João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


PRISÃO DE VENTRE
 
Chegou a vez de Sarney, Renan e Jucá. Três velhos coronéis do Norte e Nordeste que se valem do voto de cabresto para manter uma longa carreira de politicagem da mais baixa e predadora espécie.
Esses três indivíduos tem uma ficha de acusações mais longa que a dos chefões do tráfico no Rio ou São Paulo.  O pedido de prisão feito contra os três já vem tarde. Não tem razão o Ministro Gilmar Mendes, que vocifera contra o vazamento do pedido do Procurador Janot, como se com isso o Ministério Público estivesse fazendo pressão contra o Supremo.
Pois é pressão mesmo. Não do MP, mas da nação brasileira. Afinal, esse colegiado de juízes, que devia cuidar dos interesses nacionais pois é para isso que eles estão lá, recebendo polpudos salários e demais benefícios─ tem sido uma verdadeira  “prisão de ventre” do sistema jurídico nacional. Os processos ali só entram, mas não saem. Basta lembrar que Renan Calheiros está sendo julgado lá, faz já uns nove anos, por ter apresentado documentos falsos da venda de uma boiada inexistente, para comprovar despesas feitas com uma filha que teve fora do casamento. Até hoje o Supremo não se dignou a julgar esse processo. Só na gaveta do Lewandowky ele ficou quase dois anos. E na gaveta do Teori ele já fez aniversário. 
O irascível ministro Gilmar Mendes, que é um tucano de quatro costados, com certeza não estaria sendo tão ácido se o pedido fosse contra políticos do PT. Aliás, ele não foi quando se tratou do Delcídio, nem em relação aos réus do Mensalão. E não podemos nos esquecer que ele bloqueou até o último instante os pedidos para investigar o Aécio Neves. Só autorizou depois que viu que não dava para segurar mais, sob pena de ser acusado de parcialidade.
É bom que ele dispare seus canhões contra o PT. Afinal, esse bando de criminosos que tomou de assalto os cofres públicos precisa mesmo de punição exemplar. Mas não fica bem um juiz do Supremo ficar defendendo publicamente a procrastinação do Tribunal em relação ao julgamento de políticos, com a pífia desculpa de que o Supremo não pode ser pressionado.
Gilmar Mendes faria melhor se vociferasse contra essa odiosa excrecência criada pelos políticos para protegerem a si próprios, que é chamada de “ foro privilegiado”. Quando essa carapaça protetora da iniquidade foi criada, ela até se justificava. O país estava saindo de um regime de excessão, onde a prisão por motivos políticos e delitos de opinião era comum. Mas com o fortalecimento da democracia no país esse odioso privilégio não tem mais sentido. Já devia ter sido abolido há muito tempo, pois na verdade, ele é francamente antidemocrático. Só tem servido para garantir impunidade para os salteadores dos cofres públicos, que acabam morrendo de velhice antes de serem julgados pelo Supremo.
Políticos, mais do que qualquer cidadão do país, devem ter suas vidas públicas conhecidas pelos seus eleitores.  Não há justificativa moral para manter “processos ocultos” sobre as falcatruas cometidas por esses patifes. Se forem inocentes, que se estabeleça logo a sua inocência, pois enquanto permanecerem sobre suspeita, a sombra da iniquidade penderá sobre eles. Se forem culpados que sejam punidos e banidos da vida pública. Só assim será feita uma profilaxia nesse verdadeiro leprosário moral que se tornou o Congresso Nacional.
Quanto á Sarney, Renan, Jucá e outros políticos que já foram denunciados pelo Ministério Público e aguardam que os juízes do Supremo tomem um purgante para curar a prisão de ventre que eles sofrem, a suspeição sobre eles já vem de longa data. Seria bom se, antes de morrerem de velhice, a nação brasileira pudesse saber se eles são, realmente, culpados ou inocentes.
 
                                                                                                               
 
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 07/06/2016


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras