A ESCOLHA DO BOLSONARO.
Dois amigos estavam pescando na beira de um rio. Passaram um dia muito agradável e a tarde já estava chegando, trazendo os mosquitos. Eles acenderam uma fogueira e queimaram ervas para afastá-los. Passaram também repelentes. Mas por mais que fizessem sempre ficava um ou outro mosquito para incomodá-los. Havia um que era particularmente insistente. Por mais que fosse afastado com tapas, abanos, baforadas de fumaça, ele sempre voltava e pousava no nariz de um deles. Irritado com o inseto um dos amigos resolveu dar cabo de vez dele. Pegou um pedaço e pau e ficou a espreita, esperando o mosquito pousar para matá-lo. Quando ele pousou o sujeito desceu o cacete nele. Matou o inseto importuno e quebrou o nariz do amigo.
O pressuposto de que toda intenção é positiva é um axioma deduzido pelos praticantes de PNL (Programação Neurolinguística), técnica desenvolvida por Richard Bandler e John Grinder, dois professores da Universidade de Palo Alto, Califórnia. Essa técnica, em síntese, trabalha com a ideia de o nosso cérebro é programado da mesma forma que um computador, usando a linguagem dos sentidos. Isso quer dizer que nossos sentimentos, pensamentos, memórias, emoções, enfim, tudo que constitui o nosso “software”, ou seja, os nossos hábitos, crenças, tendências, são “programas de comportamento”, instalados em nosso sistema neurológico por uma linguagem que se traduz por cores, sons e sensibilidades, que o nosso cérebro codifica e traduz na medida das nossas necessidades de vida. Isso significa que todo comportamento, mesmos os mais aberrantes e perniciosos (do ponto de vista dos outros), para quem os pratica, são sempre inspirados por uma intenção positiva. Quer dizer, se um ladrão invade uma casa, mata seus habitantes e rouba tudo de valor que nela há, é porque, naquele momento, seus “programas de comportamento” lhe disseram que aquela era a melhor coisa a fazer.
Essas especulações me vieram á cabeça em razão da questão levantada pelo presidente Bolsonaro, a respeito do Programa Mais Médico. Tanto de um lado (o do PT, que viabilizou o Programa) quanto do Bolsonaro, que com suas críticas, acabou desmontando-o, as intenções são francamente positivas. As populações que vivem fora dos grandes centros urbanos realmente foram beneficiadas com esse programa. É verdade que é muito difícil contratar profissionais da saúde para trabalhar nesses grotões. Para quem quer fazer carreira é praticamente um suicídio profissional. Já os cubanos, profissionais doutrinados para servir à uma concepção de estado autoritário e castrador de toda noção de individualidade, se prestam bem a isso. Bolsonaro também tem razão. De fato, são intoleráveis as condições em que esses profissionais trabalham no Brasil. Não podemos compactuar com regimes de escravidão, sejam eles praticados por governos ou particulares, e em nome de que ideologia for. Assim, ambas as intenções são positivas. O resultado pode não ser. Tudo se resume numa questão de escolha. Eliminar um mosquito importuno, ou conviver com um nariz quebrado.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 20/11/2018