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Os quatro mundos da Cabala
Atziloth, o mundo arquetípico, plano espiritual, matéria sutil, etérea, manifesta em forma de luz, energia. Surgem as leis naturais. Relatividade, Gravidade; Yin, Yang, 1º dia.da criação. Primeiros 30 segundos após o big-bang. Mundo originário. Briah, o Mar Primordial, o mundo criativo, plano material das primeiras formas, Geometria, prótons e nêutron; 2º, dia, atividade criadora dos anjos, primeiros 3 minutos após o big-bang. Mundo celestial e elemental.
Yetzirah, o mundo da formação. Plano material da realidade manifesta, os quatro elementos. 3º e 4º dias da criação. 300 mil a 1 bilhão de anos depois do big-bang. Atividade criadora angélica. Mundo astral e infernal.
Ashiah, o mundo como o conhecemos. O mundo das ações. A totalidade da matéria universal organizada. Surgimento da vida. 15 bilhões de anos depois do big-bang. Atividade criadora humana. 5º e 6º dia. Mundo material.
Conforme pode ser visto no diagrama acima, a criação do universo é figurada como sendo uma árvore (a Árvore da Vida), a qual é dividida em quatro diferentes planos: Atziloth, Briah, Yetzirah e Assiah.
Em Atziloth, o Mundo das Emanações, só existe atividade divina. É a chamada Era de Plank, quando o tempo-espaço não existia e as leis da física ainda eram desconhecidas. Em Briah, o mundo da criação, a energia criadora se converte em Luz. É o momento em que o Grande Arquiteto do Universo esquematiza e organiza a manifestação criativa. Surgem as grandes leis universais, segundo as quais o cosmo se materializa. Essas leis também são quatro: relatividade, gravidade, aceleração e movimento. Na linguagem científica, esse mundo teria se formado nos primeiros 3 minutos após o big-bang. Corresponde, no esquema de Hawking, á formação dos primeiros átomos, e ao surgimento das leis naturais. Em Yetzirah, o mundo da formação, as leis físicas atuam e dão forma e movimento à energia, fazendo surgir os quatro elementos (ar, fogo, água e terra), que são a base de toda matéria universal. Esses elementos são produzidos a partir da transformação da energia (luz), em massa, por ação das leis da relatividade e da gravidade, uma forçando a dispersão da matéria universal no vazio cósmico, outra atuando no sentido de agrupá-los em sistemas. Essa atividade teria ocorrido entre 300 mil e um bilhão de anos de vida do universo, após o big-bang [1] Em Assiah, o mundo da matéria, a interação entre os quatro elementos fazem surgir as diversas formas de matéria física, a qual evolui até desembocar na vida orgânica; e esta, por sua vez, como resultado dessa evolução, dá nascimento a espécie humana, fase final de evolução do edifício cósmico pensado pelo Grande Arquiteto do Universo. A partir daí o mundo passa a ser construído pelos seus “mestres- pedreiros” universais, que são os anjos − no plano arquetípico espiritual − e os seus aprendizes, os homens, no plano material. Na vida do universo isso corresponde, em tempo, a aproximadamente 15 bilhões de anos. Segundo a tradição da Cabala, a estrutura cósmica é dividida em sete esferas de manifestação energética, que são os mundos, Originário, Celestial, Elemental, Astral, Infernal, Inteligível e Temporal. Nós vivemos no mundo Temporal, limitados pelas linhas do espaço e do tempo, que formam a esfera do Inteligível. As demais esferas são espaços de manifestação divina (Originária), angélica (Celestial e Infernal) e espiritual (Elemental e Astral). Essas esferas de manifestação da energia criadora são etapas da construção universal, nas quais essas diferentes entidades interagem, dando origem ao universo real, em suas manifestações físicas e espirituais. Dessa forma, anjos e homens são os construtores do universo, pois uns traçam os planos de construção (os anjos inspiram as ações) e os outros as executam (os homens construindo ou destruíndo).