João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


O PAÍS DO REALISMO FANTÁSTICO

 
Temer diz que as denúncias que o Procurador Geral da República apresentou contra ele e seus asseclas são puro realismo fantástico. Pode ser.  Ele só não diz o que entende por realismo fantástico. Esse termo foi cunhado pelos escritores franceses Louis Pawels e Jacques Bergier, para designar uma escola literária que trata de temas estranhos á realidade cotidiana, que muitas vezes a nossa vã sabedoria não consegue classificar, e por isso acaba classificando como sobrenaturais. Mas, se a nossa mente não consegue explicar certos fenômenos, isso não quer dizer que se tratem de meras fantasias, ou visões urdidas por uma imaginação por demais comprometida com uma finalidade obsessiva, como querem Temer e seus defensores, ao se referir á insistência do Dr.Janot em oferecer denúncias contra o presidente e seus principais auxiliares.
Na verdade, o fantástico, como o define os referidos autores, não é uma violação das leis naturais, mas sim uma manifestação delas, que chega aos nossos sentidos sem o filtro das interpretações e das conformidades que lhe são dadas pelos nossos modelos culturais. Quer dizer, aquilo que os nossos sentidos registram nem sempre é a verdade que a nossa mente aceita, pois esta é informada pelos modelos lingüísticos que nós adotamos e a linguagem, como sabemos, muitas vezes não tem signos suficientes para comunicar aquilo que vemos, ouvimos ou sentimos.
Com certeza o que está acontecendo no Brasil hoje caberia bem em uma novela do realismo fantástico, digna de um Gabriel Garcia Marques, um Théophile Gautier ou Gérard de Nerval. Pois em nenhum lugar do mundo se viu uma conspiração tão bem urdida entre autoridades para saquear os cofres públicos e depois tentar justificar tudo com um discurso neurolinguístico semelhante ao que George Orwel, em seu estressante romance “1984”, imaginou para descrever o sinistro regime implantado pelo Big Brother.
Temer e seus asseclas do Executivo e do Congresso estão criando uma “novilingua”, á semelhança das autoridades do país do Big Brother. Uma língua na qual só é verdade o que eles falam e não o que as pessoas vêem, escutam e sentem.
E eles não estão fora de contexto, como muita gente pode pensar. A rigor, as melhores novelas políticas podem ser classificadas como realismo fantástico. Quem leu “1984”, “A Revolução dos Bichos”,ambas de George Orwel, “ O Processo” de Franz Kafka, “O arquipélago Gulak” de Alexander Soujenitsin, “Cem Anos de Solidão” de Garcia Marques, não vai achar tão esquisito e fora de propósito o que está acontecendo no Brasil de hoje.
A política, no fim das contas, tem muito de realismo fantástico. Ou não será uma coisa quase sobrenatural a aventura nazista, orquestrada por Adolf Hitler, ou a arquitetura sabidamente maçônica que está nos alicerces da nação mais poderosa do mundo, os Estados Unidos da América? Isso para não falar da mística tradição legada ao mundo por Israel, que ainda hoje conforma uma boa parte da nossa vida.
Temer e seus asseclas tem razão. Janot e o restante do povo brasileiro estão imaginando coisas. Nada do que estamos vendo é verdadeiro. É tudo uma ilusão dos nossos sentidos, tão castigados pela dura realidade cotidiana. O único problema é que nós temos que conviver com ela. É ela que a gente come, bebe, veste e cospe.
 

 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 17/09/2017


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