. ME ENGANA QUE EU GOSTO
Que o futebol sempre foi um oceano de piratas, corruptos e predadores, todo mundo sempre soube. Não é de hoje que isso acontece. O último homem honesto que militou no futebol, a que eu saiba, foi Paulo Machado de Carvalho. Pelo menos nunca ouvi nada que desabonasse seu nome. Se alguém souber de alguma coisa pode dizer. Se for verdade eu me retratarei e direi que ninguém presta nesse mundo podre. Nem o Pelé, que dentro do campo era mágico e foi grande, mas fora de campo revelou um péssimo caráter que maculou tudo de bom que fez dentro das quatro linhas. É da sua autoria, por exemplo, a lei que transformou os clubes em verdadeiras “barrigas de aluguel” de empresários e dirigentes corruptos. Há quem diga que ele não fez isso de graça. O Zico, por exemplo, outro cara que também teve oportunidade de varrer a sujeira que existe no futebol quando foi ministro dos esportes e não fez nada, andou falando cobras e lagartos do Pelé. E ninguém se propôs a esclarecer isso. Nem a imprensa.
Brigas á parte ─ que no fundo não são mais que predadores disputando a mesma carniça─ todo mundo sempre soube que nesse campo quem não rouba não fica. Tudo é feito para que a ladroagem seja praticada e aperfeiçoada como habilidade dos mais virtuosos profissionais. O governo sempre soube, o ministério público sempre soube, a imprensa sempre soube, mas ninguém nunca se preocupou em varejar essa podridão que existe nesse meio porque isso não interessa a ninguém. O principal personagem do escândalo que envolve a FIFA e a CBF, que resultou na prisão de vários dos seus diretores, por exemplo, é um antigo jornalista, chamado José Havilla, que tempos atrás era um mero repórter de campo que trabalhava na Rádio Bandeirantes. Hoje, a principal compradora dos eventos esportivos no Brasil é a poderosa Rede Globo de Televisão. Alguém, nesse país, e no próprio governo, tem coragem para encarar a Globo? Ela já destruiu um presidente, já acabou com a carreira de muitos políticos e destrói quem quer que se volte contra ela.
O que dói é que essa carniça sempre esteve exposta e ninguém nunca ousou tomar qualquer providência para enterrar esse defunto. Precisou que a justiça dos Estados Unidos, que diga-se a verdade, está agindo única e exclusivamente por vingança ( A FIFA trocou os Estados Unidos pelo Qatar para sediar a Copa de 2022) viesse mexer nesse vespeiro para que as autoridades brasileiras começassem a se incomodar com o mau cheiro que essa podridão sempre exalou. Agora o inefável Romário conseguiu votos para uma CPI ( mais uma farsa que vai dar em nada) a Policia Federal fala em investigar, o Ministério Público começa a dar o ar de sua graça e por ai vai.
Me engana que eu gosto. O próprio Romário, não faz muito tempo, posava ao lado do Ricardo Teixeira e tecia loas ao Eurico Miranda, que é uma espécie de Maluf do futebol. Quem acredita que isso tudo vá resultar em alguma coisa que traga moralidade para o nosso futebol? Quem terá coragem de propor e aprovar leis que proíbam empresários particulares de comprar direitos federativos de jogadores e empobrecer o futebol brasileiro vendendo esses jogadores para o exterior antes mesmos de eles se tornarem conhecidos no Brasil? Quem conhecia, por exemplo, a maioria dos atuais jogadores da seleção brasileira, antes de eles se tornarem famosos em clubes estrangeiros? É evidente que os dirigentes dos clubes brasileiros lucram com essa conjuntura, enquanto afundam os clubes em dívidas, escândalos e prejuízos, porque se assim não fosse já teriam mudado isso há muito tempo. Afinal, são eles que elegem os dirigentes das federações e da CBF. E são eles que sustentam a existência das chamadas torcidas organizadas, que na verdade, são muito mais extensões do crime organizado do que organizações de torcedores com a finalidade de apoiar seus clubes.
Nos anos setenta, lembro-me bem, quando o Brasil ganhou o Tri, o Miguel Gustavo fez uma marchinha que dizia: “ Noventa milhões em ação, prá frente Brasil, Salve a seleção”. Naqueles áureos tempos em que ainda tínhamos futebol de verdade no pais (apesar da ditadura) o Pacaembú podia receber sessenta mil torcedores para assistir um Corinthians e Palmeiras, sentados uns ao lado dos outros, cada um torcendo para o seu clube, sem briga. Hoje, a imprensa dá manchete quando um público de quarenta mil “lota” as novas arenas. E o país tem agora mais de duzentos milhões habitantes. Aqui cabe a pergunta: o futebol ainda é o esporte do povo? Ou virou apenas mais uma vaca gorda de milhares de tetas onde um monte de safados mamam, rindo da cara da gente?
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 31/05/2015
Alterado em 02/06/2015