João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


                                   VITÓRIA DE PIRRO
 
       Estamos vivendo em um perigoso estado de desconstrução neurológica que poderá nos levar a resultados catastróficos em pouco tempo. Falo do momento social, político e econômico pelo qual o país está passando. É um estado de profundo pessimismo que nos está sendo incutido a partir de uma frustração com o mau momento econômico que o país está vivendo e que foi agravado com o resultado das últimas eleições.
       Claro que as autoridades políticas e administrativas do país têm muito a ver com isso. A escolha de diretrizes equivocadas na condução da politica social e econômica, a indicação de gestores corruptos e incompetentes, feita mais por critérios políticos do que por méritos profissionais ─ que tem a sido a marca dos últimos governos ─ agravaram a gestão da coisa pública de tal forma que agora o esforço será muito grande para corrigir tanta desordem e desajustes causados por essa forma de administrar o país. 
      São tantas as notícias ruins que já está ficando complicado ligar o rádio ou ler o jornal pela manhã. É um bombardeio tão grande de informações preocupantes, que a gente fica pensando se vale a pena sair da cama para ir trabalhar e ou se ainda é viável tocar aqueles planos que foram traçados na noite anterior. Ou então se pega a mala e vai direto para o aeroporto, por que este, daqui a pouco, pode ser a única saída que a gente ainda vai enxergar, como aconteceu com o inefável Lobão. 
      No entanto, os problemas de hoje não são maiores que os que tivemos ontem, nem menores dos que teremos amanhã, se hoje não fizermos alguma coisa para corrigir os rumos das coisas. É preciso aprender com as experiências do passado. Aperfeiçoar o que deu bom resultado e mudar a forma de fazer em relação ao que não deu. Continuar a fazer as coisas do mesmo jeito que sempre fizemos só pode nos conduzir sempre ao mesmo resultado.
      Claro que há muitas coisas cuja decisão não depende de nós. As decisões políticas, por exemplo, que estão nas mãos das pessoas a quem elegemos, é um fato que não dá para mudar. Se erramos ao escolher essas pessoas vamos ter que conviver com esse erro pelos próximos quatro anos. É bobagem intentar qualquer ação que busque reverter esse quadro, pois isso sim, seria jogar contra o próprio patrimônio e melar um jogo ─ o jogo democrático ─ que nós levamos tanto tempo para poder jogar. Vamos respeitar o suor e o sangue de quem deu até a própria vida para conseguir isso e buscar, pela via democrática, de respeito ás leis e á ordem constituída, as mudanças que queremos para o nosso país.
     Uma coisa parece certa: quem ganhou as eleições não tem a maioria das consciências a seu favor. O país tem mais de 130 milhões de eleitores e apenas 54 milhões votaram na chapa vencedora. Isso quer dizer que existem 76 milhões que estão outro lado, contra ou apenas indiferente. Isso é muito maior que uma maioria simples, e o governo e seus aliados, que já estão se movimentando para fatiar o bolo de novo, achando que nada mudou e tudo vai continuar do mesmo jeito, precisa estar atento a isso. Não existem alicerces, por mais resistentes que sejam, que subsistam quando as águas fluem de baixo e começam a minar suas bases. Que a situação não se acomode com a sua vitória de Pirro, pois todo mundo sabe que vitórias como essa, conquistadas da forma como foi obtida, acabam trazendo mais prejuízo ao vencedor do que ao adversário.[1]
                                                            
 
 
[1]Outra vitória igual a essa e eu estarei perdido”. Isso é o que teria dito o rei Pirro, do Épiro (318-272 a. C.), depois de vencer os romanos em uma batalha, na qual a metade do seu exército foi dizimado.
        
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 11/11/2014
Alterado em 11/11/2014


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