THE ANSWER, MY FRIEND ( O NOBEL DE BOB DYLAN)
How many roads must a man walk down,(quantos caminhos deve um homem percorrer)
Before you can call him a man? (antes de ser chamado homem?)
How many seas must a white dove sail,(quantos mares deve uma gaivota cruzar)
Before she sleeps in the sand? (antes de pousar na areia?)
Yes, and how many times must a cannonballs fly,(quantas vezes as balas dos canhões vão voar)
Before they're forever banned? (antes de serem proibidas?
The answer, my friend, is blowin' in the wind (a resposta, meu amigo, o vento está soprando)
The answer is blowin' in the Wind (a resposta, o vento está soprando)
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O ano era 1964, quando ouvi pela primeira vez essa canção, cantada por um cantor de voz rouca e pausada, como se estivesse mais falando do que cantando. Eu não entendia bulhufas de inglês, mas logo intui que ele estava fazendo uma crítica social. Ainda não era moda as canções de protesto, que se tornaram corriqueiras e normais no fim daquela década e nos anos setenta, mas aqui no Brasil, que estava começando a viver os primeiros anos da ditadura militar, ela logo repercutiu.
A canção perguntava quantos caminhos o homem dever percorrer antes de ser chamado homem. Eu não tinha a menor ideia, mas justo naquele momento, eu, um garoto de dezoito anos estava sendo espancado por alguns policiais da antiga Força Pública, por estar participando de uma greve liderada pelo nosso sindicato dos metalúrgicos.
Mas essa é outra história. O fato é que o Bob Dylan, com a sua canção emblemática, além de perguntar quanto mares uma gaivota deve cruzar antes de pousar na areia, também perguntava quantas vezes mais as balas dos canhões tinham que voar antes de serem banidas para sempre. E ele mesmo respondia: the answer, my friend, is blowin’ in the wind. A resposta o vento está soprando.
É. Certas coisas só vento sabe a resposta. E como todas as respostas o vento leva, nós vivemos esquecendo tudo e repetindo sempre os mesmos erros.
Bob Dylan, em uma entrevista, disse que jamais pensou em ser bandeira de coisa alguma. Que compunha suas canções sem qualquer compromisso com alguma causa. Se alguém fez dele o líder de uma revolução de costumes, como foi aquela que aconteceu com a chamada geração beatinik, ele não teve nada com isso. Isso sempre me soou como hipocrisia. Afinal, Bob Dylan, cujo nome de batismo é Robert Allen Zimmerman, adotou o pseudônimo Dylan exatamente para homenagear outro ídolo da geração beatinik, o poeta existencialista Dylan Thomas.
Como Einsten disse certa vez, ninguém sobe ás alturas senão sobre os ombros de alguém, e Bob Dylan teve os seus inspiradores, assim como também inspirou vários outros artistas. Lembro-me especialmente de Joan Baez, que foi sua namorada e o acompanhou em muitas de suas loucuras, e de poetas como Jack Kerouac e Allen Ginsberg, que junto com ele incendiaram as mentes dos jovens daquela geração. Aqui no Brasil tivemos principalmente a geração dos festivais, de onde saíram Chico Buarque, Caetano Velloso, Gilberto Gil e principalmente o icônico Geraldo Vandré, saudoso poeta vivo da nosso cancioneiro popular. Todos fizeram canções de protesto, mas eles tinham muito mais porquês do que o Bob Dylan.
Dylan sempre desdenhou da mídia e renegou o engajamento da sua obra em um contexto político-sociológico. Mas nunca conseguiu escapar de ser considerado um artista engajado. E agora, praticamente no fim da carreira é agraciado com o maior de todos os prêmios que um artista engajado pode receber: o prêmio Nobel de literatura. Se é merecedor eu não sei, pois não tenho competência para julgar, mas lembro que Jean Paul Sartre e Bóris Pasternak (autor do clássico Doutor Jivago) simplesmente recusaram o prêmio, por causa do próprio engajamento político doutrinário de suas obras. Pode ser coincidência, mas ambos flertaram com o nihilismo e o existencialismo, como Dylan também parece flertar em suas colocações. (Vide a frase que ilustra este artigo).
Mas como disse Belchior em sua mais famosa canção, no fim todos só queremos viver como nossos pais. E Dylan, o herói e tambor de uma revolução que abalou os alicerces de uma geração, também vai acabar em “casa, guardado por Deus, contando o vil metal” como diz a canção. Até porque, como ele mesmo diz, a resposta para todas as perguntas estão blowin’ in the wind. E como o vento sempre as sopra para longe de nós, nunca saberemos o que está certo e errado no mundo. De qualquer modo Dylan sempre foi um dos meus cantores favoritos. Ele, John Lennon e o Vandré.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 17/10/2016
Alterado em 29/12/2016