João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


             A ÁRVORE DA VIDA E O DECÁLOGO
 
  • 1. Amar a Deus sobre todas as coisas.
    2º - Não usar o Santo Nome de Deus em vão.
    3º - Santificar domingo e festas de guarda.
    4º - Honrar pai e mãe (e os outros legítimos superiores).
    5º - Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo)
    6º - Não pecar contra a castidade
    7º - Não furtar
    8º - Não levantar falsos testemunhos (nem de qualquer outro modo faltar à verdade ou difamar o próximo)
    9º - Não desejar a mulher do próximo
    10º- Não cobiçar as coisas alheias
     
1.Kether ▬ A coroa, o início,       
2. Hockmah- ▬  A Sabedoria
3. Binah- ▬ A Compreensão
4. Hesed ▬ A Misericórdia
5. Gevurah ▬ O Julgamento
6. Tipheret ▬ A Beleza
7. Netzach ▬ A Vitória
8. Hod ▬ Explendor, Reverberação,
9. Yesod  ▬ Fundação
10. Malkuth- ▬ o Reino, o Resultado

     Cada séfira da Árvore da Vida corresponde à uma qualidade do ser humano. A aquisição e o exercício dessas qualidades, no nível máximo da excelência, é o corolário do homem enquanto criatura que atinge o clímax da sua competência como criação de Deus. Por essa razão, a Árvore da Vida é uma enciclopédia do saber universal e uma escada de ascensão em direção ao divino. Segundo os adeptos da Cabala, enquanto filosofia de vida, estudá-la e aplicar seus ensinamentos equivale a fazer um curso de aperfeiçoamento moral e espiritual. A prática diária dos ensinamentos obtidos na Cabala é fundamental na estruturação de uma vida profícua e feliz, isenta de dores físicas e morais.
Há quem diga que a Cabala é a verdadeira Ioga do Ocidente. Ao mesmo tempo em que se adquire uma eficiente disciplina para a manutenção da saúde do corpo ela também proporciona uma eficiente salubridade para a mente, livrando-a das impurezas e dos contrastes que tanto nos levam a fazer escolhas erradas.
A Árvore da Vida representa as dez manifestações da essência divina, que correspondem, cada uma, a um momento da criação física e espiritual do universo. Em nossa obra Mestres do Universo demonstramos a correspondência entre as séfiras e as leis físicas que dão nascimento à matéria universal, e as organiza em sistemas, resultando no mundo real tal como o conhecemos. Essas leis, tais como a relatividade, a gravidade, a conservação da energia, a complementaridade, a cissiparidade etc. são formas energéticas segundo as quais o Criador age no mundo para lhe dar formato e consistência. Da mesma forma, elas representam as leis morais e espirituais, que Ele criou para desenvolver o que chamamos de mundo interno, ou seja, o mundo das realidades sutis que se hospedam nas atividades manifestadas e não manifestadas da nossa mente. As primeiras afloram na nossa consciência e formam o mundo moral. As segundas se hospedam no nosso inconsciente e formam o mundo dos arquétipos.
 
