João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


CHEIRO DE 1964
 
 
Na seção de ontem no Senado os senadores Ronaldo Caiado e Lindbergh Farias quase foram ás vias de fato. Lindbergh chamou Caiado de mentiroso porque o senador goiano disse que a Dilma e os petistas estavam queimando arquivos e fazendo uma série de atos com finalidade de prejudicar o governo de Temer, já que eles já sabem que perderam. Caiado reagiu e pediu para o senador carioca dizer que ele era mentiroso fora do plenário do Senado. Convite para a briga melhor que esse não há.
Os “deixa-disso” acalmaram os ânimos, mas o fato mostra bem o que a cena política brasileira apresenta no momento. Falta de quadros, falta de líderes, falta de caráter, falta de compostura, falta de tudo que um país precisa em termos de pessoas capazes de guiar uma nação na hora que ela mais precisa.
Ronaldo Caiado é um médico que enriqueceu plantando soja no cerrado. Ficou famoso nas eleições de 1989, quando confrontou Lula em vários debates, ele representando a direita e Lula a esquerda. Aliás, eram os dois únicos candidatos com ideologias perfeitamente definidas naquele pleito, embora Collor de Mello fosse o preferido pelas forças da direita e, patrocinado pela Globo, tivesse ganho a eleição. Deu no que deu. Já Lindbergh Farias fez carreira como representante das esquerdas, começando por liderar a juventude “cara-pintada” no movimento que resultou no impeachement de Collor. Ele era líder estudantil na época e aproveitou o embalo. Com a fama que ganhou foi eleito deputado e agora é senador.
Se Caiado é um velho reacionário da direita, Lindbergh é um “coxinha” que se agasalhou na esquerda porque esta lhe dava votos. Nenhum deles representa o verdadeiro Brasil que trabalha, luta, se esforça para produzir e criar um país pelo qual a gente queira bater no peito e dizer “eu sou brasileiro, com muito orgulho e muito amor”, como fazem as torcidas nos campos de futebol quando a seleção joga bem. Aliás, até esse orgulho já nos tiraram. A seleção, hoje, é mais motivo de vergonha e chacota do que de orgulho e alegria.
Ronaldo Caiado é um típico representante dos grandes fazendeiros, que como os antigos pecuaristas do Velho Oeste Americano, expulsavam á bala os pequenos sitiantes que ousavam cercar um pedacinho de terra para ganhar o sustento para suas famílias. Defende uma politica ultra liberal, onde o Estado tenha uma participação mínima, e no qual vença a lei do mais forte. Já Lindbergh, no polo oposto do conflito ideológico que estamos vivendo hoje, quer um Estado interventor, que meta o nariz em tudo, provenha tudo e seja o tutor de todas as relações que nele existem. Coisa de gente acomodada que só pensa em se sentar na mesa sem sequer ajudar na cozinha, como fazem os sindicalistas e os líderes dos movimentos sociais.
Eis para onde os acontecimentos estão nos levando. O país está sentado em uma gangorra ideológica cujo peso, neste momento, parece estar pendendo para a direita. Até agora esteve para a esquerda. O lulo-petismo quebrou o país tentando botar mais gente na mesa sem se preocupar em aumentar a quantidade de comida. Caiado e seus seguidores fariam o contrário. Botariam um número mínimo de cadeiras na mesa para convivas selecionados e o resto comeria das sobras que caíssem do banquete.    
É preciso que as cabeças de bom senso deste país tomem juízo e esfriem o suficiente para lembrar que o equilíbrio está no meio e não nas pontas. Mas a julgar pelo circo que vimos na Câmara dos Deputados e pelas vergonhosas cenas que estão se desenrolando no Senado, parece utopia esperar que isso aconteça.
Quem tem mais de setenta, como eu, já sabe como isso termina. Há um cheiro de 1964 no ar. Tomara que esse caldo evapore antes de derramar-se pelas ruas.
  
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 03/05/2016
Alterado em 03/05/2016


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