[2] São Tomás de Aquino também usava a alegoria cabalística dos “anjos construtores” do universo para ilustrar seus pensamentos. Em sua obra mais conhecida, “A Cidade de Deus”, ele se refere a Deus como a “primeira causa do universo, aos anjos como “a causa secundária visível” e aos homens a sua “causa final”. Basilides, sábio gnóstico do segundo século, ensinava "que os anjos de categoria inferior são os construtores do universo material e os homens os seus aprendizes”. Todas essas inspirações refletem uma intuição universal de considerar Deus como sendo o Grande Arquiteto do Universo e os anjos e os homens como seus mestres e pedreiros. Essa visão também tem um paralelo na tradição vedanta, onde encontramos, á semelhança da visão cabalística, um processo de criação do universo sendo orientado pela divindade através de meios originários e secundários de Criação que são o desejo (Rig Veda X.129 e X.81); as austeridades (tapas) (Rig Veda X.129 e X.190); a procriação; o sacrifício (Rig Veda X.90, X.81, X.82 e X.130) e a fala (Rig Veda X.125 e X.71). A reconstituição ritual desses cinco princípios de Criação constituem o conteúdo iniciático dos Mistérios de Indra, praticados pelos brâmanes (a classe alta, os eleitos da sociedade hindu) desde épocas imemoriais.
O mundo de Atziloth
Nessa fase da criação Deus age diretamente no universo, gerando a energia que resultará no mundo manifesto. Nessa etapa, chamado mundo da origem, esse é o momento em que a luz é tirada das trevas. É quando o Criador “pensa” o universo material e o concebe como um plano de criação, uma manifestação da sua potência criadora. Por isso, na tradição cabalística esse momento é centrado na séfira Kether, a Coroa da Criação, a Potência que se manifesta em sua forma positiva. Nesse momento Deus é chamado de EHIEH em hebraico, que significa Eu Sou, ou Eu Serei e sua correspondencia simbólica, na Cabala é chamado de Vasto Semblante, ou Macroprosopo. [3] Esse termo designa o Verbo Criador, o Número Um, o Ponto Visível manifestado a partir do invisível. [4] Em termos maçônicos esse seria o momento em que o Grande Arquiteto do Universo concebe os planos de construção do edifício cósmico e manifesta sua vontade de construí-lo. Por isso ele é constituído por uma trindade de séfiras, Kether(a coroa), Hockmah(a sabedoria) e Binah(a compreensão), que equivale, em termos de inspiração especulativa, á ideia presente em todas as crenças que admitem a existência de uma trindade de forças arquetípicas a dar origem e sustentação ao mundo. [5]
O mundo de Briah O mundo em fase de Atziloth já é tão denso que Deus não age mais diretamente sobre ele, pois sua Vontade agora já é cumprida por poderosos Arcanjos, que em termos científicos, são as leis naturais: relatividade, gravidade, termo-dinâmica, etc.. Esta é a fase de formação do universo em que aparecem os seus elementos físicos de base, que os cientistas chamam de fotons, eletróns, neutrinos, quarks e antiquarks, hádrons e léptons, que são partículas de energia extremamente leves, todos com suas correspondentes antipartículas, que, interagindo entre si, formam os constituintes da matéria universal, conhecidos como prótons, neutrôns, mésons e bárions.[6]
Na Cabala essas partículas podem ser associadas ás três primeiras Ordens angélicas criadas por Deus (Chaioth, Auphanin e Aralin).[7]
Na moderna teoria científica, o mundo de Atziloth corresponde á fase descrita por Hawking, correspondentes aos trinta primeiros segundos de formação do mundo, após o Big Bang, [8] Beriah, ou Briah, o Mundo das Criações, corresponde, na Árvore da Vida, ás sefiras Chesed, Geburah e Tiphareth. Nesta fase de formação do mundo, as leis naturais (arcanjos) já estão em plena atividade, dando origem ao chamado Mar Primordial, no qual as primeiras formas geométricas aparecem.
