João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


NEM CÉSAR, NEM CÍCERO

 
Apesar do caminhão de melancias que caiu em cima da cabeça deles essa quadrilha que se instalou na Câmara de Deputados, em Brasília, não se emenda mesmo. Essa de votar uma lei na calada da noite para estancar a sangria que a Lava a Jato está provocando entre eles é o fim da picada.Mostra bem o que eles são. Se não tivessem culpa no cartório não teriam apelado para solução tão descabida.

Claro que é preciso botar freios no abuso de poder que juízes, procuradores, delegados de policia, fiscais, policiais e outros donos de carimbo e canetas, muitas vezes, cometem. Afinal de contas, não falta, entre esses zelosos funcionários públicos, quem adora um holofote e um microfone, e por conta disso não se importa em destruir carreiras, patrimônios e reputações, por conta de alguns minutos de fama. Mas isso o próprio sistema pode corrigir, sem necessitar de uma lei para intimidar os ditos funcionários e tolher a sua ação no exercício dos seus cargos. Para isso basta criar boas e competentes corregedorias e preencher seus cargos com pessoas honestas, criteriosas e infensas ao vírus do corporativismo, que é o que quase sempre torna inútil o trabalho de profilaxia que elas deveriam realizar.
Talvez o juiz Moro esteja gostando dos holofotes que a Operação Lava-Jato está jogando sobre ele. E os membros do Ministério Público Federal, que compõem a Força-Tarefa da Lava à Jato também. Mas isso não justifica a manobra sórdida e sub-reptícia que os deputados realizaram na madrugada de terça-feira passada, aprovando um projeto de lei, cuja única razão é intimidar os procuradores e juízes que estão no rastro deles. E ainda pior o que Renan Calheiros quis fazer, tentando aprovar , em regime de urgência, no Senado, essa manobra infeliz. Para ele, pelo menos, o castigo veio de avião. Logo no dia seguinte virou réu no Supremo Tribunal Federal por ter usado dinheiro público para pagar pensão para a amante e para o filho que teve fora do casamento. Esse processo ficou mais de cinco anos na gaveta do Ministro Lewandowisky. E depois o Ministro Dias Toffoli trancou, com pedido de vistas, o julgamento da ação que tiraria Renan Calheiros imediatamente da presidência do Senado.  Isso também é abuso de poder. Em favor dos amigos
Cada dia os nossos (in)dignos parlamentares se superam nas suas próprias iniqüidades. Acho que foi Cícero, o grande orador dos tempos de Júlio César, que ao acusá-lo de querer implantar uma ditadura em Roma, disse que preferia um pouco de corrupção republicana com liberdade á uma ditadura honesta sem nenhuma liberdade. Eu também. Mas não vamos exagerar. Nem a corrupção desenfreada dos nossos políticos, nem a ditadura do judiciário. Até porque, no meio dessa briga, estamos nós, pobres mortais.
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 02/12/2016
Alterado em 03/12/2016


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