A SÍNDROME DO CORNO
Uma sociedade democrática tende a emancipar tudo. Emancipamos a droga, que hoje é tão livre quanto as pessoas que as consomem. Emancipamos o sexo, que deixou de ser uma função do organismo humano para ser mais uma fonte de prazer e afirmação pessoal ; emancipamos a guerra, que já não depende dos homens para ser travada. Ela é hoje uma função reguladora nas tensões sociais, tais como as epidemias e as revoluções. E ás vezes a gente emancipa os filhos mais cedo do que deveríamos para nos livrarmos da responsabilidade de ficar patrulhando o ingresso seguro e gradativo deles nesse perigoso território que são as responsabilidades da vida adulta.
Em minha juventude morei em uma cidade pequena onde os costumes eram rígidos e controlados. Todo mundo sabia quando uma moça solteira deixava de ser virgem. Ela ganhava um carimbo que ficava indelével na testa dela. Quando passava nas ruas, as donzelas casadouras e as senhoras sem mácula só a chamavam de “essa aí”. Assim também era com os garotos que fumavam maconha, com o ladrãozinho do bairro, com o garoto que fazia dezoito anos e “ainda não trabalha”, com o caloteiro que não pagou o carnê e a loja tomou o fogão novo que ele comprou, e outras coisas do gênero. Nem a nossa sociedade Big-Brother de hoje, com suas câmaras espalhadas por toda parte, fiscalizava melhor os comportamentos alheios que as nossas velhas “Candinhas” de bairro, que sabiam de tudo e ficavam nas janelas das casas trocando as “informações”.
Hoje, ser corno talvez não incomode tanto quanto naquele tempo. Não diria que virou moda, mas parece que esse “carimbo”, como tudo o mais, foi emancipado. Existe até um Clube dos Cornos, em Brasilia, que congrega os militantes, homens e mulheres que já passaram pela experiência de descobrir que seus parceiros lhe botaram vistosas galhadas. O fato de esse clube ter nascido exatamente em Brasilia, talvez seja emblemático. A gente, nem sempre sabe o porquê das coisas, mas que tudo tem um motivo, isso certamente tem. Um clube como esse só poderia mesmo nascer em Brasília.
Nessa minha cidadezinha do interior havia um sujeito─ por sinal, amigo nosso ─ que era corno. Todo mundo sabia dos chifres que a Maria, sua mulher, metia nele. Menos ele, ao que constava. O que para nós era impossível que ele não soubesse, pois a dita cuja não fazia muita questão de esconder. A coisa era tão escancarada e escandalosa, que um dia, um dos nossos colegas, não conseguindo mais segurar a bronca de ver um antigo confrade sendo chifrado daquele jeito, tomou coragem e falou abertamente com ele. A resposta merece reflexão:
─ Eu sei disso, meu amigo e agradeço a sua solidariedade. Mas o que quer eu faça?
─ Larga essa mulher, cara. Ela está envergonhando você ─ disse o amigo, indignado.
─ Se eu largar─ disse ele prosaicamente ─ vou ter que arrumar outra. Quem me garante que ela não vai me enganar também? Com a Maria eu já sei como é. Com outra eu não sei como será.
Lembrei-me do nosso velho amigo corno ao ler os jornais do dia. Nova pesquisa Ibope aponta que a Dilma, e por consequência, o PT, está crescendo nas pesquisas. E que pode ganhar as eleições. E se assim for, a quadrilha que anda saqueando os cofres públicos há doze anos ─ para onde vai o rico dinheirinho dos nossos impostos─ vai continuar metendo a mão na gente.
É. Talvez doa menos ser enganado por alguém que a gente já conhece do que se arriscar com estranhos que a gente não sabe se vai ser pior. É assim que a gente emancipa o vício, o crime, os maus costumes, a corrupção e tudo o mais. Se acostumando com essas coisas. Se isso acontecer, só restará dizer ao povo brasileiro mais uma vez: ─ Bem vindo ao Clube dos Cornos.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 13/09/2014