Na linguagem cabalística, esse é o momento em que o Grande Semblante, ou o Macroprosopo cria o seu Semblante Menor, que é o plano cósmico correspondente ao desenho do universo. Essa fase é administrada por três Ordens de Arcanjos, conhecidas pelos nomes de Chashmalins, Serafins e Malakins, que na linguagem científica poderiam ser chamados de prótons e neutrons, partículas mais pesadas, que se unem formando núcleos de hidrogênio, hélio, deutério e lítio, formando, também, os primeiros átomos estáveis.[9] Na visão maçônica do mundo esse é o momento em que o Grande Arquiteto do Universo faz surgir a noção da Geometria, o mundo das formas, onde os planos de construção do universo se tornam delineados e a atuação dos Mestres construtores (arcanjos) tem inicio. Na linguagem bíblica essa fase corresponde ao 2º dia da Criação, quando Deus diz “haja um firmamento no meio das águas(Mar Primordial) e haja separação entre águas e águas.”[10] Na visão de Hawking essa fase corresponde aos primeiros3 minutos de vida do universo, após a grande explosão do Big Bang.[11]
O mundo de Yetzirah
Em Yetzirah, o Mundo da Formação, assim como em Briah, Deus não age diretamente nele, mas sim através de diversos coros angélicos ( as leis naturais) que realizam sua vontade. Esses coros angélicos são chamados de Elhoim, Beni Elhoim e Querubim, cujas esferas de atuação, na Árvore da Vida, correspondem ás sefiras Netzach, Hod e Yesod, também chamdo de microprosopo ou Semblante Menor. Na linguagem bíblica, essa fase corresponde ao terceiro dia da Criação, quando são criados a terra e os mares. É momento em que surgem os quatro elementos formadores da matéria universal, que são a água, a terra, o fogo e o ar. Na moderna física essa fase pode ser associada aos momentos em que se processam a separação da matéria e energia, e a densidade do universo se torna difusa e transparente, aparecendo, como diz a Bíblia, o sol, a lua, e todos os astros do céu. Embora a descrição bíblica dê a antender que o sol e a lua teriam sido feitos depois da terra, essa descrição não deve ser entendida literalmente. Na ótica cabalística, os corpos celestes só puderam ser distinguidos depois que a matéria universal ficou translúcida e se tornou observável aos olhos humanos. Por isso o cronista bíblico supôs que eles teriam sido criados depois da terra e com o objetivo específico de marcar o tempo sobre ela. Esas visão parece ter sido inspirada pelas crenças astrológicas dos sumérios, nos quais os cronistas bíblicos certamente se inspiraram.[12] Na visão de Hawking essa fase corresponde aos primeiros um bilhão e trezentos mil anos de vida do universo, quando as estrelas começaram a sintetizar núcleos mais pesados, dando nascimento ao universo físico tal qual o vemos hoje, e preparando-o para a síntese do produto mais valioso da Criação, que é a vida.
O mundo de Assiah
Asiyah, ou Assiah, é o Mundo das Ações. Nesse mundo, só há uma sephirah, conhecida pelo nome de Malkuth, o reino. Esta é a fase final de construção do universo, correspondente, na linguagem bíblica, ao quinto e sexto dias de criação, quando Deus diz á terra “que produza alma viva segundo a sua espécie─ animal, réptil e aninal selvagem segundo a sua espécie”. E também ao momento em Ele cria o homem segundo a sua imagem e semelhança.[13] Na visão cabalista, essa fase é regida pela Ordem angélica dos Ishins, e na simbologia analógica da Cabala ela corresponde á “esposa do microprosopo”, ou seja, a Humanidade. Na cosmogonia taoísta, ela seria a chamada “Cem Famílias”.[14]
Na linguagem científica, essa etapa pode ser associada ao momento em que os átomos se juntam para formar as moléculas que irão dar nascimento ao fenômeno da vida e ao tempo-espaço futuro que decorre após esse evento.
