João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


 
“O MINEIRAÇO”-  A HISTÓRIA SE REPETE
  
   “Âncoras, de forma geral, são estímulos externos que acionam comportamentos. O despertador toca, isso nos diz que devemos levantar; o apito da fábrica significa que é hora de começar a trabalhar; a sirena da ambulância ou do corpo de bombeiros nos coloca em estado de alerta, porque indica que ocorreu algum acidente, o sinal vermelho no trânsito nos diz que devemos parar o carro, um olhar reprovador de alguém significa que não estamos nos comportando de acordo com o padrão exigido pelo ambiente, etc.  E tudo isso é feito de forma inconsciente por nós."
                                 J.A.R- “ A Procura da Melhor Resposta”- Biblioteca 24x7- 2010

 
Em 27 junho de 1954, a seleção brasileira voltava para casa cabisbaixa e envergonhada depois de levar uma lavada de 4x2 da Hungria de Puskas (que por sinal não jogou naquele dia) . A Copa de 1954, que segundo os dirigentes do Brasil naquela época, iria servir para lavar a mancha do vexame do Maracanaço de 1950, trouxe mais decepção e tristeza para os brasileiros. Coincidência ou não, em 24 de agosto do mesmo ano, o presidente Getúlio Vargas se matava com um tiro no coração, dando início ao conturbado período que iria culminar com o golpe militar de 1964.
A História acontece da mesma forma que os dias de tempestade. Ela nunca desaba sem avisar. O céu fica negro, as nuvens circulam no ar sem direção, acabam se chocando e causam o barulho dos trovões. Depois vêm as descargas elétricas e por fim o temporal. E depois dele, os estragos que causam. Quando o céu fica negro e as nuvens começam sua dança caótica no ar, todo mundo sabe que a tempestade vai cair e é preciso procurar abrigo. Esses sinais visuais são âncoras que detonam comportamentos.
Não há nada de esotérico em tudo isso. Na verdade, tudo isso é muito normal. É que a História, como a própria vida das pessoas, é feita de âncoras, que são lançadas no inconsciente coletivo dos povos, e uma vez levantadas, detonam comportamentos que parecem inexplicáveis, mas que no fundo, são perfeitamente previsíveis.
As mesmas leis que regem o comportamento individual regem também o comportamento coletivo. Se prestarmos um pouquinho de atenção na história política do Brasil, vamos ver que a nossa seleção de futebol é o espelho fiel do estado brasileiro. Estado em todos os sentidos. Com letra maiúscula e minúscula. Estado politico, estado de organização, estado de espírito, tudo que seja sinônimo de organização e estrutura.
Ou desorganização e desestrutura. Em 1950 perdemos porque entramos de salto alto, na euforia de quem achava que tudo já estava ganho. Até a festa já estava pronta. Era exatamente o ambiente que reinava no país naquele momento. O Brasil vivia um momento de ilusão. A democracia havia sido recuperada no governo de Eurico Gaspar Dutra e o país ensaiava os primeiros passos em direção á uma modernidade administrativa com o plano SALTE. Mais tarde se verificou que tudo não passara de uma organização fundada em bases falsas, centrada mais no ufanismo caudilhista dos “messias” latino- americanos do que em uma estrutura pensada e planejada com inteligência e seriedade. A Constituição democrática de 1946 foi mais um belo engodo que os políticos enfiaram pela goela do povo brasileiro. Tanto que acabou com a eleição do mesmo ditador que ela acabara de destituir: o inefável Getúlio Vargas, velho e desgastado caudilho gaúcho, que durante mais de três décadas desfilou pelos palcos políticos do país como um Messias da causa pública. Tanto que era chamado de “pai dos pobres” e modernizador da economia brasileira.

