A Rede Globo anda mostrando vídeos de brasileiros de todos os cantos dizendo que tipo de país eles querem. De cada dez, pelo menos sete falam que querem um país sem corrupção. O índice dos depoimentos com esse conteúdo vem principalmente do norte e do nordeste, onde o Lula tem mais de cinquenta por cento das intenções de voto.
Estranho paradoxo. Lula está na cadeia, condenado justamente por corrupção. E o PT tem sido acusado de promover o maior escândalo de corrupção de todos os tempos no Brasil. Por outro lado, dos líderes nas pesquisas para governadores, senadores e deputados, boa parte está na mira da Lava a Jato e de outras ações da polícia e do MP. Collors, Calheiros, Alves, Jucás, Vieira Lima, Barbalhos, Sarneys, Garotinho, Lobão e outros da mesma laia, mantém a preferência do eleitor. Não dá para entender. A opinião de um nordestino, amigo meu, a respeito disso, professor de uma universidade da Paraíba, me fez lembrar O comentário de uma costureira, amiga da minha mãe, que costumava remodelar vestidos velhos e vendê-los como modelos novos: “só é novo o velho que foi remodelado” dizia ela. Ele me disse que no nordeste o PT e outros partidos de esquerda substituíram os antigos coronéis no imaginário do povo. Não que os velhos coronéis tenham perdido o poder, mas apenas mudaram de discurso e de visual. Ao invés das antigas suíças, bigodões cofiados, perneiras, chapelões e ternos de linho branco, eles hoje usam barbas á moda Lula e Fidel e vestem camisetas vermelhas. Os coronéis que hoje manipulam o comportamento dos eleitores são funcionários das repartições públicas e dirigentes de ONGs que o PT espalhou por todo o país, formando uma capilaridade que mantém o sangue da ideologia petista fluindo pelas regiões do agreste com a força do São Francisco na época das cheias.
Lembrei-me da novela escrita por Dias Gomes, Roque Santeiro. Um santo, mesmo falso, depois de mitificado pela crendice popular, nem se provando que não passava de um grande vigarista, jamais deixará de ser considerado santo e muita gente acreditará que ele é capaz de fazer milagres. Lembrei-me de Jorge Amado, comunista de carteirinha, que odiava o instituto do coronelismo. Já velho e próximo da morte confessou sua desilusão com a política. Recordo que ele usou, como pano de fundo para a história da morena Gabriela, o conflito entre o antigo e o novo pensamento político de Ilhéus. Ao ser deposto do poder, o velho coronel Ramiro Bastos diz a Mundinho Falcão, o jovem que o derrotou: “você não tem nada de novo. Você, na verdade, só quer ser como eu. Você quer o meu lugar.”
De fato, parece que nada muda neste país. Os novos coronéis já não usam mais currais para arrebanhar eleitores. Distribuem vales-gás, vales-transportes, bolsas-famílias e outras benesses. Usam ternos, e ás vezes, camisetas vermelhas, mas seus corações e mentes continuam verdinhos como as notas da moeda que todos eles adoram
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 25/08/2018