Os russos comemoraram neste dia sete de novembro os cem anos da revolução comunista. Um dos eventos históricos mais importantes do século vinte. A revolução bolchevista foi a concretização da esperança de milhões de pessoas no mundo todo, ou seja, de que afinal, o homem estava conseguindo realizar a utopia idealizada por Platão. Utopia que foi experimentada em Esparta, tentada pelos essênios e pelos primeiros cristãos e longamente sonhada por uma plêiade de intelectuais desde que a chamada Renascença começou a abrir o espirito ocidental para os tempos modernos.
O ideal comunista sempre foi uma espécie de arquétipo sedutor, que anima os espíritos românticos que anseiam pelo fim das mazelas sociais. Comunistas são pessoas que odeiam a competição, condenam todo tipo de discriminação social e pugnam por um estado que seja capaz de realizar aquilo que a natureza nunca conseguiu fazer, que é criar e garantir um padrão de igualdade entre as pessoas, pelo menos no que se refere às questões econômicas. Sonho romantico e utópico, que jamais será realizado pelo homem, animal competitivo e egoísta, que foi construído pela natureza para buscar sempre a superação e nunca a composição.
Não é estranho que o principal teórico do comunismo, Karl Marx, tenha encontrado na classe trabalhadora da época o principal mercado para suas ideias. E que essas idéias tenham triunfado exatamente na Rússia tzarista, o último país da Europa, que em pleno século vinte, ainda mantinha uma economia praticamente feudal, estruturada no trabalho servil de milhões de mujiques, espalhados em milhares de fazendas controladas por nobres ociosos e desinteressados por qualquer mudança social.
A ditadura do proletariado, implantada pelos seguidores de Marx durou pouco mais de setenta anos e imolou nos altares da pátria mais de doze milhões de vidas (sem contar os mais de vinte milhões que morreram na segunda guerra mundial). Só a ditadura de Stalin matou cerca de dez milhões de opositores. Embora o regime soviético tenha conseguido muitos avanços , como a erradicação do analfabetismo, a construção de uma indústria bélica de primeira linha, uma ciência atômica de vanguarda e uma indústria de base poderosa, ela não conseguiu fazer do gigantesco império que a Rússia dominou, uma potência econômica de primeira linha. Nem elevou o padrão de vida dos povos que dominou ao nível dos habitantes das democracias do Ocidente e principalmente dos Estados Unidos da América, o inimigo figadal que os líderes soviéticos elegeram para simbolizar a luta do bem (o comunismo) contra o mal (o capitalismo) que os líderes soviéticos diziam estar travando.
Quando Gorbachev finalmente chutou o pau da barraca soviética e deu início á glasnot (abertura política e econômica do regime), as forças que o Partido Comunista haviam represado por sete décadas de opressão se derramaram por todos os cantos da União Soviética com a impetuosidade das águas de uma represa dinamitada. E em menos de dois anos o imenso império que os russos haviam construído com sua ideologia ruiu. Hoje a Rússia pratica uma economia capitalista, dominada pelos antigos líderes da KGB, que "escolhe" quem pode ser empresário e os financia. Mais ou menos como o Brasil da ditadura militar e a China dos dias de hoje.
Por isso não foram muitos os russos que saíra, às ruas neste sete de novembro para lembrar a revolução bolchevique. Isso significa, que para as novas gerações o comunismo já é uma peça de museu. Mas a ideologia de Marx, Engels, Lenin e seus camaradas ainda continua a seduzir muita gente. Eram muitas as bandeiras de partidos de esquerda nas ruas de Moscou, principalmente de países da América Latina. Muitas delas do Brasil. Lá estavam as bandeiras vermelhas do PT, do PC do B e outras quinquilharias ideológicas do orfanato que Lenin, Stalin e seus camaradas do Partidão deixaram pelo mundo, depois de mortos. Mortos muito mais por obsolescência e ineficiência do que por causas naturais.
Como dizia Gorbachev, se nem os alemães conseguiram fazer o comunismo dar certo, quem será capaz de o fazer? Os velhos dinossauros da esquerda latina-americana devem pensar que são. Porque continuam a sonhar com um regime desses para os seus países. A propósito, quem pagou as despesas para que esses jurássicos líderes pudessem comparecer á nostálgica festa dos órfãos de Lenin?
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 08/11/2017
Alterado em 08/11/2017