João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


A DEMOCRACIA DOS PETISTAS

Ludwig Witgeisntein, (1889-1950), filósofo austríaco que estudou o fenômeno da linguagem, associando-a á teoria da Gestalt, tinha razão. Podemos estar pensando nas mesmas coisas, mas quando falamos sobre elas nem sempre expressamos o mesmo significado que as coisas têm. Ele dava o exemplo de dois sujeitos, cada um com uma caixa de sapatos fechada, contendo dentro delas, um besouro. Se pedirmos a cada um dos sujeitos que descreva o inseto que está lá dentro é bem possível que um deles, ou ambos, acabem descrevendo um inseto que pode ser tudo, menos um besouro.
Isso ocorre porque nós não temos linguagem suficiente para descrever as realidades que o mundo nos apresenta. Alfred Korzibsky (1879-1950) filósofo e engenheiro polonês, descreveu muito bem esse fenômeno ao expressar o seu mais famoso pressuposto: “o mapa não é o território” escreveu ele, com isso querendo dizer que o que pensamos e falamos nem sempre reflete o total da informação que nós queremos expressar.
Isso fica patente no atual conflito que envolve a política brasileira. Principalmente quando as paixões, sejam ela românticas, políticas, clubísticas, religiosas ou de qualquer outro tipo, o “mapa” que nós fazemos do território fica tão reduzido que nele não dá nem para por o pé.
É o caso da palavra democracia, cujo conceito cobre um enorme território dentro da extensão semântica que um signo linguístico como esse pode ter. Se formos pesquisar a origem desse termo vamos ver que suas raízes têm a ver com povo (demo) e cracia (governo) podendo ser traduzido como governo do povo, para o povo, pelo povo. Nesse sentido, um ditador pode ter sido eleito em eleições livres e enquanto ele estiver agradando o povo ele estará governando para o povo e em nome dele. Nesse sentido, o conceito de democracia estará sendo atendido plenamente.
É lógico que muita gente vai discordar e dizer que uma ditadura nunca poderá ser considerada democrática, e também terá razão. Korzibsky diz que isso acontece porque certas palavras expressam conceitos que não podem ser resumidos em um único signo linguístico. São palavras processuais, que envolvem um processo inteiro de pensamento, o qual, se for perseguido, item por item, dentro do nosso cérebro, precisará de um livro de muitas páginas para ser descrito.
Democracia é uma palavra processual. Quando pensamos no que ela significa o nosso cérebro vai ter que fazer uma enorme viagem dentro da nossa mente para emergir com um conceito. E ele sempre vai depender da ideia que cada um tem desse conceito.
Os petistas, pelo visto, tem ideias bem diferentes dela do restante do povo brasileiro. Para eles, democracia é o respeito por um processo espúrio e viciado de eleição, que agora está mais que provado, foi comprada á custa de propina e vendida ao povo por uma propaganda bem urdida e mentirosa. Pelo menos é essa a democracia que eles estão defendendo: a Dilma foi eleita em eleição livre e direta, por isso tirá-la antes do tempo é golpe. Isso quer dizer: o besouro deles tem aspecto muito diferente do besouro que o povo brasileiro tem na cabeça..

Claro. Pouco importa que setenta por cento do povo brasileiro esteja torcendo para ela cair. Pouco importa que a presença dela no governo vá sujeitar o povo brasileiro a mais dois anos e meio de desemprego, desinvestimento, queda do PIB, degradação política e social, que pode levar a um conflito de consequências imprevisíveis. Importa defender o “mapa” que eles fazem do território “democracia” e  não o que realmente o termo “democracia” (governo do povo, para o povo e pelo povo) significa. O sofrimento que eles estão impondo ao país é irrelevante perante o conceito de “legalismo” do processo que eles têm na cabeça.
Os limites do mundo são os limites da nossa linguagem, disse Witgeinsten. Com isso ele queria dizer que quanto maior é o arsenal linguístico que nós temos para "explicar", dentro da nossa mente, os nossos sentimentos e pensamentos, maior é o mundo para nós. E quanto menor for esse arsenal, mais reduzido fica o tamanho do nosso mundo. Ao ouvir os diálogos dos líderes petistas, gravados (legal ou ilegalmente) pela Polícia Federal, começamos a compreender porque o mundinho que eles têm na cabeça é tão limitado. E porque o conceito de democracia deles não ultrapassa a órbita dos seus próprios umbigos.

 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 23/03/2016
Alterado em 23/03/2016


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