia se separado em dois reinos antagônicos.
      Esdras deixa transparecer em sua crônica que essa oposição foi provocada pelos próprios judeus, que muito zelosos das suas próprias tradições, não permitiram que seus rebeldes conterrâneos participassem da reconstrução do templo.
      Como eram muitas as incursões dos samaritanos e de outras tribos habitantes da região contra o canteiro de obras, Zorobabel criou uma espécie de corpo de milícia para protegê-lo. Ao mesmo tempo em que trabalhavam na reconstrução, os operários judeus a defendiam, o que levou Ransay a dizer deles que “enquanto manejavam com uma das mãos a trolha e a argamassa, tinham na outra a espada”. [1]
     Esdras descreve assim essa restauração: “No primeiro ano do rei Ciro,o rei Ciro ordenou que a Casa de Deus, que há em Jerusalém, fosse reedificada no lugar onde se oferecem sacrifícios, e que se lhes pusessem uns fundamentos que sustentassem a altura de sessenta côvados, três fiadas de pedra por polir, e do mesmo modo fileiras de madeira nova; e que a despesa se fizesse da casa do rei. E que restituíssem também os vasos de ouro e prata do Templo de Deus, que Nabucodonosor tirara do Templo de Jerusalém, e que levara para Babilônia, e que se reconduzissem para o Templo de Jerusalém para o seu lugar, os quais também se puseram no Templo de Deus”[2]
     Foi essa disposição que motivou Zorobabel a voltar a Jerusalém, a testa de um exército de construtores, para reconstruir o segundo Templo de Salomão.    
 
A lenda da reconstrução
 
      Uma antiga lenda maçônica diz que a reconstrução do Templo foi conduzida por judeus que haviam fugido para o Egito durante a invasão dos caldeus. Após a derrota destes frente aos persas eles voltaram para Jerusalém e constituíram um grupo secreto para estudar arquitetura e promover a reconstrução do Templo, exatamente como ele o era no tempo de Salomão. Esse grupo mantinha-se na clandestinidade exatamente para evitar o ataque das populações hostis. Seus membros se identificavam através de palavras de passe e toques.   
    Era um grupo remanescente daqueles Perfeitos e Sublimes Maçons, conhecedores da Palavra Sagrada, de que fala o grau quatorze do REAA.
     Zorobabel, de volta a Jerusalém, entrou em contato com eles e fez reconhecer-se como um deles dando-lhes a Palavra Sagrada. Vendo a firme disposição daqueles irmãos em reconstruir o Templo do Senhor, Zorobabel empenhou-se junto ao rei Ciro para que ele permitisse e financiasse a reconstrução. Ciro concordou mas pressionou o líder judeu para que este lhe revelasse seus segredos, mas ele não cedeu ás pressões do rei. Comovido com a firme disposição de Zorobabel e com a sua fidelidade ao Senhor e aos seus Irmãos, o rei se dispôs a ajudá-los, liberando todos os judeus, fornecendo os recursos para a obra e devolvendo os utensílios que Nabucodonosor pilhara por ocasião da invasão dos caldeus.     
      Foi então que Zorobabel voltou a Jerusalém e junto com Neemias, coordenou a reconstrução do Templo.
      A história da reconstrução do Templo é uma epopéia que encarece o valor da fidelidade, da coragem e do zelo. O exemplo de resistência, coragem e determinação dada pelos judeus nessa reconstrução é uma prova de que a maior defesa de um povo está no respeito ás suas tradições e na persistência de uma crença. Enquanto outros povos, mais fortes, mais desenvolvidos, em termos econômicos, sociais, científicos e militares, são hoje apenas referências na história da civilização, Israel continua vivo e exercendo influência nela. Sua história é um exemplo de tenacidade, resistência, esperança e fé num destino traçado pela mão de Deus, e não apenas mais uma conseqüência do materialismo histórico, formatado pelas leis da evolução social.  
 
A ideia da Fraternidade  
 
      A história de Israel nos prova que é na idéia da Fraternidade, na crença da “eleição” por um Deus verdadeiro, na tradição de uma cultura e de um ideário comum de símbolos, mitos e esperanças que repousa a força de um grupo. Israel sobreviveu a todas as vicissitudes históricas, a todas as tragédias coletivas que se abateu sobre seu povo, graças ao kitch cultural que desenvolveu. Esse kitch repousa numa idéia de elitismo religioso, que o faz forte, capaz de resistir a todas as tentativas de desagregação interna e destruição externa. Por isso a Israel bíblica é o arquétipo que inspira a tradição maçônica.   
       Por muito menos nações mais poderosas e povos mais desenvolvidos deixaram de existir. Os gregos sucumbiram aos ataques de seus inimigos externos justamente pelas dissensões internas que sempre abrigaram em seu seio. Os romanos, mais tarde, também desapareceram por força da própria indolência que a desagregação social, política e econômica, provoca.  Assim desaparecem os povos e as nações, quando permitem que sua cultura se abastarde, suas tradições se corrompam e sua identidade se perca.
        A garantia de sobrevivência de um grupo está sempre no respeito ás suas tradições. Seria bom que os maçons não se esquecessem dessas lições, pois é nesse arquétipo que a Maçonaria, como instituição universalmente reconhecida, foi buscar a sua força nuclear. É na conservação de uma tradição, no compartilhamento de uma idéia de Irmandade e na força do apelo á espiritualidade, fundamentada numa noção, ao mesmo tempo mística e racional da divindade, que a Arte Real se apóia e se desenvolve, colocando-se como opção filosófica e prática de vida para uma sociedade cada vez mais diversificada e materialista.
         A Maçonaria como idéia é uma reedição do reino e do povo de Israel enquanto kitch cultural, capaz de sobreviver e difundir conhecimento, ciência e virtude para os povos, em todos os países onde ela existir. Nessa confluência de ideais, propósitos e compartilhamento de resultados, está a sua força e a sua justificativa como instituição, que sobrevive e cresce cada vez mais, não obstante as tentativas de supressão que tem sofrido ao longo dos séculos.
       Por isso, todos os graus da chamada Loja de Perfeição fazem menção á reconstrução do Templo de Jerusalém, sendo o próprio presidente dessas Lojas chamado de Aterzata, em homenagem ao rabino Zorobabel.
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NOTAS
[1] André Michel de Ransay, nobre escocês, tido como fundador do Rito Escocês Antigo e Aceito. Foi um grande disseminador da maçonaria no continente europeu no século XVIII.
[2] Esdras, 6,1/5
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 21/06/2014


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