João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


Um dos maiores filósofos do século vinte, sem dúvida, foi o padre jesuíta francês, Pierre Teilhard de Chardin. Sua obra, que é ao mesmo tempo científica, teológica e mística, alia a pesquisa científica a um profundo senso de análise critica do papel do homem no desenvolvimento do universo como um todo, oferecendo ao espírito humano um sentido de missão, que amiúde não se encontra em nenhum outro sistema filosófico até hoje desenvolvido.
Teilhard consegue, de forma admirável e cativante, integrar a tese da evolução natural com a ideia de uma intervenção divina nos destinos do universo, e dá um sentido de orientação á experiência humana, com o objetivo de levar o mundo, não á um fim, mas á uma finalidade. Para ele o mundo é pura energia que se massifica, pratica interação entre átomos e moléculas, torna-se matéria e espírito, uma agindo no sentido do imenso, que é o chamado Fora das Coisas, outras no sentido do ínfimo, que ele chama de Dentro das Coisas. Assim, o Espírito de Deus, como a Bíblia chama o princípio que dá origem a todas as coisas, é energia pura que, na sua expansividade, gera o mundo material, e na sua concentração sobre si mesma gera o espirito. Um e outro convergem, cada um na sua direção, para um centro único onde toda essa energia se concentrará, um dia, para um final apoteótico, que não será um fim de tudo, mas o cumprimento de uma finalidade pretendida por Deus. Esse ponto único ele chama de Ponto Ômega.
No desenvolvimento de sua tese Teilhard estuda o desenvolvimento da terra enquanto estofo material para o aparecimento da vida e prossegue, estudando o surgimento e o desenvolvimento da vida no planeta Terra, passando pelas sucessivas espécies, e a síntese final do desenvolvimento genético das espécies vivas, que se deu com o surgimento do homem. Ele vê o ser humano como um fenômeno engendrado pela vida, resultado de uma longa evolução que passa por várias espécies, até desembocar na classe dos mamíferos, e destes, um ramo que se destaca entre os mamíferos primatas, até dar como resultado os hominídios primitivos, ancestrais do homem moderno. Tudo isso, pensa Teilhard, ocorre por força das próprias condições ambientais que a terra oferece, em suas eras geológicas, e na disposição de seus elementos químicos, que permitem o aparecimento de algumas espécies e provoca o desaparecimento de outras.
Suas teses, como é óbvio, provocaram a ira do Vaticano, pois contrariam frontalmente a crença defendida pelo Catolicismo Romano, que ainda defende a tese do criacionismo, ou seja, que a humanidade nasceu já pronta, como diz a Bíblia, de um casal único, feito á imagem e semelhança de Deus. Em consequência, as obras de Teilhard de Chardin foram proibidas de publicação pelas editoras católicas oficiais e só se tornaram conhecidas em virtude da divulgação feita por entidades desvinculadas do Vaticano. Somente depois que esses trabalhos se tornaram conhecidos e admirados nos meios intelectuais, a Igreja, não podendo mais censurá-los, concordou com a sua liberação.
 
Uma das mais originais concepções da filosofia teilhardiana é a ideia de que a aquisição da capacidade reflexiva pelo ser humano, ou seja, o dom do ser humano de emitir pensamentos, criou uma nova camada elemental sobre a terra. Á semelhança dos demais envoltórios que circundam a terra, quais sejam, a litosfera (crosta terrestre), hidrosfera (água), biosfera (vida), atomosfera (ar), outra camada, que ele chama de noosfera, passou a envolver a terra depois que o homem começou a pensar. E esse envoltório, a chamada camada do pensamento (que pode ser considerada camada do espirito) tende a mudar toda a tendência evolutiva do planeta, que antes desse fenômeno, seguia o determinismo das leis naturais.
Talvez, sem querer, e mesmo sem atinar com os resultados da sua especulação, Teilhard, que morreu em 1955, estivesse antecipando as consequências do famoso teorema desenvolvido por Edward Lorenz, conhecido como Teoria do Caos. Esse teorema mostra que fenômenos aparentemente simples podem provocar um comportamento tão caótico na natureza quanto um acidente banal na vida das pessoas. Ou seja, um acontecimento tão simples em nossa vida, que nos obriga a mudar uma decisão, pode mudar toda a conformação do universo. (Por exemplo, um acidente de trânsito faz um indivíduo se atrasar a um encontro com a namorada. Esta por conta disso, se aborrece e termina o relacionamento. Em consequência a família e todos os demais relacionamentos e experiências que ele teria com ela deixam de existir e ele viverá uma vida conpletamente diferente.  Ele vai conhecer outras pessoas, fazer outras coisas, morar em lugar diferente do que pretendia, etc.  Tudo mudou na sua vida, e na vida de outras pessoas por causa de um simples acidente de trânsito.)
Por isso é que James Gluk, ao analisar a Teoria do Caos, disse que uma borboleta batendo asas no Brasil pode provocar um tornado no Texas vários anos depois.
 
Voltando ás especulações de Teilhard de Chardin, ele disse que o pensamento humano aureola a terra, criando uma camada atmosférica que ele chama de Noosfera. Essa camada, por se tratar de “energia suspensa” pode influenciar o comportamento da natureza. Penso, por exemplo, na lama que desceu de Minas e está empesteando um pedaço importante do Brasil. Será que, na Noosfera de pensamentos tão contaminados de mentiras, desmandos, cinismo e escárnio, que os políticos brasileiros estão lançando nos ares da atmosfera nacional, essa reação da natureza não é uma resposta á essa podridão dos espíritos que está acontecendo no nosso meio político? A atmosfera espiritual comprometida com tanta podridão não estará sendo refletida na demais estruturas da natureza provocando essas catástrofes?
Assim no céu como na terra e o está dentro é igual ao que está fora, assim como o que há cima é igual ao que está em baixo. Esse é um vellho preito hermético, mas e até agora nenhum cientista provou o contrário.

O mar de lama que rola das montanhas de Minas não será o “efeito borboleta” do mar de lama que rola nas mentes dos políticos em Brasília?
Teilhard era um otimista. Ele achava que a humanidade, por mais que sofresse, por mais que catástrofes a atingisse, por mais que se desviasse da sua missão essencial, ela sobreviveria, porque a semente da vida, plantada na terra pela graça de Deus, cumpre um propósito. Nesse sentido, as crises seriam necessárias por que elas ensejam a superação. E de crise em crise a humanidade avança. O que resulta do caos é sempre uma nova forma de organização. Mais avançada, mais centrada, mais orgânica, mais eficiente.  Nesse sentido, tudo aquilo que parece ser um mal cumpre o seu papel na evolução. Inclusive a dor, o sofrimento e a morte.
Talvez ele tenha razão. O sofrimento purga, modifica, exige mudança de comportamento que enseja uma superação. Assim funciona a seleção natural. Os mais fortes, os que superam o sofrimento das mudanças, são aqueles que sobrevivem. Vencem todos os obstáculos para se adaptar ao que o novo ambiente exige deles.
O único problema é o preço que estamos pagando por essa evolução. Vai ser preciso argumentos muito bons para justificar o fato de estarmos vivendo numa era em que a decência, a ética e a honestidade andam tão ausentes da camada que forma o espírito da terra. Pelo menos no Brasil. A evolução bem que poderia passar sem essa gente que está contaminando a atmosfera terrestre com a pestilência dos seus atos e pensamentos.
 
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 30/11/2015
Alterado em 02/12/2015


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