A POESIA DA RELATIVIDADE
Se podemos sentir o nosso coração bater
Isso diz que nós ainda estamos bem vivos.
Se Deus lhe deu um dia mais para viver
Não o gaste com pensamentos negativos.
Respire fundo,encha o peito, erga a fronte ,
No que você crê, isso mesmo é o que terá.
Jesus disse ─Se tiver fé, diga a este monte:
Sai daqui, lança-te ao mar: e ele obedecerá.
A vida é justa e só nos dá o que pedimos
Nunca mais nunca menos que o acordado;
E os acordos somos nós que os redigimos.
Então peça á vida tudo que ela pode lhe dar
E vá em frente, mas não espere aí sentado;
Pois ela dá: ─ mas você tem que ir buscar.
A capacidade de pensar é uma dádiva de Deus, que é concedida a uma espécie em particular: a espécie humana. Talvez Deus tenha nos premiado com essa distinção justamente para poder contar com uma força executiva para a construção do universo. Essa é a minha crença particular. Vejo Deus como um planejador que pensa o universo e o constrói através de nós, que somos os seus pedreiros. O problema é que nem sempre entendemos os planos dele. Ás vezes pensamos que Ele quer uma coisa quando, na verdade, sua vontade é outra.
Os filósofos gnósticos diziam que Deus “pensa” o universo e nós, os seus pedreiros, o construímos. Aliás, acho que foi para isso que Ele nos selecionou entre as espécies que colocou no mundo e nos confiou essa missão. Pensando assim, parece lógico que Ele tenha incluído, de alguma forma, no nosso gabarito biológico, um “programa” específico que nos leva a procurar naturalmente as informações que precisamos para organizar nossas vidas em um processo de evolução real e ascendente, que tem por objetivo aperfeiçoar cada vez mais a nossa capacidade de resposta.
Nós não somos o que somos por força de qualquer elemento externo, alheio à nossa vontade e que está além do nosso controle. Nós somos as criaturas que aprendemos a ser, por conta de “programas” implantados em nosso sistema neurológico, os quais, além de determinar as escolhas que fazemos na vida, também regulam o nível de habilidade com que agimos para executar nossas ações. É assim que as pessoas escolhem suas opções sexuais, da mesma forma que seus hábitos alimentares, suas profissões, seus modelos de carro, suas roupas, etc. O “programa” que alimenta esses tipos de comportamento existe em todas as pessoas, machos e fêmeas indistintamente, pois no homem e na mulher, originalmente, são mínimos os caracteres que os distinguem, e faz com que seus organismos se formem com um sexo ou outro.
Somos todos originários de uma mesma matriz biológica e portanto, de origem, temos a mesma conformação. É o mundo, o ambiente em que vivemos, as informações que recebemos, e principalmente a forma como as interpretamos que fazem as diferenças que existem entre nós. Cada um é o que é devido a forma como "sente" o mundo.
Por isso, quem “escolhe” ver o mundo por diferentes ângulos de visão sempre encontra diferentes formas de lidar com as dificuldades que ele apresenta. Quem se cristaliza em um único ponto de vista terá, naturalmente, dificuldade para encontrar caminhos num mundo que muda de conformação a cada minuto.
Tudo que precisamos para viver, e viver bem, está no mundo. O problema é que, geralmente nós criamos um ambiente que gira em volta do nosso próprio ego e nos recusamos olhar para o que existe para além dele. E assim ficamos como o sujeito daquela fábula que gastou a fortuna e a vida toda procurando pelo mundo aquilo que estava enterrado no próprio quintal. Paulo Coelho escreveu um belo conto (O Alquimista) com essa fábula e ganhou muito dinheiro reconstruindo uma história que os árabes já contavam há mais de mil anos.
Esse é um belo exemplo de uma nova visão reconstruída sob uma estrutura antiga. Vicente de Carvalho também escreveu um sugestivo soneto a respeito dessa incapacidade que, ás vezes, tolda a nossa visão e nos impede de ver as oportunidades de ser feliz.
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim : mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Triste constatação de uma verdade que é não apenas filosófica, mas neurológica mesmo. Procuramos tanto a felicidade em lugares distantes de nós mesmos que esquecemos de olhar para o nosso próprio quintal. E na verdade, nós não precisamos mudar muito de opinião, nem de mudar radicalmente o nosso modo de vida para obter melhores resultados do que aqueles que estamos obtendo. Nenhum de nós sabe o que Deus quer de nós. Nem o padre, nem o pastor, nem o xamã, o hierofante, o pai de santo, o vidente, ou seja lá quem for que se arrogue no papel de oráculo. Nós só encontraremos as combinações certas para a nossa vida se fizermos as experiências certas. A vida é pura química. Quem estuda, quem procura obter as informações corretas antes de tentar a experiência corre menos perigo de explodir o laboratório ou envenenar a si mesmo e aos seus próximos. E ás vezes, basta a mudança de posição entre um elemento da cadeia de reação para que se encontre a fórmula certa.
É verdade que a vida dá, mas é preciso que a gente vá buscar. Mas isso não quer dizer que a gente tenha que esquadrinhar o mundo inteiro à procura da felicidade, da sabedoria, do tesouro, do amor, seja lá o que for o nome que queiramos dar ao resultado pretendido, como fez o personagem do conto árabe que Paulo Coelho adaptou. Um outro provérbio, não sei se árabe ou chinês diz: “não queira ensinar o caminho para ninguém sem antes dar muitas voltas em redor da sua própria casa.”
Então, as vezes, basta sentar num lugar diferente do sofá para que o enfadonho programa que a gente vê na TV todos os dias pareça ter ficado diferente. E a gente passe a gostar mais, ou menos, dele. A felicidade também é assim. As vezes, é apenas questão de ponto de vista.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 05/03/2018
Alterado em 05/03/2018