PACTO COM O DEMONIO
O imblóglio criado pelo presidente Temer com a nomeação da deputada Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho reflete bem a degradação moral a que chegou o sistema político brasileiro. Ninguém se pergunta se a “Surfistinha” que o notório corrupto Roberto Jefferson está querendo impor ao Planalto como Ministra do Trabalho é qualificada para o posto e poderá ser de alguma utilidade para o país. Tudo é valorado pelo lucro político que se pode tirar dessa indicação. Troca-se um importante cargo da República por 17 votos para aprovar um projeto mutilado de reforma previdenciária, que mal arranhará o verdadeiro cerne do problema, que são os privilégios dos mandarins da República, encastelados em suas torres de marfim, plantadas principalmente nos poderes Judiciário e Legislativo, sem falar nas castas militares, que transferem soldos para seus herdeiros, como se estes fossem direitos hereditários.
Falo com conhecimento de causa, pois sou funcionário público aposentado há dezoito anos. Vivi todo esse tempo á custa do erário público. Já recebi pelo menos o dobro do que contribui para a previdência nos meus 38 anos de serviço. Fui praticamente expulso da diretoria do meu sindicato por defender a proposta de Fernando Henrique Cardoso, de cobrar contribuição dos aposentados, pois achava injusto se aposentar com salário integral e continuar tendo, sem nenhuma contraprestação, os mesmos rendimentos da ativa.
Por conta dessa degradação uma importante pasta ministerial pode passar a ser administrada por uma arrivista desqualificada, que mal sabe falar a língua pátria. Tudo porque um presidente desprestigiado e sem rumo precisa fazer negócio com um partido de quadrilheiros como o PDT, chefiado por um político que já cumpriu pena por corrupção e outros mal feitos.
Nem imposta o fato de que a “surfista” do Temer, se ele conseguir dobrar o Judiciário e empossar a mocinha, vai ficar menos de um ano na pasta e mesmo que quisesse e pudesse, não vai ter tempo de fazer absolutamente nada. Até porque, sendo ano de eleições, a única coisa que ela poderá fazer (e certamente fará se assumir o cargo) será ações no sentido de ajudar a eleger ou reeleger comparsas para o fortalecimento da gang jefersoniana.
A tal reforma previdenciária que Temer quer fazer já está tão desidratada, que se for aprovada não será mais que um esquálido rato a sair do útero da montanha. O próximo governo terá que fazer outra, mais profunda, se quiser, de fato, corrigir as distorcidas curvas de desigualdade econômica e social que esse sistema perverso provoca na economia deste país. No momento é questão de se perguntar: vale a pena vender a alma por um preço tão vil? Temer parece pensar que sim. Ele, um intelectual oriundo das melhores universidades do país, talvez se ache o Fausto de Goethe. Só que Fausto foi redimido pelo amor. Amor que Temer parece não ter. Pelo menos não pelo povo que ele deveria governar. Pois se tivesse enfrentaria o diabo ao invés de fazer pacto com ele.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 01/02/2018
Alterado em 01/02/2018