Há quem diga que o próprio Decálogo, o conjunto dos dez mandamentos que Moisés recebeu de Jeová no Monte Sinai, é uma expressão literária-jurídica da Árvore da Vida, e seus artigos, que se tornaram leis morais para todos os povos, correspondem, cada um a uma séfira. Assim, o primeiro mandamento, "Não terás outros deuses diante de mim." (Êxodo 20:3), representa Kether, a coroa da criação, pois o culto ao Princípio Criador de todas as coisas e o reconhecimento que tudo vem desse Princípio está acima de toda e qualquer manifestação que o espírito humano possa fazer. Segundo a ótica cristã, esse mandamento nos concita a amar a Deus sobre todas as coisas e este é, sem dúvida, o fundamento maior de tudo.  Neste artigo da Lei está implícita a verdadeira sabedoria, ou seja, que Deus é espírito e que a única adoração que se admite é aquela que se presta com o espírito. O resto é respeito, tolerância, amizade, compreensão solidariedade, sentimentos humanos que expressam o nível de aperfeiçoamento moral e espiritual a que se pode chegar praticando esses mandamentos. Essa foi a grande contribuição dos israelitas ao mundo , pois com isso eles inseriram na cultura da humanidade o conceito do Deus único e universal.  Até então havia uma grande dificuldade dos povos antigos em entender que Deus é espírito, que Ele não se confundia com pessoas, animais ou forças da natureza, e que estas deviam ser respeitadas, mas não adoradas.
De outra forma, a sabedoria de Hockmah corresponde ao segundo mandamento, que nos exorta a"Não tomar o nome de Deus em vão (Êxodo,20,7)". Aqui está implícita a ideia, bem cara aos cabalistas, e também aos maçons, de que o nome de Deus é uma Palavra Sagrada que contém poder, e como tal não deve ser pronunciada em vão.[1]  
A terceira séfira, Binah, que significa compreensão, corresponde ao terceiro mandamento, que nos manda trabalhar durante seis dias e no sétimo descansar, pois assim o próprio Princípio Criador o fez ( Êxodo, 20:8,9). Isso significa compreender que a obra de Deus é contínua e se constrói por etapas, e dela mesma ela se reabastece, buscando em si própria a reposição da energia gasta no trabalho de construção edifício cósmico. Esta é, por consequência, a razão de todas as disciplinas de caráter iniciático, como a que se pratica na Maçonaria, serem ministrada em graus ritualísticos. 
Em seguida vem a quarta séfira, Hesed, a Misericórdia, que corresponde nas Tábuas da Lei ao quarto mandamento, que nos comanda a honrar pai e mãe para que tenhamos uma vida dilatada sobre a terra (Êxodo, 20,12). Esse mandamento nem precisa de muita exegese, porquanto o respeito aos nossos ancestrais trás implícito uma fórmula de sabedoria muito profunda que nos diz que só obterá a misericórdia divina aquele que mostrar o devido respeito pelos seus ancestrais, já que o primeiro e maior de todos os nossos ancestrais é o próprio Deus, que está na origem de todas as coisas.
A quinta séfira, Gevurah, corresponde á noção de julgamento. No Decálogo ela reflete o quinto mandamento, que nos concita a não matar, ou seja, não cometer homicídio (Êxodo, 20:13). Com efeito, essa analogia a si mesma se explica, porquanto o homicídio, sendo o maior dos crimes que uma pessoa pode praticar contra a sua própria espécie, já corresponde a um julgamento que ela faz contra si mesma.
A sexta séfira, Thifered, que vem ornada pelo adjetivo  Beleza, corresponde ao sexto mandamento, que nos proíbe de cometer adultério (Êxodo, 20:14). Com efeito, na tábua dos valores morais de uma sociedade sadia, o casamento assume um caráter sacro, pois é dele que vem a estabilidade da família. Não há nada mais belo e santo que uma família estável, onde a fidelidade reciproca é praticada. Por isso a analogia aqui é perfeita e a sabedoria dos mestres cabalistas que compuseram o desenho da Árvore e a sua correspondência com os conceitos morais de uma sociedade sadia se mostra em toda sua plenitude.
A sétima séfira, Netzach, que na Árvore da Vida significa Vitória, no Decálogo corresponde ao sétimo mandamento, que nos proíbe de roubar (Êxodo, 20:15). Aqui se trabalha a ideia de que toda vitória, seja ela em que campo de atividade for, só tem valor se for conquistada pelas nossas próprias forças, graças ás nossas próprias qualidades, pelo nosso próprio mérito. É uma vitória do caráter e não da atividade sub-reptícia, ardilosa, que não cria, não acresce, não produz, mas apenas subtrai. Como tal é a atividade dos ladrões, dos corruptos, dos saqueadores, enfim, de todos aqueles que se apossam de bens aos quais não fizeram jus. A vitória é dos que lutam para construir e não dos que deles usufruem sem mérito.
A oitava séfira, Hod, corresponde na Árvore na Vida, ao conceito de reverberação, brilho, reflexo. No conceito do Decálogo ela reflete o conteúdo moral do oitavo mandamento que nos diz para não prestar falso testemunho contra o nosso próximo (Êxodo, 20: 16). Aqui está inserta a ideia, muito cara aos cabalistas, e também aos maçons, de que toda ação é reflexiva e projeta sua consequência sobre o seu autor. Isso simplesmente quer dizer que quem calunia ou difama seu próximo fatalmente será também caluniado e difamado por alguém, como reflexo da sua própria maledicência. Por isso, em todos os rituais dos graus filosóficos da Maçonaria será encarecida aos Irmãos a aquisição de um conceito de justiça, no qual o principal tópico se refere sempre á busca e ao testemunho da verdade. A verdade brilha por si mesma e não busca reflexo em nenhuma outra luz.   
Na nona séfira, Yesod, encontramos o termo correspondente, que se associa ao conceito de fundação. Esse termo, no Decálogo, nos remete ao mandamento número nove. (Êxodo, 20: 17). Esse conceito, que no Decálogo aparece no versículo acima citado, está desdobrado em dois comandos, um que nos adverte contra o desejo de cobiçar a mulher do próximo e outro que nos manda evitar a cobiça contra os seus bens. O artigo que se refere á mulher do próximo se associa ao conceito de fundação, pois sendo a mulher o próprio fundamento da família, qualquer violação á esse principio concorre para a destruição dessa importante pilastra do equilíbrio social.
Por fim, a séfira Malkuth, que na Árvore da Vida é titulada com o conceito de Reino, no Decálogo nós a associamos ao décimo mandamento, que nos proíbe de cobiçar as coisas alheias (Êxodo, 20:17). Esse mandamento, como é óbvio, se refere ao nosso próprio estabelecimento como unidade familiar e social, onde os nossos bens, o nosso patrimônio, seja ele econômico ou cultural, deve ser respeitado e defendido. Toda a estabilidade social depende desse respeito, razão pela qual o instituto da propriedade privada ganhou relevância em todos os sistemas jurídicos experimentados pela sociedade humana até hoje. Nem os sistemas políticos que optaram pelo comunismo total dos bens ousou abolir por completo essa noção, já que ela faz parte da natureza humana. Portanto, no conceito de reino, implícito na séfira Yesod, está o próprio fundamento do homem enquanto célula social. Nele está também inserto o respeito pela propria identidade cultural do homem, pois é nela que ele estabele o alicerce do seu próprio ego, que no fundo, é o seu Reino.
Eis assim, estabelecida a correspondência conceitual entre a proposta filosófica contida na Árvore da Vida e o edifício moral que se veicula nos comandos do Decálogo. Dessa analogia nós podemos tirar importantes ensinamentos morais que enriquecerão o nosso espírito e poderão nos guiar pelos caminhos do aperfeiçoamento pessoal, em vários sentidos, como a própria doutrina da Cabala nos sinaliza, e a prática da boa Maçonaria nos induz.
 
 
[1] Vide a nossa obra Conhecendo a Arte Real, publicada pela Ed. Madras, que se refere ao Inefável Nome de Deus, sob a ótica da Maçonaria.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 27/08/2015
Alterado em 27/08/2015


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