A seleção de 1954, na Suíca, refletiu a desorganização que reinava no país naquele crucial ano, assim como a vitoriosa seleção de 58 e 62 refletiu o surto de euforia, esperança e otimismo vivido nos chamados “anos dourados”, que marcaram a história do Brasil entre 1956 e 1963, lembrado pelo governo desenvolvimentista de Juscelino e do maluco etilista Jânio Quadros. Aliás, 1963 foi o ano em que a baderna, a desorganização, o desgoverno e a falta de verdadeiros estadistas (que sempre foi o principal problema deste país), começaram a provocar o caos político, econômico e social que nos levou aos “anos de chumbo” do regime militar. A seleção de 66 refletiria, novamente, o clima de desorganização, corrupção e baderna que imperava no país naqueles tempos, e a gabada seleção de 70, não fugiria á regra: foi o reflexo puro e simples do chamado “Milagre Brasileiro”. As de 74 e 78 marcaram o declínio da época de falsas esperanças e engodos com que os militares e seus burocratas impuseram ao país durante mais de 20 anos. Nos anos 80 não ganhamos nada, porque o país também estava vivendo a chamada “década perdida”, que começou com o desmanche do regime militar e culminou com a zona que foi o governo de Sarney e a tragédia do governo Collor. Só voltamos a ganhar em 1994, coincidentemente o ano em que o país entrava na “nova era” do real forte, do governo de Fernando Henrique. Tudo se ajusta.
E assim por diante, poderíamos, se não fosse enfadonho, correlacionar cada seleção brasileira aos humores vividos pelo país em cada ano de Copa do Mundo. E não seria surpresa verificar que os resultados em campo tem tudo a ver com os momentos políticos, econômicos e sociais que o país está vivendo. Basta lembrar quando tivemos a última vitória, em 2002. Foi um ano de grande euforia. O Brasil estava consolidando a democracia e vivendo um momento político, econômico e social maravilhoso. Fernando Henrique estava terminando o seu período e o país tinha dominado a inflação e construído uma estrutura de país moderno e pronto para dar o salto de qualidade que o colocaria no primeiro mundo.
Lula aproveitou isso e terminou seus dois mandatos com um alto prestígio popular. Vendeu ao país 12 anos de ilusão.
Aliás, qualquer comparação entre o período Lula e os anos de governo de Getúlio Vargas não seria heresia. E qualquer comparação entre 1954 e 2014 também não será mera coincidência. Afinal, âncoras são âncoras. Desorganização, baderna, corrupção, falta de lideranças sérias e comprometidas, desgoverno e queda de prestígio das instituições, são uma marca destes anos do governo Dilma. Qualquer comparação do seu governo com o período de Jânio em Brasilia não seria mero exercício de imaginação.

A propósito, a seleção brasileira não perdeu nada. Ela não tinha mesmo futebol para ganhar essa Copa. E não adianta esconder a cara de vergonha. Esta, nunca tivemos mesmo. O Getúlio governou o país durante 15 anos como ditador. Cortejou Hitler e Mussolini. Antecedeu os militares de 64 em tudo que se pode dizer em termos de autoritarismo, repressão e proteção aos corruptos e ao coronelismo político. E foi eleito democraticamente depois de tudo isso. O Lula trouxe a Copa para o Brasil e nos deixou uma dívida de 40 bilhões de dólares para pagar por conta das “arenas” padrão FIFA. Patrocinou o maior esquema de corrupção política que o país já viu. Deixou que seu partido se envolvesse com a bandidagem e o crime organizado. O PMDB e o PCC são hoje os aliados mais fortes do PT.
De quebra temos agora a o vexame da maior e mais acachapante derrota esportiva de todos os tempos. O Getúlio “pai dos pobres” nos deu a "base para a industrialização do país".  E o início da bagunça que resultou na ditadura militar. Tudo começou com aquele “Maranaço” de 1950. O Lula das “bolsas-família” que herança nos deixará? Diz ele "que nunca antes da história deste país..." 
Será o “Mineiraço” de ontem uma âncora que acaba de ser levantada? Será que Nietszche, enfim tinha razão? Estamos mesmo  condenados a viver eternamente a mesma história?

 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 09/07/2014
Alterado em 09/07/2014


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