Como se pode perceber, a visão cabalista encontra um claro paralelo na descrição da criação do universo feita por Stephen Hauking. Em seu trabalhio “O Universo em uma casca de nóz” ele escreve:” “Se a relatividade geral estivesse certa, o universo teria começado com temperatura e densidades infinitas na singularidade do big-bang. Á medida que o universo se expandiu, a temperatura da radição diminuiu. Em cerca de um centésimo de segundo após o big-bang, a temperatura teria sido de 100 bilhões de graus, e o universo tertia contido, na maior parte, fótons, elétrons e neutrinos(partículas extremamente leves\) e suas antipartículas, além de alguns prótons e nêutrons. Nos três minutos seguintes, enquanto o universo resfriava para cerca de um bilhão de graus, prótons e nêutrons, não tendo mais energia suficiente para escapar da atração da força nuclear forte, teriam começado a se combinar para produzir os núcleos do hélio e outros elementos leves. Milhares de anos depois, quando a temperatura caiu para alguns milhares de graus, os elétrons diminuíram de velocidade até os núcleos leves poderem capturá-los para formar os átomos. No entanto, os elementos mais pesados dos quais somos constituídos, como carbono e oxigênio, só se formaram bilhões de anos mais tarde, pela queima de hélio no centro das estrelas”. [15]
Eis assim, na visão cabalística a vida do universo sendo descrita numa visão paralela á da moderna ciência física. Uma formidável intuição humana ou inspiração divina de uma verdade revelada?
[1] Nebulosas, constelações, sistemas planetários, são exemplos da atuação dessas leis na organização do universo. Nos sistemas ambientais formam os biomas, e nos organismos vivos, as estruturas que sustentam a vida.
[2] Daí uma das estruturas simbólicas mais significativas da tradição maçônica ser dada pela construção e reconstrução do Templo de Jerusalém. Esse templo, inspirado e orientado em sua construção pelo próprio Grande Arquiteto do Universo, segundo a Bíblia, é o arquétipo fundamental da construção maçônica. Esse é um edifício que simboliza a construção, a destruição e a reconstrução, ao longo do tempo, do espírito humano.
[3] As referências a Deus como Verbo Criador são mais próprias da literatura gnóstica, mas sua origem parece que vem de Gênesis, quando Deus se apresenta a Moisés no Monte Sinai e quando Moisés lhe pergunta o nome Ele diz simplesmente : Eu Sou.
[4] EHIEH é fórmula cabalística de escrever o nome de Deus na sua primeira manifestação no mundo. Há várias outras, como Jeová, a segunda manifestação, Jeová Elhoin, a terceira manifestação e assim por diante. Ver, no final do capítulo, uma relação desses nomes associados á cada uma das séfiras da Arvore da Vida e a um instante de formação da vida do universo.
[5] No cristianismo á ideia de Pai, Filho e Espirito Santo; na religião egípcia á trindade Osíris, Ísis e Hórus, ´na religião dos Vedas á trindade Brhama, Vixenú e Xiva etc.
[6] Stephen Hawking- O Universo em uma casca de nóz- ARX, São Paulo, 2001
[7] Knor Von Rosenroth-Cabala Revelada, Madras, São Paulo, 2004
[8] Stephen Hawking- Op citado pg. 78
[9] Idem, Stephen Hawking, citado, pg. 78 [10] Gênesis, 1:6
[11] Ibidem, Stephen Hawking, citado, pg. 78 [12]Gênesis, 1:14
[13] Idem, 1:24;26
[14] Tao Té King, Ed. Pensamento, São Paulo, 1968
[15] Ibidem, op citado, pg. 78
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 12/10/2015
Alterado em 13/10/2015
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