João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


A s cenas protagonizadas pelos defensores do deputado Eduardo Cunha ontem na Comissão de Ética da Câmara mostram bem o nível dos políticos que nós estamos mandando para o Congresso para nos representar. É bandidagem pura. Mesmo com o volume de provas arregimentado contra o escroque do Cunha ainda há um grupo de deputados que se propõe a defendê-lo, desafiando o senso comum, escarnecendo da opinião pública e sujeitando-se ao natural desgaste e á pecha de quadrilheiros que já pesa sobre eles.
E eles são, na maioria, da chamada bancada evangélica. Que tipo de evangelho eles seguem só o diabo sabe. Ou o Cunha, cuja intimidade com o capeta parece ser tão grande que ele desafia o Judiciário, o Legislativo e o Executivo, como se estivesse fora do alcance de qualquer  castigo. Essa gente, se um dia teve um pingo de vergonha na cara, há muito que deve tê-la perdido. Aliás eles devem ter perdido as primeiras gotas quando subiram no púlpito para invocar o nome de Jesus e tomar o dinheiro dos incautos que frequentam essas verdadeiras arapucas chamadas de igrejas evangélicas. O resto perderam quando foram eleitos.
Não estamos falando aqui das igrejas verdadeiras, como a Batista, a Presbiteriana, a Luterana e outras que fazem trabalho sério de evangelização. Estamos falando das tais universais e derivadas, que são verdadeiras indústrias da fé, vendedoras de falsos milagres, usinas de estelionato e corrupção. São farsantes como o tal Marcelo Crivela, o Gim Argello  e que tais, que compõem o grupo da bancada evangélica que está apoiando Cunha e provavelmente vai dar esse tapa na cara dos brasileiros, salvando esse meliante da cassação.

É urgente uma revisão constitucional que acabe com esses dois privilégios odiosos que a Carta Magna prodigaliza a esses farsantes. Uma é o chamado “foro privilegiado”, mecanismo protetor de bandidos travestidos de políticos, que assaltam os cofres públicos, mas como dependem do Supremo Tribunal Federal para serem processados e julgados, muitas vezes,  quando isso acontece, os crimes já estão prescritos. Só ultimamente temos visto alguns deles na cadeia, mas para chegar a isso já se passaram décadas. A outra excrecência é a chamada imunidade tributária concedida aos “templos de qualquer culto”, que permite a qualquer vigarista abrir uma igreja na sua garagem e arrebanhar um bando de incautos desesperados por uma palavra de consolo, e tomar o dinheiro deles. O país está cheio desses falsos “templos”, com seus falsos “pastores” enchendo as burras, sem pagar um único centavo de imposto, porque a Constituição lhes confere o benefício da imunidade tributária por conta da liberdade de culto existente no nosso Estado laico.
Democracia não é isso que nós estamos praticando. Democracia pressupõe isonomia e garantia constitucionais para todos os cidadãos, em iguais condições, e não privilégios para classes que por si sós, já estão cumuladas deles. Trabalhador tem seu Imposto de Renda descontado na fonte. Nem que quisesse conseguiria fugir desse pagamento. E se cometer algum delito é julgado em primeira instância pelo juiz da sua comarca. Só com muito dinheiro para contratar bons advogados consegue escapar da punição. Agora malandros estelionatários que vendem ilusões para um público desesperado e mal informado, e políticos vigaristas que assaltam os cofres públicos, são aquinhoados com imunidades tributárias e foro privilegiado de julgamento. Se isso é democracia então é preciso avisar o Aurélio, lá no céu, para mandar fazer uma correção no dicionário. E avisar os gregos que esse negócio que eles inventaram, de governo do povo, pelo povo e para o povo, na verdade, é mais uma farsa cruel, criada por quem pode para ser obedecida por quem tem juízo (ou medo).

 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 08/06/2016
Alterado em 08/06/2016


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