Certa vez um professor foi convidado para dar uma série de aulas sobre um determinado assunto em uma escola famosa pela ignorância e indisciplina dos seus alunos. Na primeira palestra o auditório estava cheio e ele ficou muito satisfeito com o tamanho da platéia. Todavia, na segunda palestra, a platéia havia diminuído pela metade, e na terceira já se resumia a uns poucos gatos pingados. Na quarta, somente um aluno compareceu.
O professor notara que esse aluno estivera presente em todas as palestras anteriores.
“Muito obrigado pela sua presença”, disse o professor. “Notei que você compareceu em todas as minhas aulas. Percebo que você tem interesse nos assuntos sobre os quais eu lecionei. Infelizmente vou ter que parar com as minhas aulas, pois não posso lecionar para um aluno só”, disse o professor.
“Se o problema é assistência”, disse o aluno, “o senhor pode continuar com suas aulas. Amanhã eu lhe trarei uma grande platéia.”
“Se você promete, tudo bem”, disse o professor. “Amanhã estarei aqui de novo.”
No dia seguinte o professor compareceu ao auditório, mas lá só encontrou novamente o mesmo aluno.
“Onde está a assistência que me prometeu?” perguntou o professor.
“Está nas cadeiras”, respondeu o aluno.
O professor olhou para o auditório e percebeu que ele estava lotado com pequenos tocos de madeira, que o aluno espalhara por todas as cadeiras.
“Que brincadeira é essa? perguntou o professor. “Você quer que eu dê aulas para pedaços de pau?”
“Não é isso que o senhor têm feito até agora, professor?”, respondeu o aluno.
Então ele entendeu. Depois desse dia deixou de se preocupar com o continente e passou se ocupar com o conteúdo. E quando entrava na sala de aula imaginava-se falando para verdadeiros alunos e não para uma platéia.
“Ainda que seja apenas um”, dizia para si mesmo.
É que naquela noite o professor ganhara um discípulo. Desde então ele nunca mais se preocupou com a quantidade dos seus ouvintes, mas falava, com toda sua alma, para aqueles que realmente queriam escutá-lo. E era para estes que ele dirigia o seu discurso.
Lembrou-se do que Deus dissera acerca de Sodoma e Gomorra: “Se lá se encontrar ao menos um, pouparei a cidade inteira”. Ele pensava: “Eu fui mais feliz que Deus, pois encontrei ao menos um. Deus não achou nenhum e por isso teve que destruir a cidade inteira.”
Só então o professor compreendeu qual era a sua missão. Descobriu que a natureza não realiza o seu trabalho de preservação e evolução da vida pelo todo. Que o sol e a chuva derramam seus dons para a floresta toda, mas somente algumas sementes frutificam e transmitem a herança da vida.
O verdadeiro mestre não tem alunos. Faz discípulos.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 03/11/2016