PAVILHÃO 9
O nome, por si só, já inspirava constrangimento. Pavilhão 9. Lembrava divisão de penitenciária ou campo de concentração. Ele abriu os lábios em um sorriso malicioso, que revelava uma íntima satisfação. Ele adorava fazer aquilo. Mesmo sendo quem era, não se lembrava de quando tinha se iniciado naquela profissão. Seguramente fazia muito tempo. Milênios incontáveis, desde que se desentendera com o seu Mestre. Mas por causa dele quanto trabalho o Mestre já tinha tido. Quantas vezes o velho e temível Vasto Semblante, Ancião dos Dias, Senhor dos Tempos e outros títulos bombásticos que o Mestre gostava de ser chamado, tivera que reconstruir o que ele, anjo rebelde, o Grande Desencaminhador, destruíra.
Ah! mas o que ele mais gostava era daquilo que ele estava fazendo naquele momento. O sorriso malévolo que tinha nos lábios foi despertado por doces lembranças. Auschwitz, Jonestown, Carandiru, Candelária, só para lembrar suas mais recentes e memoráveis façanhas...
Sentou-se na penumbra do salão soturno e assustador e esperou. Os doze indivíduos que estavam ali, conversando animadamente nem suspeitaram da sua presença entre eles. Eram onze horas da noite quando os três sujeitos que ele agenciara entraram no salão. Os doze indivíduos que ali estavam, pintando uma bandeira demoraram para perceber a intrusão. Ele não de perceber a ironia daquilo tudo. O nome Corinthians puxou a sua memória para outro nome tão odiado: o daquele maldito rabino judeu que tanto o prejudicara há tempos atrás.
Quatro dos sujeitos que estavam ali perceberam o perigo e saíram correndo. Sorte deles, pensou o estranho sujeito sentado nas sombras. Mas logo se esqueceu deles e passou a contemplar, com satisfação, o que acontecia dentro do salão. Os três assassinos que haviam invadido o salão sabiam trabalhar bem. Pareciam profissionais que tinham aprendido com os alunos que ele instruira no Oriente Médio, entre aqueles caras do Estado Islâmico. Eram matadores frios, cuja alma já estavam na sua bolda.
Eles mandaram os oito se ajoelharem no chão. Ouviu as súplicas deles. Se não fosse quem fosse teria tido um orgasmo de prazer ao ouvir as espocadas das pistolas nove milímetros, o barulho dos cartuchos batendo no cimento frio do salão e a vista dos oito corpos estrebuchando, o sangue manchando de um vermelho ocre o cimento do piso. Eles eram exatamente o tipo de almas que ele precisava. Gente que já estava a meio caminho do seu reino.
Rindo diabolicamente ele tocou os oito corpos deitados no chão e enfiou a mão na boca de cada um deles. De cada boca sua mão voltou com uma pequena luz que ele guardou em uma bolsa. Depois ergueu os olhos para cima em sinal de desafio. Tinha vencido mais uma queda de braço com o Mestre. Podia agora, voltar para o seu reino de eterna danação e descansar um pouco, entre serpentes, brasas vivas e indizíveis horrores, da mesma forma que seu velho e odiado velho Senhor tinha descansado depois de construir toda essa empresa que ele, há milhões de anos, estava empenhado em destruir. Tinha cooptado mais onze almas para o seu exército de danados.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 20/04/2015
Alterado em 20/04/2015