AUDAZES E MALDITOS
Audazes e malditos é o título brasileiro de um faroeste dos anos sessenta dirigido pelo mestre do gênero Jonh Ford. Os malditos do filme, se me lembro bem, eram os bandidos que matavam, roubavam e faziam todo tipo de maldade, e os audazes eram aqueles que os perseguiam e procuravam fazer justiça, impedindo que os inocentes acabassem pagando pelos crimes que os bandidos cometiam. Como os velhos filmes de Hollywood sempre foram feitos em cima de arquétipos, esse também foi. No fim o mocinho vence o bandido e o bem triunfa sobre o mal.
Seria bom se na vida real também fosse assim. Se o bem sempre triunfasse sobre o mal. Principalmente no Brasil. Aqui a realidade imita a arte e nem sempre pelo lado bom. Um exemplo disso foi a ridícula, caricata e indecorosa seção do Supremo Tribunal Federal da última sexta-feira, que se propôs a julgar o pedido de habeas corpus formulado pelo ex-presidente Lula. Foi um espetáculo circense dos mais lamentáveis. Tudo estava preparado. Na noite anterior um dos defensores do Lula, Sepúlveda Pertence, visitou a presidenta do Supremo, Carmen Lúcia, em reunião privativa. Pode-se imaginar o que foi tratado nessa reunião privativa. Aliás, Pertence também já vestiu a veneranda toga dos olímpicos magistrados da Corte Suprema. O que aconteceu foi o que se viu. Os dignos ministros gastaram a seção inteira discutindo uma preliminar que poderia ser resolvida com cinco minutos de argumento para cada um. E lá pelas tantas, um dos ministros (não por acaso o atrapalhado Marco Aurélio Mello) pediu para se ausentar porque tinha um compromisso! E por causa disso a presidenta da Corte Suprema, que até o dia anterior se dizia impermeável à pressões, suspendeu a seção. Concomitantemente, o advogado do Lula pediu uma tutela antecipada para que seu cliente não seja preso até o julgamento do mérito do habeas corpus.
Só mesmo sendo muito ingênuo para não desconfiar que já estava tudo orquestrado. Se Sepúlveda Pertence não levou esse enredo na noite anterior para a Dra. Carmen Lúcia não digo nada. E o final parece já estar preparado. No dia quatro de abril, quando o mérito da petição for julgado, os digníssimos magistrados do Supremo Tribunal Federal irão voltar atrás no seu entendimento, proferido cerca de dois anos atrás, de que um réu condenado em primeira e segunda instância já pode começar a cumprir a pena sem esperar o trânsito em julgado da infinidade de recursos que o nosso sistema judicial permite. Tudo porque, na fila dos condenados pode ser encontrada uma penca de “amigos” desses magistrados. E eles serão presos se esse entendimento for confirmado.
No circo do Supremo Tribunal Federal tem de tudo. Até um bobo da corte. Fiquei surpreso com a cara que o Ministro Barroso fez quando a maioria da Corte aprovou a interrupção da seção e a concessão da liminar para que o Lula não fosse preso. Parecia que ele era o único que não tinha sido avisado da farsa.
Nesse circo os palhaços somos nós. Resta saber quem são os audazes e quem são os malditos. E quem, por trás da cena, está dirigindo tudo isso.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 26/03/2018