João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


APRENDENDO COM O PCC
 
 
O melhor resultado de uma boa democracia é o fato de que à medida que o governo diminui sua presença na vida do cidadão, a comunidade organizada pode aumentar a sua. Esse é o principal indicativo de uma democracia saudável.
O Brasil tem um histórico de baixa participação comunitária. São poucas as empresas que tem consciência do seu papel social, bem como são raros os cidadãos que cultivam a virtude da participação na vida comunitária. Assim, o processo democrático acaba sendo viciado pelos movimentos internos que o direcionam. De um lado eleitores que elegem seus representantes com a esperança de que eles resolvam seus problemas particulares; de outro lado pessoas que são eleitas com a única intenção de fazer da política uma lucrativa forma de ganhar a vida.
Alguém já disse que um povo que vive à espera de um Messias para salvá-lo não merece ser salvo. Não avalizamos essa metáfora no sentido religioso, por que toda crença merece respeito, mas na política ela é muito apropriada. Enquanto a sociedade brasileira depositar suas expectativas na atuação de pessoas, individualmente consideradas, e não num sistema cujo poder esteja alicerçado numa equação que integre a sociedade e o governo, estaremos sempre na dependência de um “Messias” da causa pública que poderá nos levar para onde ele, e o grupo que ele representa quiser, masnunca para onde o país precisa realmente ir.
O destino de um país não pode ser estruturado em cima de projetos pessoais. A democracia não combina com messianismo. É a própria sociedade que deve identificar os seus males e desenvolver ações no sentido de curá-los. Esperar que todos os nossos problemas possam ser resolvidos por um grupo em particular, no caso, as pessoas que são eleitas para exercer os cargos públicos, é delegar demais. E a excessiva delegação gera uma eterna dependência.
A sociedade deve, portanto, procurar mais e mais meios de autogerir-se. Essa é a única forma de preencher os espaços vazios que os governos, por negligência, imperícia ou outros motivos não confessáveis deixam para que o crime organizado o faça. Aliás é isso que está acontecendo. Os lideres do crime organizado estão sendo mais competentes do que nós, os primeiro, segundo e terceiros setores da sociedade. Eles sabem que o vazio precisa ser preenchido, e onde o governo ou a sociedade organizada não está, lá estão eles fazendo o papel do salvador esperado. Eles agora estão dirigindo as passeatas e outras manifestações públicas. E estão dentro dos partidos políticos e das demais organizações governamentais e não governamentais. Que ninguém duvide disso.
Não há nada de estranho nem de demoníaco em tudo isso. É apenas o desenvolvimento de um processo natural. A principal qualidade do vácuo é a necessidade de ser preenchido. Para quem tem um filho doente, para quem precisa de um remédio, para quem está passando fome, para quem deseja um financiamento para fazer uma faculdade, ou até para satisfazer um desejo de consumo, tanto faz que esse recurso venha do governo, de uma ONG, da igreja ou do líder local do tráfico de drogas. E se hoje o crime organizado constitui um quarto setor na nossa sociedade, isso se deve principalmente á nossa incompetência, enquanto governo e sociedade organizada, de preencher os imensos vazios que existem nas mentes e nos estômagos do nosso povo.
Da mesma forma que as dores são mensagens que o nosso organismo envia ao nosso cérebro, avisando que algo não vai bem com ele, é preciso saber interpretar as mensagens que nos vem dos acontecimentos. Quando amortecemos nossas dores físicas com analgésicos, sem procurar extirpar as causas que a produziram, podemos estar assinando a nossa sentença de morte. Da mesma forma, se ficarmos discutindo medidas paliativas para combater o crime sem eliminarmos o material de que ele se alimenta, nada estaremos fazendo de verdade, mas apenas adiando a catástrofe final. Os líderes do PCC- Primeiro Comando do Crime (parece até nome de partido político) estão mostrando que entenderam bem isso. Nós, governo e sociedade organizada, ainda não.
É nesse sentido que o PCC pode nos ensinar alguma coisa. Não tenhamos constrangimento de aprender.  


 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 22/06/2014


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